No presente artigo da sequência, darei explicações sobre a estratégia de contraeconomia, a qual citei nos artigos anteriores da série. No entanto, antes de tudo, é necessário que saibamos qual é o conceito de economia. Assim feito, as dúvidas a respeito da estratégia passam a serem respondidas e tudo se torna mais claro.
Nessa direção, é imprescindível destacar que a economia faz parte do nosso dia-a-dia. Ela é usada pelo Estado para controlar a população, pois a anatomia do Estado é de uma entidade coercitiva que obriga as pessoas à se sujeitarem às suas decisões. Com isso, o poder que tem em suas mãos o permite violar a liberdade individual.
Outro fator que torna importante entender a economia, é que ela te faz entender como funciona o mundo. Fica claro, dessa forma, que é preciso saber o que significa a economia para que possamos progressir, de forma coerente, numa luta contra o Estado. Segundo o próprio Konkin [1], “se as pessoas entendessem de economia, governos coercitivos não existiriam”(KONKIN, 2017), e, como ele próprio explica, governo não coercitivo é uma contradição em termos.
Além disso, podemos agora entender o que é a economia: ela é o fenômeno da ação humana dos indivíduos buscando satisfazer seu conforto diante da escassez material. A escassez é a origem de todos os conflitos, com a economia não é diferente. Um mercado surge sempre quando há uma demanda para a oferta, e como essa oferta não é infinita, vem à tona a produção e o consumo dos bens, que se tornarão bens econômicos ao serem misturados bens de natureza e trabalho humano aplicado.
Além disso, temos alguns conceitos concernentes ao conceito de econômica, que pode ser entendido sob a égide da ciência econômica [2]. O primeiro princípio econômico que vamos falar é o valor . Mas, antes de falar efetivamente de valor, precisamos entender um dos principais conceitos da Escola Austríaca de Economia, o axioma da ação humana. Proposto por Mises, ele é a base da praxeologia, o estudo da ação humana, que serve como fundamento para o entendimento da escola austríaca. Essa afirmação é uma axioma porque se a pessoa considerasse que a ação dela vai levar para uma situação de menor satisfação, ela não faria.
E isso é verdade em todos os casos. Você pode até dizer que uma pessoa pode se mutilar ou se machucar, mas ainda assim, ela está fazendo aquilo porque considerou que, naquele momento, isso deixaria ela em uma melhor situação que a atual. Em um mundo de bens escassos – o que, por sinal, é o campo de estudo da economia – as pessoas podem escolher entre diversos recursos escassos e diversos objetivos, quais elas vão perseguir.
Além disso, essa pessoa pode ter sucesso em seus objetivos ou não, mas isso não é relevante para nós, porque não temos como julgar o que é um resultado satisfatório ou não. Então, quando vai agir, a pessoa escolhe aqueles recursos que são mais importantes para ela atingir o objetivo escolhido. É daí que se origina o valor das coisas: dessa preferência que as pessoas tem pelo recurso que vai permitir ela atingir seus objetivos. Mas note uma questão interessante: não é possível dar um número, um índice, par essa preferência. É possível apenas ranquear essas preferências. Não é possível eu mensurar e dizer que prefiro três vezes mais prato de macarrão em relação a um prato de arroz. Eu consigo apenas dizer que prefiro um prato de macarrão a um prato de arroz.
Essa ordem de preferência muda de pessoa para pessoa e de momento para momento. Eu posso preferir macarrão hoje, mas depois de alguns dias não querer mais macarrão, preferir arroz. Por esse motivo, além de ser impossível mensurar o valor, é impossível compará-lo entre pessoas diferentes. A única coisa que podem fazer é ranquear essas preferências. É por esse motivo que dizemos que o valor é subjetivo, ele depende de pessoa para pessoa e também ao longo do tempo. E aqui, por consequência disso, temos uma conclusão muito importante: as trocas voluntárias só acontecem porque o valor é subjetivo.
Isto é, uma troca só acontece porque uma parte prefere mais o que está recebendo do que o que está entregando. E o oposto para a outra parte. Considere alguém que está comprando um biscoito por 5 reais: a troca apenas acontece porque o comprador prefere o biscoito aos 5 reais. Já o vendedor só vende porque prefere os 5 reais ao biscoito. Se qualquer uma dessas duas premissas não for verdadeira, a troca voluntárias simplesmente não acontece. Isso é muito importante porque demonstra os erros de todas as teorias de “exploração”, de que as pessoas são exploradas pelo capitalismo e pelas trocas voluntárias não-reguladas. As pessoas fazem trocas porque elas preferem essa nova situação, não porque elas são obrigadas a fazer de outra forma. Exatamente o contrário do que as políticas socialistas fazem, e exatamente porque o socialismo não respeita o livre-arbítrio e a liberdade.
Portanto, podemos dizer que o valor é dado pelos consumidores em sua ordem de
preferência de seus objetivos, que então dão valor para os bens escassos para atingir estes objetivos. Com base no valor dado a esses bens de consumo escassos, o valor dos bens anteriores na cadeia produtiva são definidos.
Assim compreendemos, então, que o conhecimento econômico, e a valoração subjetiva da economia, são fatores fundamentais ao agir em prol de um estado maior conforto. No próximo artigo entenderemos a utilidade marginal descrescente e, mais um pouco à frente, o que é contraeconomia e porque ela pode derrubar o Estado.
NOTAS
[1] Para entender melhor quem foi Samuel E. Konkin II, leia o último artigo da série o qual é anterior a este.
[2] Todos os fenômenos podem ser estudados pela ciência, com a economia não é diferente e damos ao nome para isso de ciência econômica.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
KONKIN, Samuel. O Manifesto do Novo Libertário. Artigo publicado pela Libertyzine. 16 de março de 2017.
Agorismo: Liberdade Na Prática. Roteiro. Curso da Universidade Libertária. Sessão 1: Introdução; Sessão 2: O Que É O Agorismo?
Pesquisa: “Quem foi Samuel Edward Konkin III?”, em 14 de janeiro de 2021. Acesso em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Samuel_Edward_Konkin_III.