Universidade Libertária

Ponderações sobre as supostas soluções a crise do COVID-19

Tempo de Leitura: 6 minutos

Passamos por um momento conturbado da história da humanidade que dispensa apresentações. Nestes períodos ocorrem fenômenos sociais que nos fazem refletir. É o momento onde o estado se aproveita para aumentar sua receita, intensificar sua exploração e mais do que tudo, ganhar legitimidade e aceitação das pessoas. Neste curto artigo, irei demonstrar soluções falaciosas e como as pessoas não tem muita ideia do que é o estado.

Soluções mágicas

Sempre que surgem emergências, as pessoas buscam soluções mágicas, e recorrem ao estado para pô-las em prática. Fatores como a escassez de recursos, oferta e demanda, sistema informacional de preços e incentivos são completamente ignorados, isso porque o cidadão médio não tem muitos conhecimentos em economia (visto que não são incentivados a estudar isto na escola, por exemplo).

Tais soluções mágicas surgem porque as pessoas tendem a acreditar somente naquilo que elas vêem, no efeito imediato das ações econômicas. Aquilo que elas não enxergam, que se manifestam posteriormente, não são levadas em conta. Portanto as mesmas não tem uma visão muito ampla de causa e efeito.

Estado e o imposto

Nós, seres humanos, somos produtores de riqueza, utilizamos nosso tempo, inteligência e esforço físico para alterar um recurso natural e assim transformá-lo em um produto diferente do que nos foi dado pela natureza. Produzimos para consumir e assim sobreviver.

Por outro lado, em essência, o estado não produz, ele subtrai da produção dos indivíduos que o fazem por via de cobrança de impostos. Analisando bem este fenômeno, cobrar impostos é também cobrar produção (uma parte dela) física, pois a quantia direcionada aos impostos são obtidas por uma parcela de trabalho.

“O estado deve bancar os trabalhadores que ficarem em casa por conta do corona vírus”

É um equívoco pensar que o estado bancará trabalhadores que ficarem em casa, visto que ele não produz. O que ocorrerá é apenas o “retorno” da parte produzida do trabalhador que foi subtraída. O estado utiliza deste argumento de maneira sofista para as pessoas atribuírem bondade e compromisso com o povo a ele.

Portanto, o estado não está “bancando” as pessoas, não consegue estancar e muito menos solucionar o problema da ociosidade dos trabalhadores. E isto não pode ser mantido a longo prazo, pois se trata de um método insustentável, onde se propõe o consumo sem antes produzir, e nenhuma economia aguenta tais medidas. Isto pode causar uma escassez generalizada de produtos, e podemos passar fome.

Os preços, a oferta e a demanda

Os preços são estruturas de mercado que são estabelecidos por interações daqueles que querem vender (produtores) e daqueles que querem comprar (consumidores). Em outras palavras, os preços são determinados pela oferta e demanda de um determinado bem.

A linha vertical representa o preço, a linha horizontal, a quantidade de produção, a linha azul representa a demanda, a procura das pessoas pelo produto com a variância do preço x quantidade, a linha vermelha representa a oferta, a produção de um bem de acordo com a variância do preço x quantidade. Repare que quanto maior é o preço, maior é a produção, e menor é a demanda. A convergência da curva da oferta com a curva da demanda representa o equilíbrio de mercado. Neste ponto, a oferta é exatamente igual a demanda, sendo assim, não sobra e nem falta.

Quando há abundância de um produto, isto é, quando há mais produtos do que a quantidade que os consumidores querem, as pessoas atribuem menos valor ao mesmo pela facilidade de encontrá-lo. sendo assim, os preços tendem a cair. Ambos os pontos de variação, tanto a oferta, quanto a demanda, ficam acima do ponto de equilíbrio.

Quando há escassez de um produto , isto é, quando há mais pessoas querendo comprar do que produtos produzidos, as pessoas atribuem mais valor ao mesmo, devido a sua raridade. Ambos os pontos de variação, tanto a oferta, quanto a demanda, ficam abaixo do ponto de equilíbrio.

Preços também funcionam como dados e informações. Se um produtor define um preço que esta acima da quantidade que os consumidores estariam dispostos a pagar, dizemos que neste produto não há demanda, sendo assim, a informação que o produtor recebe é de que consumidores estão dispostos a pagar menos, caso ele não queira mais prejuízos e não queira produtos ociosos e estocados ele deverá baixar o preço do produto. No caso de escassez, o produtor recebe a informação de que as pessoas querem consumir mais, sendo assim, produzir mais pode ser lucrativo.

A reação do mercado de álcool gel ao corona vírus

É um fato que a doença se espalhou muito rápido, e logo passou a ser uma pandemia. Visando a esterilização da doença, as pessoas passaram a buscar álcool gel, consequentemente demandando-o muito mais. O problema é que a produção de tal produto não estava preparada para um aumento tão grande da demanda, causando escassez, ou seja, as pessoas passaram a demandar mais do produto do que tinha no mercado, o que gerou um aumento exponencial nos preços.

A curva da demanda se desloca para a direita devido ao aumento da procura. O ponto de equilíbrio do mercado antes era de Q1 ao preço P1. Com o aumento, o preço de equilíbrio passou a ser de Q2 ao preço P2. Ou seja, houve um aumento nos preços.

“O estado deve controlar o preço do álcool gel”

Há um argumento muito comum, onde as pessoas recorrem ao estado para definir um preço máximo a um produto escasso no mercado para que o produtor “não lucre com tragédia”. Como vimos, os preços não são simplesmente definidos pela vontade do produtor, e sim uma relação entre produtor x consumidor. Quais serão as consequências da imposição de um preço máximo compulsório (definir o preço máximo abaixo do preço de mercado, do ponto de equilíbrio entre a oferta e a demanda)?

A curva da oferta representa também, os custos de produção de um bem, antes do imposição do preço compulsório, o ponto de equilíbrio estava a um preço de P1 a quantidade Qx. Após a imposição, a curva da oferta foi de P1 para P2 e de Qx para Q1, ou seja, apesar do preço ter caído, muitos produtores deixaram de produzir por não ter condições para tal, visto que agora seu custo será maior que o preço vendido, sendo assim, para produzir, o produtor teria de se manter no prejuízo. Isso desencentiva que novos produtores entrem no mercado e comecem a produzir mais.

Por outro lado, a curva da demanda se moveu de P1 para P2 e de Qx para Q2, ou seja, ao baixar o preço, a demanda aumentou, pois agora mais pessoas com menor renda terão acesso ao produto, que está com o preço menor. A diferença entre a diminuição da oferta e o aumento da demanda resulta em escassez, pois há mais pessoas que querem consumir do que pessoas que oferecem o produto. Repare que controle de preços favorecem grandes corporações que podem oferecer um produto ao preço menor ou igual ao preço máximo.

Não devemos recorrer ao controle de preços

Pedir controle de preços só irá gerar ainda mais escassez, como demonstrado anteriormente. Preço baixo incentiva as pessoas a comprarem em quantidades altas, o que deixa muita gente sem o produto. O preço alto é temporário, visto que este fenômeno envia uma mensagem para os produtores de que as pessoas querem consumir mais álcool gel, sendo assim, muita gente irá tentar produzir o produto (como está acontecendo agora), e isso vai expandir o mercado de álcool gel, a curva da oferta se deslocará para a direita e o preço de equilíbrio irá reduzir.

Nas proporções que a demanda deste produto estão, naturalmente este processo seria relativamente rápido, portanto devemos evitar distorções informacionais no mercado de álcool gel.

Conclusão

Em períodos sombrios como este devemos ser racionais e tentar maximizar os resultados dentro do possível, e não recorrer a soluções mágicas e populistas. Todos nós queríamos que tudo fosse simples, e soluções como estas funcionassem, porém a realidade é dura. Ser histérico para soluções racionais não vão te levar a lugar alguém. Aqui está se discutindo soluções para caso de vida ou morte, portanto seja racional.

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