184 anos atrás, a Revolta da Missa do Galo ou Revolta dos Malês como ficou mais conhecida estava prestes a acontecer. Liderada por negros que graças a religião islâmica possuíam domínio da escrita e da leitura, nagôs e haúças juntavam armas e confabulavam para dominar Salvador. 600 bravos homens que se insurgiam principalmente contra a escravidão local e que tinham a intenção de organizar ali uma nação malê. Encontraram eles no árabe e naquilo que ficou conhecido como a delicadeza Malê a teia necessária para se organizar ao longo das diversas regiões da cidade.
A palavra de ordem em todos os textos era sempre Liberdade. Esses homens ansiavam a liberdade do jugo dos homens poderosos, de maioria católica que reinavam por seus corpos e por sua autonomia. Os rebeldes tinham planejado o levante para acontecer nas primeiras horas da manhã do dia 25, mas foram denunciados. Uma patrulha chegou a uma casa na ladeira da Praça onde estava reunido um grupo de rebeldes. Ao tentar forçar a porta para entrarem, os soldados foram surpreendidos com a repentina saída de cerca de sessenta rebeldes.
Uma pequena batalha aconteceu na ladeira da Praça, e em seguida os rebeldes se dirigiram à Câmara Municipal. A Câmara foi atacada porque em seu subsolo existia uma prisão onde se encontrava preso um dos líderes malês mais estimados, o idoso Pacifico Licutan, de nome Billal. Este escravo não estava preso por rebeldia, mas porque seu senhor tinha dívidas vencidas e seus bens, inclusive Licutan, foram confiscados para irem a leilão em benefício dos credores. Diversas revoltas aconteceram até que todos os revoltosos foram mortos e a rebelião encerrada.
Existem alguns detalhes que tornam esse evento mais frio, como o fato de que eles pretendiam escravizar ou matar os senhores de engenho que antes os haviam escravizado e torturado. A ideia era criar um sistema político baseado primordialmente no jugo muçulmano, pré jihadista. Outra coisa interessante é que o principal responsável por manter a identidade da Revolta dos Malês intacta foi justamente um padre chamado Etienne Ignace, que muito escreveu sobre os episódios e contribuiu inclusive com a tradução de alguns dos textos bem como sua manutenção.
Outra característica interessante é que a habilidade deles em se organizarem se centrava não apenas nos homens libertos mas principalmente nos tidos escravos de ganho, uma característica peculiar da revolta. Longe de enaltecer essa revolta com um caráter claramente sanguinário, eu gostaria de salientar a ânsia confusa de liberdade que esses homens tinham. O problema para eles não era o de que homens escravizassem outros homens, mas o de que eles fossem os escravizados. Tudo o que queriam era inverter essa ordem de forma a se satisfazerem.
O movimento negro esconde-se de comentar essa importante revolta porque mostra o quão radicais podem ser as ideias de revolta ainda que justificadas. Defenda uma ideia universal que é cega a etnias e vê apenas a humanidade no próximo e assim podemos gritar juntos: Liberdade!
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