A Noção de Causalidade em David Hume

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De acordo com Hume [1], todos os objetos da razão e investigação naturalmente podem ser divididos de duas maneiras, tais quais são as relações de ideias e as questões de fatos. Um exemplo do primeiro caso é a matemática porque enumeramos as coisas da forma em que elas se apresentam a nós como uma ideia, e relacionamos com outra ideia como a medida de um quadrado dos catetos e da hipotenusa, por isso, toda ideia é intuitivamente certa ou é demonstrada como certa.

Estas ideias procuram compreender e dar explicações aos fenômenos da mente descritas pela tendência e pela introspecção do que acontecem na mesma. Desse modo, Hume propõe uma formulação naturalista, onde a raiz das condições da mente humana se realizam epistemicamente de forma contingente.

Com isso, Hume explica que a causa é um conteúdo pontual, isto é, de pontuação, onde de uma causa há um efeito (princípio de causalidade). E essas relações de causas e de efeitos se dão apenas na nossa mente, pois somente o pensamento humano pode investigar a universalidade das ideias. Todavia, embora as questões de fatos, como foi dito de antemão que constitui a divisão da investigação, se encontra no reino dos fenômenos, a causalidade não faz parte deste reino. Isso pois a causa e o efeito não existe no mundo, mas reside em nosso pensamento, de forma em que tentamos compreendê-las. No entanto, como afirma o professor Antônio Saturnino Braga:

“Essas afirmações parecem sugerir que o conhecimento matemático seria absolutamente independente da experiência. Essa sugestão precisa ser tomada com cautela, entretanto, pois ela contraria não apenas o espírito geral do empirismo Humeano, mas também certas afirmações que ele faz em TNH 1, 2, 3 (Livro 1, Parte 2, Seção 3), que apresentam uma fundamentação empírica das ideias de espaço e tempo, que constituem as bases do conhecimento matemático.”

Mas, ainda sim, a matemática se elabora de um sistema complexo de elaborações do entendimento. E como sua forma é pertencente ao escopo da necessidade, pensar em algo que contrarie o sistema complexo da matemática demonstra falsidade no conhecimento. Assim sendo, as pretensões de validade a priori se tornam necessárias. E esta necessidade é contrária ao o que acontece no mundo sensível, onde tudo é possível, uma vez que as questões de fato se tratam tão somente das coisas particulares próprias aos fenômenos. Como explicou Hume:

“Questões de fato, que são o segundo tipo de objetos da razão humana, não são apuradas da mesma maneira [ou seja, não são apuradas ou descobertas “pela simples operação do pensamento, independentemente do que possa existir em qualquer parte do universo”], e tampouco nossa evidência da sua verdade, por grande que seja, é da mesma natureza que a precedente” (§2, sessão 4)

Nesse sentido, também devemos buscar entender como a relação das ideias se dá no entendimento. Entre colchetes, ainda neste parágrafo, Hume defende que:

“[lembre-se que, no âmbito das “relações de ideias”, as afirmações são intuitiva ou demonstrativamente certas, ou seja, a evidência da sua verdade consiste na certeza intuitiva ou demonstrativa, baseada no fato de que seu contrário implica uma contradição, isto é, pode ser demonstrado como falso; de acordo com a hipótese que apresentamos acima, este tipo de certeza demonstrativa é algo que só pode ser obtido ao preço da suspensão da pretensão dos enunciados matemáticos de ajustar-se às existências ou realidades dadas na experiência sensível].” (§ 2, sessão 4)

Por conta disso, as proposições “o sol nace pela manhã” e “ele nascerá”, têm igualmente valor epistêmico, pois são proposições que nos são apresentadas conhecimento por conta da intuição. Na verdade, para Hume, as ideias que temos das coisas é um conhecimento que tem origem em nossos costumes. Pois, basta que uma pedra bata noventa e nove vezes no chão para sabermos que a centésima que for lançada irá cair também. Isso não necessariamente acontece desse modo, pois o mundo dos fenômenos é contingente, mas a relação das ideias é necessária.

Com tudo o que foi dito, vale compreender que a força do hábito é o que nos faz obter conhecimento sobre as coisas, tanto as necessárias, quanto as contingentes. A necessidade é aquilo que se aplica a todos os mundos possíveis, i.e., a todas as situações que podemos pensar. O princípio de causalidade, nesse contexto, trata-se da relação das causas e efeitos, ideias as quais de um evento para o outro as coisas, no mundo dos fenômenos, se altera. E isso tudo, como pontuou Hume no Tratado: “de acordo com a experiência de sua união” (p. 199). Ele pode nos explicar um pouco mais:

“Em suma, a necessidade é algo que existe na mente, e não nos objetos. E jamais poderemos formar a menor ideia dela se a considerarmos uma qualidade dos corpos. Ou bem não temos nenhuma ideia de necessidade, ou então a necessidade não é senão a determinação do pensamento a passar das causas aos efeitos e dos efeitos às causas, de acordo com a experiência de sua união”. (Hume, Tratado da Natureza Humana, Livro 1, Parte 3, Seção 14, parágrafo 22, p.199).

Portanto, conclui-se a noção de causalidade em Hume. O filósofo foi um dos mais importantes na história da filosofia a respeito do assunto. Sua obra, Tratado da Natureza Humana, foi essencial para influenciar suas ideias em outros filósofos importantes para a Escola Austríaca, tal como Immanuel Kant. Assim, fica claro o princípio de causa e efeito bem como a fundamentação humeana para a mesma.

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NOTAS

[1] David Hume (1711-1776) é um filósofo moderno inglês que, assim como Locke, foi um dos fundadores do empirismo britânico. Ele é popularmente conhecido pela sua obra magna “Tratado da Natureza Humana” e seu célebre argumento que ficou conhecido como “Guilhotina de Hume”.

REFERÊNCIAS

HUME, David. Tratado da Natureza Humana. Editora Unesp; 2ª edição (25 março 2009).

SATURNIO, Antonio. Hume: “Relações de ideias”, “Questões de fato” e Ideia da relação de causa e efeito. 2020.

“David Hume”. Wikipédia. Pesquisa em: 16 de março de 2021. Acesso em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/David_Hume>.

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