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Albert Jay Nock, O Radical

Tempo de Leitura: 4 minutos

Isso tem acontecido com todos os grandes radicais da história: no momento em que morrem e são prontamente enterrados, intérpretes e comentaristas se apressam em diluir e censurar seu pensamento e sua estatura, muitas vezes conseguindo transformar sua imagem pública em um membro moderado e sólido do establishment “conservador”. Esse procedimento quase funcionou com Thoreau: aquele individualista inflamado e anarquista. E John Brown, um abolicionista que foi transformado em um amante suave e excêntrico da natureza. Somente recentemente o radicalismo essencial de Thoreau foi redescoberto.

Esse processo de “castração” também tem sido realizado com o que ficou de Albert Jay Nock: aquele individualista, anarquista e “isolacionista”, rapidamente transformado em um pensador conservador sóbrio, e sua sombra foi praticamente moldada para descansar confortavelmente em editoriais conservadores. Nock, assim como seu ancestral espiritual Thoreau, merece mais da história.

Frank Chodorov uma vez escreveu que qualquer pessoa que o chame de “conservador” merece um soco no nariz. Acho que o mesmo destino poderia ser dado para aqueles que estão tentando atribuir esse rótulo a Albert Jay Nock.

Nock, autor de “An Anarchist’s Progress”, definiu o Estado como aquela instituição que “reivindica e exerce o monopólio do crime” em sua reclamada área territorial. “Ele proíbe o assassinato privado, mas organiza assassinatos em grande escala. Pune o roubo privado, mas ele mesmo põe as mãos sem escrúpulos em qualquer coisa que deseje, seja propriedade de cidadão ou de estrangeiro.”

Assim, ele cita e concorda com a acusação de Mencken, de que o Estado é “o inimigo comum de todos os homens bem-intencionados, trabalhadores e pessoas decentes”. É isso o conservadorismo? Uma teocracia, caças às bruxas e censura? Com seu grito de guerra sendo “apoie a polícia local”?

Conservadores santificam a Constituição Americana… Vamos contrastar esse documento com uma crítica realista e incisiva de Nock em:

Nosso inimigo, o Estado

Os interesses econômicos americanos dividiram-se em duas grandes facções. Os interesses especiais de cada uma se uniram com o intuito de tomar o controle dos meios políticos. Uma facção abrangia os interesses da especulação, os interesses da indústria-comércio e dos credores, com seus aliados naturais do meio jurídico, religioso e da imprensa. A outra facção abrangia os agricultores, artesãos e a classe devedora em geral…

O esquema nacional (de acordo com o apresentado na Constituição) era de longe o mais adequado aos interesses (da primeira facção) pela razão de permitir uma centralização cada vez maior do controle sobre os meios políticos. Por exemplo, muitos dos industrialistas podiam ver a grande vantagem de poder expandir suas operações de exploração em uma área de livre-comércio em todo o território nacional protegida por uma tarifa geral. Quanto mais próxima a centralização, maior a área explorável. Qualquer especulador de valores de aluguel rapidamente perceberia a vantagem de pôr essa forma de oportunidade sob controle unificado. Qualquer especulador vinculado a títulos públicos desvalorizados estaria fortemente a favor de um sistema que pudesse oferecê-lo o uso dos meios políticos para resgatar seu valor nominal investido. Qualquer proprietário de embarcações ou comerciante estrangeiro logo perceberia que seus interesses estavam alinhados a um Estado que, caso abordado corretamente, poderia emprestar-lhe o uso dos meios políticos por meio de subsídios, ou poderia apoiar alguma empreitada lucrativa, embora duvidosa, com “representações diplomáticas” ou com represálias.

Os agricultores e a classe devedora em geral… [não estavam favoráveis em] estabelecer uma réplica nacional do estado mercantil britânico, o que eles percebiam ser precisamente aquilo que as classes agrupadas na grandiosa divisão oposta tinham a intenção de fazer. Tais classes tinham como objetivo implementar o sistema britânico de economia, política e controle judicial em escala nacional; e os interesses agrupados na segunda facção percebiam que isso resultaria em uma mudança da incidência da exploração econômica sobre si mesmos…

A convenção [Constitucional] era formada totalmente por homens representando os interesses econômicos da primeira facção. A grande maioria deles, possivelmente uns quatro quintos, eram credores públicos; um terço eram especuladores de terras; alguns eram prestamistas; um quinto eram industrialistas, comerciantes, transportadores e muitos deles eram advogados. Eles planejaram e executaram um coup d’État [1] , simplesmente lançando os Artigos da Confederação no cesto de lixo e redigindo uma constituição de novo.

Nock desprezava o Conservadorismo plutocrático, e com razão viu Herbert Hoover como a personificação correta desse ponto de vista.


Compreendendo as origens do estatismo nos grandes negócios da América, Nock ridicularizava os conservadores que se uniram a ele em oposição ao New Deal, mas que na realidade foram os responsáveis por criar as bases para o mesmo.

Acima de tudo, Albert Jay Nock odiava o militarismo e a intervenção em guerras no estrangeiro, opondo-se firmemente não apenas às Guerras Mundiais, mas também, e com grande veemência, à uma invasão agressiva da América na Rússia após a Revolução Bolchevique.

Não há espaço aqui para discutir todas as grandes contribuições de Albert Nock à análise e ao pensamento da política… Seu uso da distinção proposta por Franz Oppenheimer, entre “meios econômicos” e “meios políticos” e sua análise do Estado como a organização deste último; sua visão da história como essencialmente uma corrida entre o poder do Estado e o poder da sociedade; sua oposição à educação compulsória em massa…Basta concluir que Nock foi um autêntico radical americano, na grande tradição proveniente de Henry Thoreau. Seu único erro foi seu pessimismo arraigado em relação a qualquer melhoria real no mundo moderno; embora, considerando o que muitos de seus epígonos[2] contemporâneos fizeram dele, seu pessimismo pode muito bem ser justificado.

Notas:

[1]Tradução direta do francês: golpe de Estado.

[2]Substantivo masculino Representante da geração seguinte. Seguidor, discípulo de um grande mestre nas letras, nas ciências, nas artes. (Antôn.: prícono.).

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