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Uma Introdução às Falácias

Tempo de Leitura: 7 minutos

TÓPICOS

  1. HISTÓRIA
    1. O Que é Uma Falácia?
    2. Exemplos de Falácias
    3. Ad Hominem
    4. Falácia Genética
    5. Apelo à Ignorância
    6. Questão Complexa
    7. Composição
  2. PARADOXOS
    1. O Que é Um Paradoxo?
    2. Exemplos de Paradoxos
    3.  Auto-Referência
    4.  Contradição
    5.  Circularidade Viciosa ou Regressão Infinita
  3. FERRAMENTAS CONCEITUAIS
    1.  Navalha de Occam
    2.  Navalha de Grice
    3.  Navalha de Hume
    4.  Navalha de Halon
    5.  Navalha de Hitchens
  4.  DIALÉTICA ERÍSTICA

1 HISTÓRIA

O primeiro estudo sistemático conhecido das falácias foi feito por Aristóteles em seu “Refutações Sofísticas”. Ele listou treze tipos de falácias. Após a Idade das Trevas, as falácias foram novamente estudadas sistematicamente na Europa Medieval. É por isso que tantas falácias têm nomes em latim. O terceiro grande período de estudo das falácias começou no final do século XX, devido ao interesse renovado das disciplinas de filosofia, lógica, retórica, psicologia e inteligência artificial.

1.1 O Que é Uma Falácia?

Duas concepções concorrentes de falácias são que elas são crenças falsas, mas populares, e que são argumentos enganosamente ruins. Podemos distinguir essas concepções de falácias como crenças e argumento. Os acadêmicos que deram mais atenção ao assunto das falácias insistem, ou pelo menos preferem, na concepção argumentativa das falácias, mas a concepção da crença é predominante no discurso popular-não-acadêmico. Como será futuramente visto, ainda existem outras concepções sobre o que são falácias, mas a presente investigação se concentra na concepção argumentativa de falácias.

Ser capaz de detectar e evitar falácias tem sido visto como um complemento aos critérios de bom raciocínio. O conhecimento das falácias é necessário para nos armar contra os enganos mais atraentes que poderíamos tomar como argumentos. Porém, à medida que o curso da teoria lógica do final do século XIX se voltava cada vez mais para sistemas axiomáticos e linguagens formais, o estudo do raciocínio e da argumentação em linguagem natural recebeu muito menos atenção e, portanto, os desenvolvimentos no estudo das falácias quase chegaram a um ponto de parar completamente. Até bem depois da metade do século XX, as discussões sobre falácias eram em grande parte relegadas a livros didáticos de nível introdutório. Foi somente quando os filósofos perceberam o mal ajuste entre a lógica formal, por um lado, e o raciocínio e argumentação da linguagem natural, por outro, que o interesse pelas falácias retornou. Desde a década de 1970, a utilidade de conhecer falácias é reconhecida, e a maneira pela qual as falácias são incorporadas às teorias da argumentação é tomada como um sinal do nível de adequação de uma teoria.

1.2 Exemplos de Falácias

Ad Hominem

Seu raciocínio contém essa falácia se você fizer um ataque irrelevante ao argumentador e sugerir que esse ataque prejudica o próprio argumento. “Ad Hominem” significa “`à pessoa” como sendo “direcionado para a pessoa”.

Exemplo:

O que ela diz sobre a astronomia de Johannes Kepler de 1600 deve ser considerado lixo. Você percebe que ela tem apenas quinze anos?

Esse ataque pode minar a credibilidade da jovem como autoridade científica, mas não prejudica seu raciocínio, porque sua idade é irrelevante para a qualidade de seu raciocínio. Esse raciocínio deve permanecer ou recair sobre as evidências científicas, não sobre a idade da argumentadora ou qualquer outra coisa sobre ela.

Falácia Genética

Um crítico usa a Falácia Genética se o crítico tenta desacreditar ou apoiar uma reivindicação ou argumento por causa de sua origem (gênese) quando esse apelo às origens for irrelevante.

Exemplo:

Quaisquer que sejam suas razões para comprar esse presente, elas devem ser ridículas. Você mesmo disse que teve a ideia de comprá-lo do biscoito da sorte da noite anterior. Os biscoitos não conseguem pensar!

Os biscoitos da sorte não são fontes confiáveis de informação sobre qual presente comprar, mas os motivos pelos quais a pessoa está disposta a dar provavelmente são bastante relevantes e devem ser ouvidos. O orador está usando a Falácia Genética prestando muita atenção à gênese da idéia, e não às razões oferecidas.

Apelo à Ignorância

A falácia do apelo à ignorância ocorre de duas formas: (1) Não saber que uma determinada afirmação é verdadeira é considerado uma prova de que é falsa. (2) Não saber que uma afirmação é falsa é considerado uma prova de que é verdadeira. A falácia ocorre nos casos em que a ausência de evidência não é suficientemente boa evidência de ausência. A falácia usa uma tentativa injustificada de mudar o ônus da prova. A falácia também é chamada de “Argumento da ignorância”.

Exemplo:

Ninguém nunca me provou que existe um Deus, então eu sei que não há Deus.

Esse tipo de raciocínio geralmente é falacioso. Seria um raciocínio adequado apenas se as tentativas de prova fossem bastante completas, e se o ser ou o objeto existissem, haveria uma prova disso. Outro exemplo comum da falácia envolve a ignorância de um evento futuro: vocês estão reclamando do perigo dos Xs desde que foram inventados, mas nunca houve um grande problema com os Xs, portanto não há com que se preocupar.

Questão Complexa

Você usa essa falácia ao formular uma pergunta, para que algum pressuposto controverso seja feito pelo teor da pergunta.

Exemplo:

[Pergunta do repórter] Sr. Presidente: Você continuará sua política de desperdiçar dinheiro do contribuinte em defesa antimísseis?

A questão injustamente pressupõe a alegação controversa de que a política é realmente um desperdício de dinheiro.

Composição

A falácia da composição ocorre quando alguém assume erroneamente que uma característica de alguns ou de todos os indivíduos de um grupo também é uma característica do próprio grupo, o grupo “composto” desses membros.

Exemplo:

Cada célula humana é muito leve, portanto, um ser humano composto de células também é muito leve.

2 PARADOXOS

2.1 O Que São Paradoxos?

Um paradoxo é uma afirmação lógica que parece se contradizer. É uma afirmação de que, apesar do raciocínio aparentemente válido a partir de premissas verdadeiras, leva a uma conclusão aparentemente auto-contraditória ou logicamente inaceitável.  Um paradoxo envolve elementos contraditórios, ainda que inter-relacionados, que existem simultaneamente e persistem ao longo do tempo.

2.2 Exemplos de Paradoxos

Auto-Referência

Um exemplo é “Esta afirmação é falsa”, uma forma de paradoxo do mentiroso. A afirmação está se referindo a si mesma. Outro exemplo de auto-referência é a questão de saber se o barbeiro se depila no paradoxo do barbeiro. Mais um exemplo seria “A resposta a esta pergunta é ‘Não’?”

Contradição

“Esta afirmação é falsa”; a afirmação não pode ser falsa e verdadeira ao mesmo tempo. Outro exemplo de contradição é se um homem que fala com um gênio deseja que esses desejos não se realizem. Isso se contradiz, porque se o gênio concede seu desejo, ele não o concede, e se ele se recusa a conceder seu desejo, ele realmente concede seu desejo, tornando assim impossível conceder ou não conceder seu desejo, porque seu desejo se contradiz.

Circularidade Viciosa ou Regressão Infinita

“Esta afirmação é falsa”; se a afirmação é verdadeira, então a afirmação é falsa, tornando a afirmação verdadeira. Outro exemplo de circularidade viciosa é o seguinte grupo de declarações:

“A seguinte frase é verdadeira.”

“A frase anterior é falsa.”

3 FERRAMENTAS CONCEITUAIS

3.1 Navalha de Occam

A navalha de Occam é o princípio de solução de problemas que afirma que “as entidades não devem ser multiplicadas sem necessidade”. A idéia é atribuída ao frade franciscano inglês William de Occam (c. 1287–1347), filósofo e teólogo escolástico. Algumas vezes é parafraseada por uma afirmação como “A solução mais simples é provavelmente a correta”. A navalha de Occam diz que, quando apresentada a hipóteses concorrentes que fazem as mesmas previsões, deve-se selecionar a solução com o menor número de suposições, e não se destina a ser uma maneira de escolher entre hipóteses que fazem previsões diferentes.

A Navalha de Occam, nos sentidos em que pode ser encontrada no próprio Occam, nunca nos permite negar entidades putativas; na melhor das hipóteses, permite-nos evitar colocá-las na ausência de razões convincentes conhecidas para fazê-lo. Em parte, isso ocorre porque os seres humanos nunca podem ter certeza de que sabem o que é e o que não é “além da necessidade”; as necessidades nem sempre são claras para nós. Mas mesmo se nós as conhecêssemos, Occam ainda não permitiria que sua Navalha nos permitisse negar entidades desnecessárias. Para Occam, a única entidade verdadeiramente necessária é Deus; tudo o resto, toda a criação, é radicalmente contingente. Em resumo, Occam não aceita o Princípio da Razão Suficiente.

3.2 Navalha de Grice

A Navalha de Grice, criada pelo filósofo Norte-Americano Paul Grice, é um princípio de parcimônia que declara uma preferência por explicações linguísticas em termos de implicatura conversacional, em vez de explicações em termos de dependência do contexto semântico.

3.3 Navalha de Hume

Em seu trabalho “Of Miracles”, o filósofo (e ávido usuário de peruca) David Hume nomeou um princípio que desde então foi chamado de Navalha de Hume:

“Nenhum testemunho é suficiente para estabelecer um milagre, a menos que esse testemunho seja de tal natureza que sua falsidade seja mais milagrosa do que o fato que se esforça para estabelecer”.

Se nos pedirem para acreditar em X, ao decidir se devemos acreditar (dar consentimento provisório) ou não, devemos perguntar: “É mais provável que X seja verdadeiro ou que as evidências de X estejam equivocadas (ou possam ser interpretadas em uma maneira diferente ou mais realista)? ” Se parece que é mais provável que as evidências estejam erradas, não acreditamos no X. Simplificando – afirmações extraordinárias exigem evidências extraordinárias.

3.4 Navalha de Halon

A navalha de Hanlon é essencialmente um caso especial da navalha de Occam. A navalha de Occam, como dito anteriormente, afirma que, assumindo igual poder explicativo, a solução mais simples (formalmente, a que tem menos suposições) deve ser preferida. Assumir intenção é uma grande suposição, mas todos sabemos que (outras) pessoas podem ser, e aparentemente mais frequentemente do que podemos imaginar, idiotas e até pessoas inteligentes cometem erros. A navalha é frequentemente invocada no contexto de tentar refutar uma teoria da conspiração: onde uma conspiração é percebida, sem nenhuma outra evidência disponível, é mais provável que seja inaptidão ou apatia do que malícia que resulta no problema.

3.5 Navalha de Hitchens

A navalha de Hitchens é uma navalha epistemológica que afirma que o ônus da prova referente à veracidade de uma afirmação recai sobre quem faz a afirmação; se esse ônus não for atendido, a alegação será infundada e seus oponentes não precisarão discutir mais a fim de descartá-lo.

O conceito, batizado em homenagem ao jornalista, autor e ateu Christopher Hitchens, ecoa a navalha de Occam. O ditado aparece no livro de Hitchens, de 2007, intitulado Deus não é grande: como a religião envenena tudo. É necessária uma postura mais forte do que o padrão de Sagan (“Reivindicações extraordinárias exigem evidências extraordinárias”), em vez disso se aplica a reivindicações não extraordinárias.

4 DIALÉTICA ERÍSTICA

Como vencer um debate sem precisar ter razão – em 38 estratagemas (dialética erística), ou simplesmente Dialética erística, é um importante, porém inconcluso, acréscimo do sistema filosófico de Arthur Schopenhauer, publicado póstumo por Julius Frauenstädt. Nele, Schopenhauer analisa os “principais esquemas argumentativos enganosos que os maus filósofos utilizam, com razoável sucesso, para persuadir o público de que 2 + 2 = 5”, baseando-se, principalmente, nos Tópicos de Aristóteles. Mencione-se que, por dialética erística, termo que constitui o subtítulo do livro, Schopenhauer entende “a arte de discutir, mais precisamente a arte de discutir de modo a vencer, e isto per fas et per nefas (por meios lícitos ou ilícitos)”.

4.1 Estratagemas Dialéticos

Na obra, Schopenhauer distingue os seguintes estratagemas dialéticos:

1) Ampliação indevida ou Expansão

2) Homonímia sutil

3) Mudança de modo

4) Pré-silogismos

5) Uso intencional de premissas falsas

6) Petição de princípio oculta

7) Perguntas em desordem

8) Encolerizar o adversário

9) Perguntas em ordem alterada

10) Pista falsa

11) Salto indutivo

12) Manipulação semântica

13) Alternativa forçada

14) Falsa proclamação de vitória

15) Anulação do paradoxo

16) Várias modalidades do argumentum ad hominem

17) Distinção de emergência

18) Uso intencional da mutatio controversiae

19) Fuga do específico para o universal

20) Uso da premissa falsa previamente aceita pelo adversário

21) Preferir o argumento sofístico

22) Falsa alegação de petitio principii

23) Impelir o adversário ao exagero

24) Falsa reductio ad absurdum

25) Falsa instância

26) Retorsio argumenti

27) Usar a raiva

28) Argumento ad auditores

29) Desvio

30) Argumentum ad verecundiam

31) Incompetência irônica

32) Rótulo odioso

33) Negação da teoria na prática

34) Resposta ao meneio de esquiva

35) Persuasão pela vontade

36) Discurso incompreensível

37) Tomar a prova pela tese

38) Último estratagema: Ofensas pessoais

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