[Nota do editor: este é um artigo que foi montado com base na palestra, com o mesmo título, de David Gordon (que pode ser conferida em português aqui. Optamos por uma edição mais fiel ao que fora falado, e ao acrescentar ou reduzir trechos onde achamos realmente necessário, deixamos explícito através de colchetes. A íntegra da palestra e os Slides utilizados podem ser conferidos aqui.]
Olá a todos, eu vou falar hoje sobre a filosofia política de Hans Hoppe, como vocês devem se lembrar da minha última palestra eu não falo muito alto. Então caso você não esteja ouvindo o que estou dizendo, por favor levante sua mão e deixe-me saber. Espero que as pessoas tenham ouvido isso porque senão teremos um problema. Esta é a primeira vez que palestro sobre Hans Hoppe, falei muito brevemente sobre ele em uma outra conferência e escrevi críticas de vários de seu livros, mas nunca dei uma palestra sobre ele antes. Espero que não vá muito mal, pois não gostaria de ser fisicamente removido do Mises Institute. Darei primeiro um pequeno contexto sobre Hans, que tenho sido amigo por cerca de 35 anos, então sou muito grato por poder falar sobre ele.
Hans nasceu na Alemanha Ocidental, ele fez seus trabalhos de graduação na Universidade Goethe em Frankfurt. Essa universidade foi fundada na República de Weimar e é uma universidade realmente progressista em contraste com, digamos, as antigas instituições. Ela foi fundada explicitamente como uma instituição mais progressista que se identifica com a República de Weimar, enquanto na década de 1920 em muitas das antigas universidades alemãs grande parte das faculdades não eram simpáticas à República de Weimar e esperavam que ela fosse derrubada. E, com efeito, Hans fez seu trabalho de doutorado com Jürgen Habermas, que era um membro de destaque da Escola de Frankfurt, isso alguns de vocês podem ter ouvido. Naquele tempo a Escola de Frankfurt foi fundada no Instituto para Pesquisa Social de Frankfurt, dado seu nome formal, foi fundada na década de 1920 e depois de algumas poucas direções iniciais, Marx Horkheimer — que era uma pessoa muito influente e que liderou a escola — tornou-se diretor e Theodor Adorno, o filósofo bem conhecido, estava associado com eles; e Habermas, que foi o professor de Hans, havia estudado sob ambos.
Então temos, talvez, um pouco de um paradoxo em Hans Hoppe, que é fortemente um libertário e começou como um estudante de uma marxista. E devo dizer isto apenas como uma digressão, há um pouco de conexão entre o Instituto para Pesquisa Social e Ludwig von Mises, surpreendente como pode parecer, um dos primeiros diretores do Instituto para Pesquisa Social foi Carl Grünberg que anteriormente havia sido um professor na Universidade de Viena. E Mises como um universitário era um estudante no seminário de Grünberg. Em sua primeira publicação acadêmica, que era sobre as relações entre lordes e camponeses e a Galícia, ela veio como um produto do seminário de Grünberg, ela foi publicada em 1920, então há essa conexão de Mises com essa instituição. Mas em algum ponto quando Hans estudava com Habermas, embora Habermas fosse um marxista, acho que a política naquele tempo era bem moderada, aquelas de uma social-democracia convencional e o que adquiriu de Habermas foi o que ele reteve ao longo de sua carreira, foi uma crítica ao positivismo.
A Escola de Frankfurt era muito crítica dos positivistas lógicos do Círculo de Viena, particularmente devido a sua assimilação das ciências sociais à física e às ciências naturais e também à sua alegação de que juízos de valor eram puramente subjetivos, isso a Escola de Frankfurt repudiava e Hans manteve essas atitudes ao longo de sua carreira e de fato as publicações mais antigas de Hans, quando ele estudava com Habermas, eram no campo da filosofia da ciência, mas enquanto ele estava estudando ele ficou muito interessado nas ideias de livre mercado e leu Ludwig von Mises e Murray Rothbard, e se converteu ao ponto de vista deles.
De fato, ele estava tão impressionado com Rothbard que veio aos Estados Unidos para estudar com Murray Rothbard. E Rothbard considerava muito ele, eu me lembro muito bem quando Murray me contou quão animado estava de que alguém havia vindo da Alemanha, um acadêmico muito promissor e que estava assistindo às suas aulas e estava encantado que Hans estava interessado em seu pensamento. E depois em 1986, quando Rothbard se mudou para a UNLV (Universidade de Nevada, Las Vegas) Hans Hoppe o seguiu logo após Murray realmente haver conseguido para ele o trabalho [de professor de economia] e que eles realmente estabeleceram, provavelmente na época, o mais importante centro para o estudo da economia austríaca.
Ambos estavam lá e deram aulas e seminários por vários anos, até um pouco após a morte prematura de Murray no início de 1995, Hans continuou como professor por mais alguns anos na UNLV e então se aposentou. E desde então ele se mudou para a Turquia onde ele e sua esposa vivem, e ele continuou viajando e estabeleceu uma organização chamada Property and Freedom Society que realiza conferências anuais.
Agora devo dizer que Hoppe é o principal sucessor de Murray Rothbard em filosofia política e que ele fez grandes contribuições em numerosas áreas. E o que vou fazer nesta palestra é discutir três dessas áreas: ética argumentativa, a crítica à democracia e a teoria da evolução social. E um ponto que gostaria de fazer antes de tentar fazer isso é que — e isso é um ponto que fiz quando estava falando sobre o seminário de graduação e Rothbard quando falava sobre Mises — quando estamos lidando com qualquer pensador de significância às vezes quando o lemos, estaremos inclinados a criticar ou a pensar “oh, bem, isso não parece correto” ou “eu não concordo com isso”, mas acredito que é importante antes de criticarmos um pensador de significância entendermos o que a pessoa está dizendo. Então, o que vou fazer, ou vou tentar fazer, no que se segue é dar uma exposição do que Hans está dizendo, em vez de tentar ficar entre Hans e vocês, e tentar dar pontos críticos, vou estar apenas explicando da melhor maneira que posso quais são suas posições.
Agora, uma das áreas que acredito ser uma das mais valiosas áreas nas quais Hans fez uma contribuição, é a que ele diz ser o ponto de início da filosofia política. Ele diz que conflitos entre pessoas surgem por causa da escassez, imagine que todos os bens que as pessoas quisessem fossem super abundantes, todos poderiam ter quanto quisessem de qualquer bem, então não haveria ocasião para conflitos. As pessoas poderiam apenas ter o que quisessem e nenhuma outra pessoa seria perturbada por isso, mas, é claro, vivemos em um mundo de escassez e as pessoas querem usar o mesmo recurso.
Então, a fim de resolver conflitos sobre o uso de recursos, precisamos de regras que atribuam o controle de cada recurso a uma pessoa. Então, essas regras não precisam ser, digamos, se você pegar todos os recursos que existem agora; não precisamos ter uma regra que atribua cada recurso a cada pessoa, poderíamos ter regras para, digamos, há alguns recursos que não são, no presente, propriedade de alguém, mas teríamos regras sobre como esses recursos podem ser apropriados, assim essa é uma maneira de resolver. Então, novamente, a posição de Hans é: iniciamos com isso porque a filosofia política começa do conflito sobre recursos, bens e serviços, e precisamos especificar como esses bens e serviços são propriedade, de modo que possamos resolver conflitos.
Agora, para entender completamente o pensamento de Hans, aqui temos que adicionar outra premissa — que aqui Hans segue Murray Rothbard como ele fez tão frequentemente — que de acordo com Murray Rothbard, seguido por Hans Hoppe, todos os direitos são direitos de propriedade. Por exemplo, suponha que, digamos, temos um conflito sobre liberdade de expressão, para Rothbard, a maneira de resolver esse conflito seria dizer de quem é a propriedade, uma vez que você estabelece que aquela pessoa teria o direito de determinar quais são as regras para expressão apropriada ou adequada em sua propriedade. Assim, todos os direitos são direito de propriedade.
Assim, se adicionarmos que todos os direitos são direitos de propriedade, ao ponto que temos disputas sobre recursos a serem resolvidas atribuindo os direitos de propriedade às pessoas, então temos, a princípio, uma maneira de resolver todos os conflitos na sociedade.
Já que todos os direitos são direitos de propriedade e especificamos os direitos propriedade, isso nos permite resolver todas as disputas, então agora temos que conseguir alguma maneira de atribuir os direitos de propriedade, como isso deve ser feito? E aqui chegamos a talvez a mais famosa das contribuições de Hans, a ética argumentativa. Hans desenvolveu a ética argumentativa do trabalho de seu professor Jürgen Habermas e outro filósofo, Karl-Otto Apel, na verdade foi mais influenciado por Apel; Apel não estava muito interessado em política, acho que ele era um social-democrata, mas ele era mais do tipo de um filósofo puro.
Hans tem uma opinião extremamente alta de Apel e o cita em várias de suas obras. Então, a maneira que a ética argumentativa prossegue é que se você fizer uma reivindicação à verdade — se eu disser que algo é verdadeiro — e, digamos, alguém questione e diga, “bem qual é a base para isso?”, a reivindicação que fiz, de que algo é verdadeiro, tem que ser sustentada por argumentos, qualquer reivindicação de verdade tem que ser sustentada por argumentos. E Hans diz que isso não pode ser negado.
Se alguém diz “não, não precisa ser sustentada por argumentos”, Hans diz, “não, isso está errado”, Hans diz, “você não pode argumentar que você não pode argumentar”. (Bem, eu não vou argumentar sobre isso então.) Então, o que Habermas e Apel disseram, seguidos por Hans Hoppe, é que temos que, a fim de se envolver em argumentação, precisamos questionar quais são as condições sob as quais podemos nos envolver em uma argumentação. Isso é algo que ambos Habermas e Apel questionam. Eles dizem quais são as condições para o discurso racional, temos pessoas tentando estabelecer a verdade, quais são as condições para o discurso racional e sobre essa base estou tentando encontrar quais são as condições para o discurso racional. Então eles chegam a direitos a partir disso.
Então, você pode ver uma crítica que as pessoas fazem às vezes à ética argumentativa, podemos ver que não está certa, algumas pessoas dirão: “bem, supondo que estabeleçamos, digamos, que certas condições são necessárias para o discurso racional, isso apenas mostraria que as pessoas tem aqueles direitos durante o discurso racional, isso não mostra que elas têm direitos fora desse processo de discussão”, mas essa não é uma boa crítica, pois lembre-se da maneira que o argumento segue é que as condições para o discurso racional estabelecem quais são os direitos que as pessoas têm, não é que os direitos que você está tentando descobrir, o que você está limitando, são os direitos que as pessoas têm em instâncias atuais do discurso racional, é tentar descobrir quais desses direitos são requeridos para o discurso racional, isso dá-lhe os direitos que as pessoas têm se a teoria está correta. Então, a inovação que Hans tem na ética argumentativa, que Habermas e Apel não tinham, é que ele responde a questão de quais direitos as pessoas têm de uma forma diferente de Habermas e Apel.
O passo chave é que Hans diz que para argumentar você precisa ser proprietário de si mesmo, tomando isso da maneira libertária, cada pessoa é um autoproprietário e negar isso é o que ele chama de contradição performativa ou pragmática. Para entender o que isso significa, quero falar um pouco sobre o que queremos dizer com uma contradição performativa. Bem, há algumas vezes que temos afirmações que são contraditórias logicamente, digamos que alguém diga: “estou tanto palestrando nesta sala quanto não é o caso que estou palestrando nesta sala”, isso seria uma contradição lógica, mas podemos ter outros tipos além de contradições lógicas, há outros tipos de dificuldades que podemos ter com várias afirmações, proposições ou juízos. Uma é aquela na qual Hans está interessado… se eu disser algo que meu próprio dizer-daquilo mostra que a afirmação é falsa. Suponha que eu diga em inglês que eu nunca na minha vida proferi uma sentença em inglês, meu dizer-disso mostraria que eu não seria capaz de dizer que nunca proferi uma sentença em inglês; em meu dizer, eu estou dizendo em inglês que eu não seria capaz de dizer isso em inglês sem falar uma sentença em inglês, então meu próprio dizer-disso mostra que a afirmação é falsa.
Então, isso é uma ótima maneira de mostrar que algo está errado, mostrar que se torna vítima desse tipo de contradição pragmática. Agora há muitas questões interessantes que poderiam ser faladas sobre o escopo e os limites desse tipo de contradição performativa, mas podemos ver exemplos de tipo similar. Suponha que alguém disse: “eu sei que ninguém sabe alguma coisa”, bem, se é verdade que ninguém sabe alguma coisa, então a pessoa não conhece isso, então seu pronunciamento, “eu sei que ninguém sabe alguma coisa”, irá gerar problemas no mínimo.
Assim, Hans diz que suponha que alguém disse que eu não sou proprietário de mim mesmo, que alguém negue que cada pessoa é proprietário de si mesmo, então ele disse, eu não sou proprietário de mim mesmo, então, ele só poderia dizer isso se ele de fato fosse proprietário de si mesmo. Então, esse é um exemplo de uma contradição performativa e Hans diz que isso mostra que as pessoas de fato são proprietárias de si mesmo, mas ele diz que isso está continuando sua inovação na ética argumentativa de Habermas, ele diz que ser proprietário de si mesmo não é suficiente para se envolver em argumentos, você também tem de ser proprietário de recursos físicos, pois você não seria capaz de argumentar se você fosse apenas um tipo de corpo sem lugar para ficar, você tem que ter recursos físicos.
Então, isso levanta a questão de como esses recursos devem ser adquiridos e ele diz que apenas uma regra de primeiro usuário [homestead] pode evitar conflitos. Digamos que o primeiro a usar os recursos os adquire, porque se, digamos, você tivesse outra regra, digamos, eu adquiro algo, digamos, eu pego uma maçã de uma árvore, se isso não me da propriedade alguma outra pessoa poderia vir e dizer, “não, eu quero essa maçã”, e então haveria conflito, haveria uma briga sobre isso (que eu provavelmente perderia), mas, então, apenas uma regra de primeiro usuário pode evitar conflitos e Hans também tem um argumento adicional para essa regra de primeiro usuário, ele diz que se você quer uma regra de aquisição de propriedade há apenas duas maneiras possíveis, uma é essa regra de primeiro usuário, na qual apropriamos algo apenas através do primeiro a usá-la, ou a outra alternativa é que você poderia ser proprietário de algo apenas reivindicando-a, você poderia apenas dizer, eu sou proprietário disso, “isso é meu” sem usá-lo, mas ele diz, bem, se tivéssemos essa regra então você poderia adquirir pessoas apenas reivindicando ser proprietário delas e isso estaria em conflito com o princípio de autopropriedade, que, lembre-se, é um que gera uma contradição pragmática se for negado. Então, ele diz que apenas essa regra de primeiro usuário é uma que será aceitável, que evitará conflitos, e pode ser mostrada como sendo uma consequência do princípio de autopropriedade e um ponto que Hans faz em sua consideração da ética, isso responderia a uma objeção, suponha que você diga, “bem, talvez isso estabeleça que cada pessoa é proprietária de si mesmo, mas e quanto a outras pessoas? Talvez eu seja proprietário de mim mesmo, mas porque tenho que reconhecer que você é proprietário de si mesmo?” O que se responderia seria, lembre-se, estamos tentando nos envolver no descobrimento de quais são as condições para o discurso racional e não seria possível ter uma discussão racional, exceto se cada pessoa fosse proprietário de si mesmo. Então, a posição de Hans, e aqui ele está bastante em acordo com as posições e éticas padrões, [é que] princípios éticos precisam ser universais.
Então, agora quero ir para o segundo tema de que gostaria de falar que é a crítica de Hans à democracia. Agora, parece, pelo menos para muitas pessoas, que a democracia é, obviamente, uma coisa boa, pessoas que têm essa opinião diriam: bem, não é melhor que o povo governe a si mesmo em vez de serem súditos em uma ditadura? Digamos, não gostaríamos de viver em países onde as pessoas não têm direito ao voto e há apenas um único governante que está no controle de tudo. Isso pareceria pelo menos um estado de coisas muito indesejável e mesmo que não tenhamos uma ditadura, não é melhor decidir sobre conflitos aceitando quem ganha em uma eleição justa? É claro, o que vimos na recente eleição presidencial, o que é uma eleição justa pode ser uma questão de um pouco de disputa e suas críticas poderiam ser feitas de dentro da perspectiva da democracia, do governo pela maioria, mas tipo as levantadas por James Buchanan e Gordon Tullock que em, por exemplo, suas várias maneiras de considerar o que é uma maioria, é uma maioria direta ou requer mais do que uma maioria ou suas várias regras de votação que irão gerar resultados diferentes.
Então, não é claro o que governo pela maioria realmente significa. Mas a objeção de Hans a democracia é uma mais profunda do que a crítica por exemplo da Escolha Pública, Hans rejeita esses argumentos pró-democracia, ele o faz em um livro com o título “Democracy: The God That Failed”, esse livro vem de uma famosa coleção de ensaios que foi publicada em 1949, editada pelo socialista britânico R.H.S. Crossman, nesta coleção haviam vários escritores que eram ou antigos membros do partido comunista ou antigos simpatizantes, algum deles eram (eu acho que eram): Arthur Kessler era um, Louis Fisher, Stephen Spender, Andrei Jeed e Ignacio Cellone, foram contribuidores a isso e foi um livro muito bem conhecido durante a Guerra Fria. Então o que Hans ao intitular seu livro de “Democracy: The God That Failed” está sugerindo que, assim como reconhecemos hoje que o comunismo foi um falso deus, embora naquele tempo, nas décadas de 1930 e 1940, haviam muitas pessoas no Ocidente que o levavam bem seriamente, Hans está sugerindo que a democracia é um falso deus assim como o comunismo.
Agora, sua objeção fundamental à democracia é uma que já podemos visualizar do que se passou anteriormente, que a democracia […] ignora direitos, [mas] em que sentido ela faz isso? Bem, se as pessoas têm direito do modo que Hans Hoppe argumentou a favor, lembre-se ele disse que todas as pessoas têm direitos de propriedade e cada pessoa tem direito de propriedade, ele é proprietário de si mesmo e, então, pode adquirir recursos, todos os direitos são direitos de propriedade e, então, temos regras para como os recursos podem ser adquiridos, de modo que não haja mais espaço para disputas, temos a maneira para resolver disputas, então qualquer um que interfere em seus direitos de propriedade é culpado de agressão, incluindo eleitores majoritários. Então mesmo que a maioria e que, por exemplo, estipulemos que houve uma eleição livre, que não há disputas sobre como os votos devem ser contados e, por exemplo, a maioria vota que deve haver impostos sobre pessoas ricas; isso ainda é agressão, pois está interferindo no direitos das pessoas, então a maioria não pode dizer como usar sua propriedade, então essa é a crítica básica dele à democracia.
Ele vai mais além do que esse ponto que fiz, o argumento anti-democracia que a democracia interfere em seus direitos pode ser usado para apoiar anarquismo, anarquismo libertário, anarcocapitalismo. O argumento dele aqui é que um direito que surge da autopropriedade é seu direito à autodefesa. E ele diz que supondo que alguém, como alguns libertários fazem (como Robert Nozick em seu famoso livro “Anarchy, State, and Utopia” em 1974), [tente argumentar por] um estado mínimo que é bastante mínimo, que ele apenas deve proteger direitos e não tem o poder de taxação, mas Hans diz: bem, se as pessoas redem seus direitos ao estado, mesmo um estado bastante limitado, então realmente não há como parar no direito de defender a si mesmo. Para o estado mínimo, digamos que eles renderam todas as suas armas ao estado, então realmente não há como parar o estado, o estado pode realmente fazer qualquer coisa, então, uma vez que você desistiu de seus direitos de suas armas ao estado, então o estado pode apenas fazer qualquer coisa que quiser. Então, a noção de um estado mínimo no qual as pessoas rendem seus direitos de defender a si mesmas ao estado é um que é inerentemente instável.
Agora, você pode ver aqui a principal diferença entre Hans Hoppe e Ludwig von Mises; Hans, como mencionei, foi muito influenciado por Mises, mas aqui há uma importante distinção, Mises tinha um visão muito diferente da de Hans Hoppe sobre a democracia, e de acordo com Mises, a vantagem, uma das principais vantagens de um livre mercado é que ele é mais democrático do que a democracia política, por exemplo, em uma democracia política você vota por um partido, um partido específico, ou um pessoa e então essa pessoa irá ter uma certa plataforma e mesmo que o que você votou vença, ele provavelmente não vai colocar em vigor todas as políticas que você queria e, então, os perdedores realmente não conseguem o que querem, mas no livre mercado, de acordo com Mises, os consumidores estão realmente operando as coisas e o que ele chama de os produtores, as obrigações dos, digo, as obrigações dos produtores aos consumidores, os consumidores estão realmente no controle, como ele diz frequentemente: capitalismo é produção em massa para as massa, então, de acordo com Mises os proprietários de propriedade, pelo menos os proprietários dos meios de produção realmente apenas não são os verdadeiros proprietários, são realmente os consumidores que estão no controle. Então, você pode ver, é uma visão bem diferente da democracia em relação à rejeição radical de Hans Hoppe de toda a ideia.
Agora, Hans faz um argumento que atraiu bastante atenção, é que ele diz que políticos democráticos precisam conseguir o apoio da maioria para ganhar poder e permanecer no cargo, então o que conta para eles é o que irá fazer as pessoas o apoiarem agora e irão fazer promessas que não podem ser cumpridas porque o longo prazo não importa para eles, uma vez que as pessoas descubram isso, na hora que as pessoas descobrirem que nem todas as promessas podem ser cumpridas, provavelmente eles já estarão fora do cargo de qualquer jeito; então, não importa realmente, o que conta é que eles apenas querem ser eleitos agora, e, em contraste, monarquias tendem a adotar uma perspectiva de longa prazo. O rei, por exemplo, espera que sua família esteja por aí por um longo tempo, então ele irá tentar dirigir seu estado de uma maneira economicamente “eficiente”.
Assim, até então dei a discussão da ética argumentativa e da crítica de Hans a democracia e ele usa as duas partes de suas posições que tenho discutido até agora para desenvolver uma teoria da evolução social, especialmente evolução social aplicada à história europeia, então, ao fazê-lo, ele está se envolvendo em um projeto que acha ser muito significativo, que se poderia chamar de história conjectural, isto é dizer que ele está usando a teoria social para explicar, meio que oferecer uma reconstrução racional da história, e poderíamos dar um exemplo disso que você ouviu em várias palestras anteriormente, é a maneira que a origem do dinheiro foi explicada por Carl Menger e Ludwig von Mises, como o dinheiro nasce de uma mercadoria que tem usos não-monetários, então o que Menger e Mises estavam falando é que com base na teoria, estavam mostrando como alguém poderia racionalmente explicar a origem do dinheiro, então, o que Hans está fazendo é tentar construir uma reconstrução racional da história.
Agora, a narração comum da história europeia enfatiza o progresso, a história começou, por exemplo, meio que em tempos primitivos com uma guerra de todos contra todos, por exemplo, você pode imaginar tribos primitivas estavam lutando umas com as outras, mas o governo absoluto colocou um fim nisso e, então, eventualmente isso foi substituído pela democracia, então, na visão usual, que acho que mesmo hoje a maior parte dos historiadores sustenta que houve um progresso ao longo da história europeia do tipo de conflito que era contínuo de forças conflitantes, continuado sob o feudalismo, então foi substituído pelo absolutismo, e então conseguimos a democracia depois disso. Bem, Hans rejeita esse mito inteiro, o que ele chama de mito do progresso, no entanto ele reconhece que houve progresso e que tem havido uma decolagem econômica depois da revolução industrial, mas ele rejeita essa noção de progresso histórico.
Assim, o que seu desacordo é, é que ele nega que a história começou como uma guerra de todos contra todos, ele diz que isso é uma falsidade defendida por intelectuais pró-estado e, em vez disso, nesse estado inicial as pessoas naturalmente iriam aceitar as explicações de auto-propriedade e de primeiro apropriador dos direitos, que essas não são teorias inventadas, que, por exemplo, pessoas como Hans Hoppe ou Murray Rothbard inventaram, essas são na verdade as regras que as pessoas adotariam na prática. Então, ao resolver disputar em cima desses princípios, as pessoas tenderiam a gravitar para líderes naturais ou aristocratas e o feudalismo desenvolveu-se disso, mas, ao longo do tempo, um aristocrata tenderia a ficar mais forte do que outros e se tornaria o rei, mas o poder do rei era estritamente limitado pelos outros nobres, mas à medida que o feudalismo se desenvolveu e chegou ao fim, o rei minou os outros nobres aliando-se com o povo e ele prometeu a eles alívio de suas obrigações feudais, se o povo o apoiasse e, ao fazer isso, ele foi ajudado por intelectuais da corte, cuja frase Hans pega de Murray Rothbard e também de Harry Elmer Barnes, e os intelectuais da corte queriam ganhar poder e influência, então eles defenderam a monarquia absoluta pelo mito da necessidade de uma monarquia para resgatar as pessoas da guerra de todos contra todos, mas, depois que a monarquia absoluta se desenvolveu, os intelectuais da corte pensaram que poderiam ganhar ainda mais poder abandonando o monarca e apelando ao povo através de argumentos pró-democracia e isso é o que aconteceu durante a Revolução Francesa, acho que aqui Hans está dependendo de relatos da influência dos intelectuais, por exemplo, encontramos no livro por Augustine Koshan sobre as sociedades de pensamento antes da Revolução Francesa, nos livros pela historiadora britânica Nesta Webster.
Assim, cobri apenas alguns dos temas principais na filosofia política de Hans Hoppe, mas espero ter mostrado o quão central sua explicação dos direitos é em seu pensamento. Assim, muito obrigado a todos.
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Leia a Wiki do autor para mais informações.