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Do Estereótipo ao Óbvio nas Criptomoedas

Tempo de Leitura: 4 minutos

Poucas considerações são mais relevantes para a confirmação do porquê de uma determinada preferência de consumo acontecer do que a demonstração dessa preferência enquanto fato social.

Pense o seguinte, existe uma parte significativa do nosso entender sobre as coisas que não é entender em si mesmo, mas antes de tudo é entender enquanto partes reais de uma vida social maior do que nós.

Como assim? Pense em uma saída para a praia. Como escolher a praia certa? Como podemos dizer qual praia irá melhor satisfazer nossos desejos? Muitas coisas estão escondidas de nós quando temos um desejo desse tipo.

Qual será a temperatura da água? Quanto custarão os pratos vendidos naquele dia? Quais serão as pessoas que estarão na praia naquele dia? 

Se você parar para pensar, mesmo numa experiência simples como essa de ir a praia, em geral sabemos menos do que se pensaria no primeiro momento sobre as condições objetivas relativas às decisões de consumo que fazemos. Então como tomamos a decisão de ir a uma determinada praia em específico e nos sentimos ok com ela? Essa decisão possui aquilo que nós chamamos de encurtadores da informação. São informações privilegiadas na teia de informação que possuem uma valorização social prévia. É parte integrante daquilo que nós chamamos de estereótipo. 

Assim, mesmo que alguém nunca tenha frequentado as praias de Fernando de Noronha, ouvirá sobre o quanto as águas são limpas, a comida é cara, o povo é hospitaleiro, os hotéis são luxuosos, embora cheios, e poderá tomar uma decisão de consumo baseado nesse estereótipo. 

Será que isso se aplica ao Bitcoin? Com certeza! Ativos monetários em geral são carregados de elementos não intencionais, são instituições no sentido mais pleno da palavra. O dinheiro é fundamentalmente não pensado, não dirigido e não instrumentalizado. Ele se forma pela forma como pessoas diferentes passam a fazer trocas e não por comandos centrais. 

Isso faz com que o peso relativo dos elementos tácitos como os encurtadores de informação sejam significativos. E temos um motivo muito significativo para acreditar que os encurtadores de informação irão sinalizar um cenário positivo para o Bitcoin. 

O Bitcoin é deflacionário. A moeda estatal é fundamentalmente inflacionária. Não temos motivos para acreditar que esse contexto mude nos próximos 20-30 anos. Isso fará com que as pessoas presenciem de forma real e imediata um cenário em que lentamente o Bitcoin vai aumentando seu poder de consumo e as moedas fiat vão diminuindo seu poder de consumo.

O estereótipo de que o Bitcoin é uma moeda mais forte se firmará. E da mesma forma que 90% do volume de usuários das praias está concentrado em uma parte pequena das praias (mesmo que os usuários não tenham vindo diretamente a frequentar as outras, o estereótipo terá um poder muito forte em firmar a adoção do Bitcoin em detrimento de outras criptomoedas).

Agora, qual o efeito prático disso? O que acontece quando um conjunto de pessoas armado com seus estereótipos e preconceitos começa a se unir em torno de um ativo?

Hoje um fenômeno encanta a cidade. Fenômeno novo e ainda assim tão reconhecível que chega a ser caricato. Uma multidão silenciosa, parte de uma revolução às avessas, está vivendo primeiro nas relações e nas decisões mais íntimas, depois na escolha de entretenimento e de suas relações profissionais e políticas e só então, quase que acidentalmente, no conjunto de decisões econômicas a vivência da revolução satoshi. 

Para ilustrar isso, é fácil. Basta vermos a quantidade de vídeos sobre criptomoedas que falam de como o Bitcoin mudou a vida das pessoas envolvidas. Não apenas no aspecto financeiro mais direto, mas em todos os aspectos secundários importantes. Quartos, congressos, estúdios, mochilas, roupas, músicas, documentários, votos, amigos, tatuagem, tudo parece ter espaço para um logo de alguma criptomoeda do momento. 

A olhos vistos, a revolução está se dando majoritariamente nesses aspectos secundários da vida de muitos dos indivíduos que não tem dinheiro para efetivamente comprar criptomoedas. O número de visualizações de canais e portais brasileiros de criptomoedas excede em muito o número de usuários das exchanges brasileiras. O número de pessoas que tem opiniões sobre as criptomoedas é muito maior do que o número de pessoas que tem carteiras de criptomoedas. 

O que isso significa pro usuário de criptomoedas que quer entender melhor sobre o processo de adoção dos cripto ativos na sociedade? Bem, enquanto é verdade que essa é uma forma natural de popularização de qualquer novo elemento de uma sociedade, basta lembrar de como a popularização da internet gerou barulho na mídia tradicional, também é verdade que esse fenômeno tende a esgotar-se. Como assim?

O momento chave em que teremos a convicção que as criptomoedas tomaram parte inescapável da sociedade não será no momento onde ele é visto como algo de nicho, mas o momento inverso, em que ele for visto como uma constante social tão absoluta que por sua própria intensidade não terá a capacidade de empolgar ninguém.

Afinal, quem é que se empolga com uma nota de 2 reais? Quem se empolga com a internet onde ela já está consolidada? A empolgação geralmente está naquilo que nos falta, naquilo que ainda iremos viver. naquela promessa ainda não atendida. E quando todos tiverem criptomoedas, o que faltará? Vejam só que curioso. É justamente o sucesso das criptomoedas que levará ao final da cultura que se desenvolveu ao seu redor.

Entender isso nos ajuda a entender melhor onde estamos. Nos ajuda a  entender que, por mais significativa que ela tenha se tornado na vida de muitos, a Revolução Satoshi ainda é embrionária. Ainda estamos nas primeiras fases de algo que irá se estender por toda a sociedade.

Quer integrar a Revolução Satoshi na sua vida? Comece a universalizar o impacto delas na sua vida até o ponto em que, tudo estando incluído nesse universo, as suas reflexões sobre as criptomoedas serão tão longas quanto é ir comprar pão na esquina com uma nota de 2 reais.

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