Pressuposição sobre a Razão

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Os argumentos a seguir se referem a uma questão que me chegou a mente, proferida por Marlboro, de que a racionalidade em outrem é/tem que ser pressuposta, e de que isso seria um problema.

Bom, minhas reflexões sobre isso vem da questão do próprio ato de propor normas. A reflexão é a seguinte:

“Para toda norma por alguém proferida, essa pessoa (a que profere), estará aceitando (mesmo que implicitamente) um mínimo racional e cognitivo para com todos no escopo de sua norma.”

Tudo bem, mas o que isso significa realmente?

Basicamente, que quando propomos normas, quaisquer que sejam, proferidas por qualquer ser que seja, estamos aceitando, mesmo que implicitamente (com consequências para uma possível não aceitação que tornaria impossível essa discordância [serão explicadas abaixo]¹) que os seres inclusos no crivo de nossa norma são, ao menos, minimamente racionais.

Agora, sabendo que quando um proponente normativo profere uma norma, ele, mesmo que implicitamente, aceita ao menos um mínimo racional, e negá-lo implicaria em uma série de problemas que tornariam sua norma absolutamente vazia de si. Podemos efetivamente dizer que pressupor racionalidade em uma teoria que trata exclusivamente sobre normas não é algo vazio de si, ou mesmo contingente, é, portanto, necessário.

Partindo disso, podemos descartar qualquer que seja a crítica que aborde a questão da pressuposição de racionalidade, mas, e quanto a críticas que abordam ninguém mais, ninguém menos que si mesmo, ou mesmo, quando temos que o proferido é que ninguém siga normas.

Bom, primeiramente, a questão mais simples, quando proferimos que ninguém deveria seguir normas (pronunciado dessa forma, ou imperativamente – algo como NÃO sigam normas), em ambos os casos existe uma constatável emissão normativa, a de não seguir normas. Ela por si só já pode ser descartada por essa simples inconsistência entre propor uma norma, e propor, dentro dessa norma, que ninguém siga normas, ora, ainda é uma norma, essa estrutura não poderia se sustentar (e mesmo que se sustentasse, ainda incorreria na questão da racionalidade sobre normas ¹).

Agora, passando ao ponto mais complexo, sobre a auto imposição da extinção normativa (não que isso a exclua como norma própria, também possuindo tal caráter de aceitação de racionalidade implícita ¹, mas vamos ignorar isso por um momento).

Estamos aqui, agora, para eficientemente buscar que, quando o indivíduo se auto impõe o não seguimento de normas (ignorando o elemento ¹), ele também está, ao menos em um nível estritamente pessoal, se removendo da capacidade de inserção normativa para com a ética (nesse contexto, estou assumindo que a situação é a de uma sociedade libertária baseada na ética de propriedade, logo veremos o motivo ²).

Vemos que o indivíduo em questão, esse negativista ético, comete um crime, tal nessa situação que esse crime seja assassinato (por conta de sua gravidade), por que, partindo dessa situação na qual o indivíduo negativista ético (o chamaremos de indivíduo X, ou apenas, X) demonstraria a completa inutilidade da crítica para com a situação?

Antes de mais nada, para fins didáticos, utilizamos-nos aqui de uma ferramenta, o Estoppel, para melhor ilustrar a situação.

Quando esse indivíduo cometer tal crime, e alguém o for punir (obviamente, nesse contexto, punição de morte com morte), o mesmo apenas teria 3 opções a disposição, são elas:

1. Aceitar a punição e ser morto (demonstrando que a crítica se faz de inútil [obviamente por não propor uma normatividade, ele sequer chegou a ser um proponente normativo, mas ainda assim se fez de animal, e tal qual um, será punido]);

2. Eliminar seu potencial assassino, evadindo-se assim da necessidade de propor normatividade (basicamente recaindo no ponto 1, creio que seja inútil re-explicar aqui);

3. Contestar sua punição, nesse caso, temos que aqui o niilista se torna um proponente normativo não é mesmo? (ora, aceitando ele uma forma de normatividade ao contestar sua punição, estaria ele mesmo confirmando a questão ¹, e demonstrando que pressuposições acerca da racionalidade são NECESSÁRIAS a situações como essa? Certamente que sim, isso, ao menos ao meu ver, já seria o suficiente para descartar suas ambições, sua utilidade [da critica], não estou afirmando que isso a refutaria, apenas que isso a demonstra como inútil e vazia de sentido, uma crítica que poderia ser descartada).

Como agora temos que ambas as situações nos levariam a um mesmo fim (o da inutilidade da crítica). Assim, deixo a questão, será mesmo essa crítica relevante a nós? Ou podemos, como afirmado por mim, descartá-la? Bom, deixo a resposta para o leitor.

Notas:

[1] Agora, note que, quando assumimos que podemos negar esse minimo de racionalidade, essa capacidade, ao menos inferior de compreender, e, possivelmente, obedecer (ou não) a essas normas. Se negássemos isso, por que então proporíamos normas?

Proporíamos coisas vazias de sentido, mesmo quando nos auto imputamos normatividade, como quando dizemos a nós mesmos que devemos praticar exercícios regularmente, estamos, com esse ato, pressupondo nossa capacidade de seguir as normas, de compreendê-las, ou até mesmo de rejeitá-las livre e racionalmente (obviamente nesse caso especifico não é algo desejado).

E quando negamos que as pessoas dentro de nosso crivo normativo são racionais, estaríamos afirmando algo mais, senão que nossas normas não poderiam ser seguidas? Estaríamos nós propondo normas a pedras? A nuvens? A planetas, estrelas, árvores, madeira, ferro, rocha, tijolos? Ou estaríamos nós, num ato de sandice, normatizando o nada?

Ora, quando falamos de norma, não há como eliminarmos o caráter essencial de aceitação da racionalidade (mesmo que mínima), é algo tão essencial a qualquer norma que meramente negar ele ao propor uma norma a faria vazia de sentido e conteúdo. Eu poderia citar mais 1.000 motivos para que esse argumento sequer tenha relevância, mas creio que os que dei sejam o bastante por agora.

[2] Agora, vejo relevância em demonstrar a necessidade da utilização dessa sociedade como exemplificadora de meu argumento, pois, dessa vez, não estou tentando atacar a critica como questão epistemológica per se (muito embora ela seja atacada de acordo com o parâmetro ¹), e sim, demonstrar que a mesma pode ser descartada, por inutilidade.

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