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Deduzindo a Ação Humana

Tempo de Leitura: 5 minutos

Pense em um quadro negro. Pense que esse quadro negro poderia não ser negro ou, para fins mais técnicos, que ser negro é um atributo diferente de não ser. Pense agora que uma vez que enxergamos um quadro negro e a possibilidade de não ser, enxergamos simultaneamente uma unidade (o quadro negro) e uma soma, a existência da ideia de uma outra entidade chamada “não-quadro negro” e a existência do próprio quadro negro em si. Agora, repare que a existência de mais de um elemento dá origem a duas ideias, a ideia de uma divisão e a ideia do todo.

A ideia da divisão só parece fazer sentido em virtude da ideia da existência do todo, assim prossigamos com o todo. A impressão de que do início do texto para agora existem uma série sucessiva de eventos, quais seja a existência de pensamentos que estão sendo ordenados para atender aos requisitos do texto dá origem direta a necessidade de ponderação da essência dessa continuidade. Para fins de prosseguimento no texto, chamarei essa impressão da sucessão de eventos de tempo.

Direi também que da existência dessa sucessão de eventos temporais, abstrai-se que alguns dos eventos dos quais nos referimos estão em momento diferente dos elementos que estamos pronunciando agora mesmo. Tem-se a ideia de passado e presente, que, associada a ideia de que as coisas tem continuidade, em virtude da própria relação entre passado e presente, remonta a própria ideia de futuro!

A ideia de que alguns pensamentos poderiam ser feitos em um determinado futuro, ou seja, padrão possível de continuidade entre o presente (que está para se colocar, ou melhor, está sempre se colocando) e o futuro, nos dá a noção de que exista o real, aquilo que está se colocando imediatamente e os elementos possíveis do real.

Desses elementos possíveis do real, temos que um subconjunto desses elementos melhor representa os pensamentos reais, tais quais eles são. A noção de melhor representação, ou seja, afinidade para com o real, traz em si a ideia de um ideal, o nosso primeiro elemento axiológico.

Uma questão que surge da própria noção de que existe algo tal qual uma “melhor representação” ou uma “maior afinidade”, é que existe a necessidade de um ser que esteja de fato comparando esses dois elementos. Convencionamos chamar aqueles seres que conhecem diretamente a noção de ideal diferente da noção de real de seres racionais. Aqui ainda não há a noção do eu, visto que essa possibilidade de afinidade não é uma possibilidade de consciência, mas de ato puro.

Esses seres, que perceberam em si a própria noção de que alguns pensamentos foram feitos diferente de não terem sido e que alguns pensamentos possíveis de serem feitos são mais ou menos próximos do real na medida em que o representam melhor, passam a então observar cadeias de pensamentos e a ponderar por sobre elas.

A noção de que um determinado pensamento possui uma sequência maior ou menor de eventos, dará a estrutura de eventos uma noção de ponderação entre pensamentos. Essa ponderação entre pensamentos de diversas sequências se origina pelo próprio ato original de pensar. Esse pensamento dá origem a noção de que algumas coisas foram pensadas diferente de não serem. A conexão do ser com o ato pensado dialeticamente dá origem a própria convicção acerca de uma causalidade entre o agente e os pensamentos colocados.

Esses pensamentos efetivamente colocados são causadores de outros pensamentos, na medida em que não se pode retroagir a um estado de não pensados, sendo assim, todo pensamento influencia em toda a cadeia de pensamentos. Daí surge a essência do conceito de determinação. A percepção de um estado de causalidade oposto a um estado de determinação dá ao sujeito a substância do que podemos chamar de vontade.

A vontade diferente da não-vontade nos dá a ideia de dois tipos essenciais de elementos, quais sejam os passivos e os elementos não-passivos. Na medida, em que, ainda que não tenhamos a compreensão de “ser humano”, no sentido mais ontológico da coisa, nós temos a ideia de que uma parcela das coisas não é passividade pura, na medida em que parecem produzir modificações no mundo (aqui ainda nem sequer estabelecido no sentido e contexto de um elemento dos sentidos) não eu-dependentes. Aqui estão inclusos inclusive os animais.

Quer a existência deles seja fruto ou não da sua cabeça, parece haver um conjunto paralelo de ponderações em relação a esses dois tipos de coisas. Defenderei aqui que, mesmo que seja tudo fruto de sua mente, você continua adstrito a essas condições aqui estabelecidas, quais seja o reconhecer de que algumas das coisas com as quais você se depara não são passividade pura.

Ou seja, você não os ativamente pensa. Para ver a razão dessa proposição, basta ver que o mistério da sua própria origem, é um elemento necessário dessa reflexão e que nos trará a própria compreensão do fenômeno da atividade. Analogamente, o percebemos da mesma forma que percebemos o pensar diferente de não pensar.

Da existência de coisas que não está sendo pensada e da existência de coisas pensadas, surge em si a mesma hierarquização trazida do real para o ideal. Aqui, passamos a enxergar a existência dos nossos pensamentos em oposição ao não pensado como forma de identificação de um conjunto ideal de coisas em si mesmo, não apenas como pensamento sucessivamente estabelecido em um possível tempo futuro próximo ao tempo presente que efetivamente aconteceu, mas também como um elemento externo ao próprio sujeito.

Essa distinção entre pensado e não pensado, na estrutura do possível e o pensado e o não pensado na estrutura da vontade é essencial, não podemos confundir esses conceitos. Eis que a vontade diferente da não vontade, como instrumento de hierarquização do pensamento no real dá origem a própria noção do eu. O eu ainda não estava aqui, o que estava era apenas o pensamento contextualizado na medida de uma emanação, de atos. Quebramos os atos quando quebramos a própria ideia do surgimento de conceitos de um não-ato, qual seja o não pensar.

Assim, dado a estabilidade do eu, como elemento derivado do ato, mas que possui em si a consciência do não-ato, temos a possibilidade sólida de uma compreensão do eu como uma compreensão do que ocorre com o eu, no sentido das coisas que são apresentadas na atualidade para o eu pensante. A ideia de que alguns pensamentos dão origem a modificações no cenário das coisas que não apenas não foram pensadas antes de sua colocação no cenário do eu, mas que estão ativas em si mesmas, nos levará a possibilidade de enxergarmos algo tal como um propósito pela hierarquização das modificações na medida da expansão dos pensamentos originais.

Aqui, vale explicitar uma teoria das emoções, ou da intencionalidade para com a própria configuração de pensamentos efetivamente escolhidos. Afirmarei a ideia da afirmação de pensamentos como uma assertividade de sucesso em relação a modificação pretendida, nesse sentido, temos algo que pode ser conhecido pelo conjunto de assertividades bem sucedidas de pensamentos (quer sejam pensamentos no sentido estrito, quer sejam pensamentos que deem origem a modificações físicas no real, assumindo uma teoria de mundo físico), a esse conjunto de assertividades bem sucedidas de pensamento chamarei de felicidade.

A felicidade é então tomada como o pensamento que ao se colocar no mundo, exerce a influência que pretendia, seja esse mundo o cenário do eu enquanto eu consciente ou do eu enquanto ser-em-um-mundo. A tristeza seria justamente a negação dialética desse conjunto de assertividades bem sucedidas de pensamentos que tentam modificar o conjunto de pensamentos reais colocados para o sujeito. Ou seja, a não-modificação.

Chamo aqui a ideia de propósito como a possibilidade do sujeito de assimilar um conjunto de elementos, quer sejam pensamentos, quer sejam elementos físicos para o adquirir de um estado de felicidade e chamo de meio, todo aquele instrumento utilizado para tal, seja uma ação corporal física, ou um pensamento. Digo, mais além, que ultrapassado o estágio em que o eu consciente ou que o ser-em-um-mundo percebem isso, não podem regredir a um estado em que não percebem, estando adstritos ao próprio cumprimento de propósitos. A felicidade condena os seres a agirem e àqueles que agem, convencionamos chamar de humanos.

A interação entre humanos que tem o propósito de ser um intercambio de pensamentos entre dois seres ativos para modificação dos estados particulares de pensamentos alheios é chamada de comunicação. Comunicação justamente por criar uma seara comum de ação entre aqueles dois humanos envolvidos, seara essa que, uma vez expandida, culmina naquilo que consumamos chamar de discurso, o todo das searas comuns de ação de determinados seres.

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