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Quem é Paulo Kogos? Ele é um Aliado da Liberdade?

Tempo de Leitura: 5 minutos

Paulo Hugenneyer Kogos é um youtuber com cento e quarentena mil inscritos em seu canal, empresário e influenciador digital brasileiro, mais conhecido por seu ativismo em prol da filosofia conservadora e pelo anarcocapitalismo, causas as quais falarei mais adiante. Um de seus maiores manifestos no momento é contra o isolamento social e o lockdown durante a pandemia do COVID-19, a qual mudou o mundo. Kogos também mudou um pouco seu comportamento que, de antemão, era contra políticos de todos os tipos, pois hoje declara apoio estratégico à permanência do presidente da república brasileira Jair Bolsonaro.

Neste artigo, pretendo considerar a trajetória do youtuber Paulo Kogos, bem como levantar as questões que têm sido perguntadas a respeito ao pensamento de Kogos. Afinal, sua posição e trajetória até aqui, onde sabemos, prova que ele é aliado da liberdade e está disposto a bater de frente com o Estado? Isso deixa, certamente, alguma dúvida. É por essa razão que aqui discutirei as principais contribuições de Kogos, bem como irei expor sua decadência em relação à filosofia libertária.

Nessa direção, é imprescindível destacar seu papel fundamental na luta pela liberdade na história do libertarianismo brasileiro. Desde que fundou seu canal, em 2010, ele vem pregando a filosofia libertária [1], porém, com algumas diferenças entre libertários comuns. Isto porque ele se declara católico romano, como também um anarcocapitalista conservador. Em 2019, Kogos assumiu não ser um libertário, e fez isso por meio de suas redes sociais, como o Facebook, sem justificar o porquê. Mas ele se retratou, pessoalmente, comigo, dizendo que aquilo se passava apenas de uma bravata, um ato de desabafo. Ele é, assumidamente, um libertário.

Em alguns de seus debates dos últimos anos, o empresário e youtuber debateu com diversas outras figuras do YouTube. Em uma sabatina, que aconteceu próximo ao natal de do ano de 2018, ele declarou que não concorda com os argumentos éticos dos austríacos de Hans-Hermann Hoppe, autor da ética argumentativa, e Murray N. Rothbard, autor do Princípio de Não-Agressão [2]. Isso não é novidade para ninguém, tanto para quem acompanha em seu canal do YouTube, quanto em suas redes sociais. E também não é nenhum problema, tendo em vista que estes são argumentos considerados refutados e saturados no meio libertário, premissa a qual discordo [3], mas que é assunto para outro momento.

Além disso, ele escreveu artigos cruciais, que contribuíram em conteúdo para o movimento libertário, como, por exemplo, seu artigo “A Falácia da Curva de Laffer”, publicado pelo Instituto Rothbard. Indo mais a fundo em sua trajetória, ele refutou em peso muitas das falácias estatistas que existem, bateu de frente com keynesianos, com liberais, e faço aqui menção honrosa ao MBL – Movimento Brasil Livre, e muitos outros.

Uma das coisas que mais merecem destaques aqui é seu compromisso com o critério religioso, que o leva a ter algumas desavenças com libertários jusracionalistas e pioneiros do PNA. A explicação é que os documentos da igreja católica apostólica romana acreditam que, se o Estado obrigar alguém a cumprir sua lei religiosa, você estará ajudando essa pessoa a entrar no céu. No entanto, para Kogos isso é bem diferente. Ele acredita que devemos combater a ameaça islâmica, nas palavras dele: “Eu não quero combater religião diferente. O islã é uma ameaça de segurança, e é por isso que defendo as Cruzadas, mas inclusive defendo Cruzadas ecumênicas: todo mundo aliado contra o islã” [4]. O islã é uma doutrina político-jurídica dotada de fanatismo sectário, segundo ele. Todavia, ele defende que não quer usar a força contra nenhuma religião sectária quanto ao islã, apenas quer convertê-los, e não usar a força.

Outro ponto importante é que sua crença no jusnaturalismo vem da origem filosófica medieval, e não na filosofia contemporânea e continental da Escola Austríaca, sendo mais um fator que o diferencia dos austríacos. Contudo, ele é fielmente um militante da economia austríaca, e se declara um economista austríaco – o que não é uma mentira. Isto porque Kogos sempre contribuiu firmemente com os argumentos austríacos da teoria do valor subjetivo, da preferência temporal, do cálculo econômico e da teoria do direito de que o imposto é uma forma de agressão, bem como o modus operandi do Estado em geral.

No entanto, seu temperamento elevado custou a ele sua imagem. Alguns dos principais acontecimentos da militância de Kogos, no movimento libertário, foi quando sua conta do Twitter foi bloqueada pela própria plataforma, após se manifestar em relação a morte do jornalista Ricardo Boechat, em uma queda de helicóptero, aos 66 anos, dizendo que ele deveria se arrepender de ser ateu e comunista, pois, do contrário, iria para o inferno [3]. Falas problemáticas como esta custam, não apenas a imagem de Kogos, mas também a imagem dos libertários como um todo. Isso porque, apesar de todos sermos apenas indivíduos e, sendo assim, responsáveis apenas por nossos próprios atos e discursos, muito se generaliza a respeito de um meio. E isso é um ponto fraco de Paulo Kogos.

Nesse sentido, o ponto mais importante daqui que nos comprometemos em investigar, e que, dessa maneira, não pode passar despercebido, é o fato da mudança de pensamento do youtuber em relação aos políticos. Apesar de se autodeclarar anarquista, Kogos tem uma preferência assumida por Jair Bolsonaro por conta do presidente ser contra o isolamento social e o lockdown, posição a qual Kogos se identifica. Ele chegou a defender que “quem está a contra Bolsonaro está contra Jesus”, em um de seus vídeos. Mas ele me esclareceu, pessoalmente, que quis dizer que “quem está a favor o lockdown está contra Jesus”.

Por conta disso, muitos libertários se tornaram céticos em relação a ele, apesar de ser um ícone do libertarianismo. Com essa desconfiança, meu ceticismo me leva a crer que hoje em dia o mesmo está mais, aparentemente, para estatista do que para anarcocapitalista, pois os valores libertários nos levam a crer que políticos são parasitas e organizações mafiosas, prontos para atacar as ovelhas que lhes servem por coerção, como lobos famintos na pele de ovelhas, e como se fossem indivíduos pacíficos. Infelizmente, Kogos foi mais um que caiu na narrativa dos lobos em pele de ovelha.

Independente de Bolsonaro estar ou não certo em relação às medidas da pandemia, o qual se fizesse o Estado só prejudicaria mais a vida das pessoas, o youtuber foi para o lado errado. Isso é como Anakin Skywalker ao ser tomado pelo lado negro da força – e quem assistiu a saga Star Wars, da Lucas Film, entende muito bem.

Portanto, fica claro que Paulo Kogos, o nosso ícone da liberdade, nos surpreendeu bastante em relação ao seu posicionamento, que deveria ser de ceticismo político, mesmo quando os políticos afirmam coisas próximos do que nós, libertários, por vezes, declaramos abertamente contra. Resta apenas separar o joio do trigo e filtrar o que Paulo Kogos contribuiu positivamente.

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NOTAS

[1] A filosofia libertária é um pensamento que defende a não agressão à indivíduos pacíficos, tendo como justificativa a lei natural de propriedade privada.

[2] Influenciado por Ayn Rand.

[3] Para entender meu pensamento sobre o assunto, leia meu artigo “Uma Nova Justificação do Direito Natural”, disponível na bibliografia deste artigo e que foi publicado na Universidade Libertária.

[4] Esclarecimento de Paulo Kogos diretamente para mim, nas redes sociais.

REFERÊNCIAS

Pesquisa: “Paulo Kogos”. Feita em 23 de Março de 2021. Acesso em: <www.pt.wikipedia.org/wiki/Paulo_Kogos>.

Canal do Youtube “Paulo Kogos”. Pesquisa feita em 23 de Março de 2021. <https://www.youtube.com/user/paulokogos/videos>.

Ricardo Boechat, jornalista, morre aos 66 anos em queda de helicóptero em SP. Jornalismo Globo. Acesso em: <https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2019/02/11/ricardo-boechat-jornalista-morre-aos-66-anos-em-queda-de-helicoptero-em-sp.ghtml>.

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