Fato conhecido entre os austríacos é o de que sociedades com baixa preferência temporal (poupadoras) possuem mais riqueza que sociedades de alta preferência temporal (consumistas), em geral.
Porém, essa não é uma verdade necessária e para entender isso, nós precisamos regredir aos fundamentos. Assim como todos os conceitos austríacos, nós temos aqui um lastro na experiência sensível.
Riqueza é satisfação de vontade.
Quando dizemos que uma sociedade é mais rica que a outra, estamos dizendo que mais vontades estão sendo satisfeitas na sociedade A do que na sociedade B. Quando dizemos que determinado indivíduo é mais rico do que outro, estamos dizendo que em dado momento ele representa mais vontades satisfeitas do que outros indivíduos.
Importante entender aqui que as vontades não possuem mesmo nível (existe um passado real), sendo assim, se satisfazemos a vontade de um homem rico através de i.e. nossa simples existência (herdeiros de milionários aqui), nós estamos representando a satisfação de apenas uma vontade mas que satisfez antes toda uma cadeia de vontades anteriores (pressupondo que a riqueza está ali pelo meio econômico e não pela espoliação).
Quando então pensamos e projetamos isso para a sociedade e começamos a entender coisas como o custo, nós começamos a entender de forma mais ampla o que significa alguém ter dinheiro para algo: ela satisfez mais vontades alheias do que o esforço necessário para atingir determinado fim.
E faz bastante sentido entender porque é que o empreendedor sempre busca diminuir o custo, pois diminuir o custo de qualquer coisa a qualquer tempo significa não apenas reduzir o esforço feito, mas ter que satisfazer menos das vontades alheias necessárias para obter determinado produto.
Essa diminuição de custo vai tornando possível que nós nos passemos a dispensar nossos esforços em empreendimentos cada vez mais complexos. E a razão para isso está justamente na utilidade marginal. Na medida em que estamos em estados mais confortáveis, mais esforço é necessário para que possamos ir para um estado mais confortável.
Assim, na medida em que as sociedades evoluem e as necessidades mais básicas vão sendo satisfeitas, e que nesse processo acontece a diminuição dos esforços para alcançar objetivos mais primários e o foco em objetivos mais complexos pela utilidade marginal de nossos empreendimentos, quanto mais necessidades atendidas básicas atendidas e menos esforço sendo empregado em atividades básicas, mais simples é o ato de escalar a produção.
Böhm-Bawerk chamou essa percepção de produção indireta, nosso famoso roundaboutness. A grande questão é que isso só é verdade em sociedades onde a quantidade de esforço despreendido já foi reduzido através da função empresarial, sociedades mais complexas e que de fato lograram em satisfazer a media das vontades da sociedade. E isso é verdade para quase todas as sociedades pós-industriais.
O problema é que a experiência não nos deixa aplicar a mesma lógica para sociedades mais primitivas. Como assim? Bem, trocas primitivas precisaram acontecer entre vontades mútuas e de mesma ordem, antes do início do acúmulo de riqueza, onde as necessidades ainda eram as vontades a serem incorporadas pelo homem, não havia a mesma capacidade de inovação oferecida pelo próprio processo de trocas.
Consumir e produzir não respondiam aos elementos essenciais da baixa preferência temporal, da mesma forma como crianças tem uma alta preferência temporal e um grande processo de aprendizado, as sociedades que tinham mais preferência temporal foram as que mais cresciam no passado. Porque?
É que é o conhecimento que vai sendo acumulado pela própria interação social que vai ser o responsável por criar um processo que recompense a baixa preferência temporal, pela redução de custos pela inovação e eliminação de vontades primárias.
Sendo assim, ao que tudo indica, sociedades primitivas que fossem mais consumistas tinham uma condição melhor para criar as condições que privilegiam sociedades mais poupadoras, sendo esse um processo de “evolução natural”.
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