Bitcoin, a desconfiança e as elites 

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Os hotéis do Caribe possuem uma característica peculiar, eles permitem que você consuma invariavelmente sem pedir-lhe comprovação de pagamento ou requerer qualquer espécie de garantia além do Check-In. Isso acontece porque as barreiras de entrada existentes para a entrada em locais de alto poder aquisitivo no Caribe são significativamente altas. O ambiente frequentado por tais pessoas é um ambiente onde presumivelmente a confiança é maior do que em outras. O indivíduo que se esforçou para chegar ali tem fortes incentivos para apresentar comportamento econômico condizente com o local. 

Isso pode ser identificado em vários outros lugares pelo mundo; em Dubai é possível deixar as portas do carro abertas ainda que você tenha um carro considerado de marca cara ou de luxo; nos Estados Unidos as famílias com histórico patrimonial geracional possuem crédito incomparavelmente mais alto do que famílias do mesmo poder patrimonial, mas sem o mesmo histórico, seja na contratação de seguros, hipotecas ou empréstimos pessoais, em verdade podemos aferir que as maiores empresas do mundo andam com certa frequência com balanços patrimoniais negativos, indicando um prejuízo que seria proibitivo para aquisição de crédito caso se tratasse de uma pessoa física. O que todos esses cenários têm em comum? A criação de um cenário de confiança e a inclusão de novos participantes nesse cenário, a postura geral dos novos participantes corrobora com os elementos pré-existentes criando um cenário de um ciclo positivo de confiança.  

Mas, se a confiança é importante nessas áreas, o cenário de criptomoedas é baseado justamente na possibilidade de um consenso sem confiança, onde os agentes individuais não precisam recorrer aos elementos históricos de compreensão do sujeito, como seu patrimônio ou seu histórico familiar, mas podem recorrer de forma imediata ao um código imparcial que une todos os seus participantes. 

Nesse sentido, a confiança, amiga que é da geração de riqueza entre as elites, contrapõe-se de muitas formas a oposição de uma confiança no código em si. Isso parece indicar que a elite e os mecanismos de manutenção e expansão de sua influência sejam inimigos naturais do Bitcoin e de outras criptomoedas. Será que é o caso? 

Enquanto é verdade que haja elementos antagônicos, é preciso entender que o estilo de geração de riqueza e de vida da alta sociedade não é o único estilo possível para esse estrato social. Ele é resultado de uma confiança em uma certa estabilidade da vida alcançada quando eliminamos considerações de graus menores, mas ele não é resultado da geração de riqueza em si mesma.  

Ele vem do fato que estabelecemos certas artificialidades no convívio humano, criadas para proteger o status quo financeiro de uma dada época e de um dado lugar, que fazem com que a reputação do sujeito signifique não apenas que o sujeito é confiável, mas que é líquido e certo, de uma forma que invariavelmente um contrato não é líquido e certo, que o dinheiro será entregue pela elite, seja por meio do confisco direto dos recursos dos cidadãos (no caso da elite estatal), seja por meio da criação de normas proibitivas para concorrentes, ou por meio da impressão de dinheiro (no caso da elite financeira corporativista). 

Mas, a maior parte dos indivíduos que produzem riqueza não estão nessas condições artificiais. É justamente o contrário. O empreendedor médio bem-sucedido precisa se precaver contra as mudanças de mercado, contra o calote, contra a falha na especulação, contra todas as variáveis que podem surgir numa economia de alto grau concorrencial. 

As criptomoedas vieram anular essas mudanças da regra de jogo e criar uma elite baseada no consumo real, menos segura, mas muito mais sustentável do ponto de vista social. 

Com isso, a tendência é que igualando os agentes em um mesmo conjunto de regras imutáveis, ou ao menos mudados por um sistema imparcial, público e direto de consenso, (não é possível haver confisco, não é possível haver ampliação surpresa da base monetária ou alteração radical das regras vigentes para beneficiar um determinado grupo) igualem-se os princípios e as formas pelas quais se confia em alguém, fazendo com que a sociedade como um todo seja capaz de, paradoxalmente, confiar mais em cada indivíduo. 

Essa forma de fazer negócios tem uma coisa em mente: a confiança é acima de tudo uma relação e fomentar essa relação entre as pessoas s é incentivar a propagação desses valores, reputação, entrega, segurança no mundo, sem para isso ter que recorrer a um ente centralizado, pessoa a pessoa, peer-to-peer. 

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