Invasores do Estado

Tempo de Leitura: 4 minutos

Publicado originalmente em SEK3.

O Partido Libertário é o veículo de uma invasão do Estado às fileiras do movimento libertário. Seus defensores, fiéis à necessidade de misticismo e contradição do Estado, clamam que o PL é a estratégia prática para obter a sociedade livre; caso contrário, é outra tática, a ser experimentada e testada com outras táticas; na falta disso, é uma ferramenta educacional, para atrair convertidos como um passo para o ativismo contra-econômico hardcore.

O PL é o Nenhuma das Opções Acima. É um instrumento vicioso do Estado. Para os libertários, é imoral, impraticável, antieconômico, estrategicamente inseguro e praxiologicamente debilitante.

O fundamento do estatismo é o misticismo deliberado, calculado para obter a aquiescência dos oprimidos ou “a sanção da vítima”. A fim de obter essa “autoridade”, ou legitimação de ações imorais, cria formas sem sentido para deslumbrar as massas – grande juju! Tal era o governo divino dos reis, tal era o nacionalismo, tais eram os imperadores e czares que restauravam a glória morta de Roma. Tal também é o jogo da democracia. A regra é reter para si a violência, mas lutar pelo uso de violência aceitável e legitimada. Aqueles que disputavam as rédeas do poder eram chamados, na Inglaterra hanoveriana, de partidos na disputa.

Um partido político, então, é um coletivo cujo propósito primordial e razão de ser é tomar o controle do Estado para pilhagem e coerção por sua causa. (Restringir a pilhagem de curto prazo — o liberalismo — é uma possível causa.) Todas as reivindicações do contrário são tolices e mentiras.

Um “Partido Libertário” é uma pura contradição — se libertário significa anti-coerção e, portanto, antiestado. Aqueles que se juntam abertamente proclamam sua lealdade a uma “gangue secreta de assassinos e ladrões” — derrubando o sigilo. E assim se proclamam imorais.

A maioria dos norte-americanos têm uma compreensão inarticulada de que a política é uma tomada de poder nauseante. Cinco em cada oito eleitores rejeitaram-se a usar seu direito a voto em 1974, preferindo não se sujar no jogo. Essas pessoas respondem positivamente a uma imagem do libertarianismo como um veículo para uma Sociedade Sem Política, e ficam confusas e hostis aos apelos para se registrar e votar em uma posição que não acredita em registro nem voto.

Além disso, muitos eleitores são coagidos e intimidados a votar pela propaganda forçada pelo Estado, lançando culpas injustificadas no eleitor relutante. Os mesmos fundamentos que justificam o recrutamento são ouvidos: “Dever! Honra! País! Salve a Democracia!” Um ataque a essa hipocrisia alivia essas pessoas e as faz olhar favoravelmente para o movimento que não exige um auto sacrifício tão mesquinho.

O PL afasta a grande maioria faminta por uma posição libertária consistente. É, portanto, uma arma prática e extremamente potente — para o Estado!

Centenas de milhares de dólares são desperdiçados por libertários que doam tempo e tesouros para os cofres inchados do PL. Nem mesmo Nelson Rockefeller poderia pagar os pródigos $6,50 por voto desperdiçados pela Campanha Tuccille para Governador do Partido Libertário Livre de Nova York em 1974. E Rockefeller contrata seus funcionários de campanha.

Como um exemplo brilhante de eficiência de mercado, o Partido Libertário é um grande argumento para a burocracia.

A última posição dos defensores do PL é afirmar que pelo menos os políticos podem usar o partido como um trampolim para o exterior. Mas, na verdade, o PL obtém essas pessoas apenas quando essas veem o partido se aproximando do poder. Os maquiavélicos profissionais não se importam a quem sua lealdade é devida, apenas com quem pode pagar.

Quase todas as fileiras do PL são compostas por idealistas que desconhecem as oportunidades alternativas ativistas, e a grande maioria dos novos convertidos não votaria se o PL não os iludisse a isso. A rotatividade é grande (quase 50% ao ano em Nova York, por exemplo) e a maioria dos ex-membros “Browne-Out”, acabam rejeitando a política e por muitas vezes também rejeitando formas mais frutíferas de ativismo.

Assim, o PL ou remistifica o processo estatista ou neutraliza os adversários do Estado. Mais uma vez, uma estratégia mais vencedora — para o Estado.

Pesquisas recentes revisadas em Laissez Faire Review, Libertarian Forum e Libertarian Review apontaram a necessidade psicológica de condicionar respostas submissas à autoridade como um pré-requisito para o controle do poder. O PL ensina o “libertário” a submeter sua vontade à coletividade e a executar as decisões a que se opõe pela “vontade da maioria” e pelo “bem do partido”. O procedimento parlamentar lhe ensina a frustração, a confusão e o abandono da organização de mercado. Acordos de bastidores, traições e blocos de poder ensinam-no a sobreviver — em um Estado. Nenhuma das atividades do partido é calculada para recompensar a iniciativa, o individualismo ou o risco de lucro. E o PL precisa de um monopólio, pois se é para vencer — a necessidade primordial — não se pode tolerar uma divisão. Assim renasce o coletivismo.

E assim, no final das contas, o Estado permaneceria triunfante caso o partido prosperasse. Já o PL descarta seus idealistas pelos maquiavélicos na parte de trás em sua liderança, em preparação para seu papel. O Partido Libertário está quíntuplamente condenado como invasor do Estado, um Cavalo de Tróia, um Saruman, um Judas.

Até que nos libertemos, não podemos pregar a libertação de outros sem ganhar legitimamente suas risadas zombeteiras.

O Partido Libertário precisa partir — agora!


Libertarian Review

Volume 5 Número 2 / maio-abril de 1976

Páginas 10-11

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *