A Natureza do Socialismo

Tempo de Leitura: 14 minutos

Por Mateusz Machaj[1]

[Tradução de The Nature of Socialism por Alex Pereira de Souza, retirado de Proeprty, Freedom, and Society: Essays in Honor of Hans-Hermann Hoppe, cap. 33]

Ao dificultar e, é claro, ainda mais, ao tornar totalmente ilegal para empresários privados vender meios de produção de zeladores, um sistema de produção socializada impede que as oportunidades de melhoria sejam aproveitadas na medida em que são percebidas.

— Hans-Hermann Hoppe[2]

Conheci o professor Hans-Hermann Hoppe em 2003, quando ele visitou a Polônia para uma conferência libertária. A maioria dos participantes estava interessada em questões normativas e filosofia política, enquanto muito poucos estavam interessados ​​em economia austríaca. Por isso, coincidentemente, fui o único a me envolver com o professor Hoppe em extensas discussões sobre as teorias da Escola Austríaca. Não hesitei descaradamente em consumir seu tempo para o benefício pessoal de aprender mais sobre economia com um dos seguidores mais importantes de Rothbard. Depois dessa reunião, a sorte continuou a sorrir para mim — descobri que, apesar da distância geográfica substancial, eu tenho tido conversas tão produtivas com meu mentor alemão pelo menos algumas vezes por ano.

Um dos meus livros favoritos, e um dos mais importantes para o meu desenvolvimento intelectual, foi A Theory of Socialism and Capitalism, de Hoppe, que poderia ser rotulado de “economia da propriedade em uma lição” e, na opinião do presente escritor, é tão importante para introdução à economia austríaca como clássico de Hazlitt. Depois de ler o livro de Hoppe, entende-se que a economia política e a análise comparativa de sistemas econômicos tratam dos efeitos externos de diferentes regimes de propriedade. Como Hoppe prova, a sociedade e a economia são eles próprios grandes efeitos externos positivos da propriedade privada,[3] enquanto o socialismo e o intervencionismo estão associados a efeitos externos negativos que eventualmente levam à destruição da sociedade e da economia.[4] Gostaríamos de seguir os insights de Hoppe aqui: o artigo abaixo tenta reformular o argumento de cálculo de Mises em um argumento de propriedade. A propriedade privada proporciona enormes efeitos externos positivos que desaparecerão quando for abolida.

Uma Analogia Boa e Má

Imagine um concurso de dança em que um grupo de juízes avalia os dançarinos. São necessários três elementos essenciais, sem os quais nenhum julgamento desse tipo seria possível. O primeiro é um sistema de numeração cardinal. Cada juiz tem certas avaliações qualitativas sobre cada desempenho; ele poderia classificar todas as performances em ordem de acordo com sua visão. No entanto, não haveria como comparar essas avaliações individuais vis-à-vis cada outra sem a existência de um denominador comum. O uso de números cardinais serve a essa função. Os números oferecidos pelos juízes são simplesmente somados, e então o resultado final nos mostra um ranking de todas as performances.

O segundo elemento, necessariamente ligado a esses números, é uma quase “competição” entre visões de juízes. Obviamente, se todos os juízes expressassem a mesma opinião, não adiantaria ter mais de um. Até certo ponto, eles diferem e fazem julgamentos diferentes (mesmo que possam terminar com a mesma conclusão). A existência de mais de um juiz justifica a utilização de classificações numéricas, pois estas servirão como denominador quantitativo comum para todas as opiniões qualitativas. Se houvesse apenas um juiz, não precisaríamos de números cardinais, pois ele poderia apenas classificar as performances sem atribuir números cardinais a elas.

O terceiro elemento essencial é um conjunto de regras e restrições. Os juízes agem dentro de certos limites estabelecidos pelas regras. Por exemplo, eles são limitados em sua escolha de números de 1 a 10 e, portanto, não podem oferecer sua pontuação infinitamente. Além disso, nenhum juiz pode anular a decisão de outro juiz, e não há juiz supremo que atribuiria números possíveis a outros juízes de nível inferior. Caso contrário, se houvesse um juiz final, por exemplo, permitindo que os juízes usassem apenas certos números, então ele decidiria sobre a avaliação final, e não os próprios juízes. Nessa condição absurda, o processo decisório se resumiria a um processo em que não seriam necessários nem os juízes de nível inferior nem os números que eles utilizam. A situação em vigor seria a mesma em que um juiz avalia os desempenhos com base em suas preferências. Nesse caso, a avaliação qualitativa poderia substituir a numérica.

Esses três elementos estão integrados e não podem prescindir um do outro. Sem números, não pode haver denominador comum para todas as avaliações qualitativas. Se os juízes não diferem em suas avaliações, então não faz sentido usar números em primeiro lugar. (O uso de um denominador não seria necessário.) E se não houver regras relativas à avaliação numérica, todo o processo não fará sentido.

Por mais trivial que isso possa parecer, na verdade nos fornece uma demonstração da diferença entre socialismo e capitalismo. Chamo essa analogia de “analogia boa e má”, porque é boa e ruim. É bom, porque demonstra algumas conexões que também estão presentes na economia capitalista. A analogia também é muito ruim, porque o processo de mercado não é como uma competição de dança, portanto, a analogia pode ser facilmente mal interpretada.

Cálculo no Capitalismo: A Analogia Aplicada

O objetivo deste artigo é apontar que as “razões de preços”, enquanto razões numéricas per se, não são o elemento-chave na análise do socialismo, pois é uma estrutura de propriedade que o diferencia do capitalismo. Embora a analogia da competição acima não descreva exatamente o processo de mercado, podemos entender algumas observações a respeito. O próprio mercado está necessariamente ligado a três elementos interligados, que não podem existir separados uns dos outros: o cálculo econômico, a divisão intelectual do trabalho e as restrições à propriedade privada.[5]

O cálculo econômico permite a comparação de muitas maneiras diferentes de produzir coisas. Imagine que alguém queira produzir uma mesa — o leque de possibilidades é enorme. Pode-se usar diferentes ferramentas, máquinas, recursos ou trabalhadores. Todos estes são heterogêneos e não podem ser somados em termos físicos ou horas de trabalho. Felizmente, há cálculo econômico — todos os fatores têm seus preços monetários, portanto, pode-se somá-los em termos de dinheiro e então decidir qual decisão é a mais econômica. Nesse sentido, as unidades monetárias são uma forma de “medir” a quantidade de fatores de produção utilizados, que não podem ser expressos juntos em uma unidade física.

O termo “divisão intelectual do trabalho” transmite a ideia de que diferentes empreendedores têm sua própria propriedade e que competem dentro dos limites da propriedade por fatores de produção. Cada um deles especula e avalia as condições do mercado. A competição entre eles permite que os fatores sejam avaliados em termos de dinheiro. O cálculo torna-se o elo que conecta diferentes oportunidades e expectativas empreendedoras. Sem a concorrência transmitida por meio de preços dessa forma, não haveria sentido para o cálculo econômico.[6]

O terceiro grupo de elementos, restrições de propriedade privada, é um conjunto de regras sem as quais o processo de competição não poderia ser realizado. Cada empreendedor controla o capital monetário e os fatores que possui — sua tomada de decisão econômica sobre esses recursos escassos é a força motriz para o emprego bem-sucedido dos fatores. Ele não decide sobre todos os outros fatores, e suas decisões atuais terão um efeito importante sobre sua renda futura. Isso introduz um limite real em suas escolhas, pois ele pessoalmente perderá ou ganhará no processo de competição (em termos de propriedade). Somente por causa dessa influência a divisão intelectual do trabalho pode ter efeitos reais na economia. O proprietário de recursos particulares está tomando uma decisão apenas sobre um pequeno elemento de toda a economia, pois somente ele controla sua propriedade, e não a propriedade de outras pessoas. Nesse sentido, a divisão intelectual do trabalho é moldada pela distribuição da propriedade. Sem essa divisão da propriedade não poderíamos falar da divisão empresarial do trabalho.

Os sistemas socialistas diferem do processo capitalista por estabelecerem um proprietário compulsório, que se torna o decisor final no sistema econômico.[7] As consequências desse passo são inevitáveis, pois sem propriedade privada não pode haver divisão intelectual do trabalho. Ao invés do processo de mercado, há uma exclusão física e compulsória da competição, que substitui o mercado por um processo decisório final, direcionando alocações de fatores. O proprietário central não determina o valor dos fatores de produção como faz o processo de mercado, pois não tem como relacionar sua avaliação com outras oportunidades que possam ter sido percebidas por outros empreendedores. Não há base para discriminação quantitativa entre projetos de produção, pois só pode haver uma avaliação ordinal direta deles (uma avaliação de processos totalmente integrados verticalmente). O chamado “processo de avaliação social” é abolido assim que a propriedade privada é abolida.[8]

Possíveis Respostas e Réplicas Sugeridas

Os socialistas responderam ao desafio de Mises de muitas maneiras diferentes. Infelizmente, em sua crítica, ele se concentra demais em apenas um aspecto do problema, a saber, o cálculo econômico. Na seção anterior, o argumento de Mises foi reformulado principalmente em termos da seguinte ênfase: agora mudamos o foco dos preços para a divisão intelectual do trabalho sendo um produto da distribuição da propriedade.

O socialismo é um sistema organizado por um proprietário, onde não há empreendedores competindo pelo uso mais valioso dos recursos. Mesmo que um proprietário estabeleça algum sistema numérico, isso em nada difere de uma classificação direta de todas as maneiras possíveis de produzir as coisas. Esses “preços” administrados centralmente não mudam nada, pois um proprietário os estabelece, um proprietário age sobre eles e um proprietário os altera ex post. Desde o início ele emprega os gerentes (não há mercado para controle societário) e decide o que nos livros contábeis é registrado como lucros e prejuízos. Em contraste, os preços da economia de mercado são o resultado de diferentes ações de proprietários concorrentes e esta é a sua natureza: como um denominador comum para diferentes avaliações de propriedade.[9] Se apenas um proprietário estabelece os preços, eles perdem sua característica básica de denominador do processo de concorrência e se tornam apenas a expressão das preferências de um proprietário (portanto, não podem ser usados ​​como um indicador econômico independente).[10] Usar preços em um sistema socialista é equivalente a uma classificação ordinal direta dos processos por um planejador central.

Vamos agora considerar algumas respostas a Mises.

1.  Abolir a propriedade e deixar os preços para os fatores

Isso certamente possibilita o cálculo, mas não nos leva muito longe, pois os preços por si só não são suficientes. Juntamente com os preços, são necessárias decisões de alocação, que irão reconstruir o sistema de preços. Em um sistema capitalista, expectativas e decisões de propriedade de proprietários concorrentes reorganizam constantemente os preços. Nos sistemas socialistas, temos um proprietário e preços capitalistas anteriores. Mas o que vem a seguir? Como um planejador deve agir sobre esses preços ou reformulá-los? A concorrência não se baseia na existência de preços passados, mas em especulações sobre o estado futuro do mercado.[11] Só porque alguns preços existiam no passado não resolve o problema do cálculo econômico proposto por Mises.[12]

2.  Uma solução matemática[13]

Não temos aqui espaço suficiente para criticar a abordagem matemática, mas aproveitamos aqui para rejeitar o mito de que Barone resolveu o problema no papel. Uma citação completamente negligenciada in extenso da fonte deve ser suficiente:

Muitos dos escritores que criticaram o coletivismo hesitaram em usar como evidência as dificuldades práticas em estabelecer no papel os vários equivalentes; mas parece que eles não perceberam quais são realmente as dificuldades — ou, mais francamente, a impossibilidade — de resolver tais equações a priori. Se, por um momento, assumirmos que a variabilidade econômica dos coeficientes técnicos pode ser desprezada e levarmos em conta apenas sua variabilidade técnica, não é impossível resolver no papel as equações de equilíbrio. […] Mas é francamente inconcebível que a determinação econômica dos coeficientes técnicos possa ser feita a priori, de modo a satisfazer a condição de custo mínimo de produção, condição essencial para obter aquele máximo a que nos referimos. Essa variabilidade econômica dos coeficientes técnicos é certamente negligenciada pelos coletivistas. […] A determinação dos coeficientes economicamente mais vantajosos só pode ser feita de forma experimental: e não em pequena escala, como poderia ser feito em laboratório; mas com experimentos em grande escala.

Alguns escritores coletivistas, lamentando a destruição contínua das empresas (aquelas com custos mais altos) pela livre concorrência, pensam que a criação de empresas a serem destruídas posteriormente pode ser evitada, e esperam que com a produção organizada seja possível evitar a dissipação e destruição de a riqueza que tais experimentos envolveram, e que eles acreditam ser propriedade peculiar da produção “anarquista”. Com isso, esses escritores mostram simplesmente que não têm uma ideia clara do que é realmente a produção, e que não estão nem mesmo dispostos a aprofundar um pouco mais o problema que interessará ao Ministério que será estabelecido para esse fim no Estado Coletivista.[14]

3.  A decisão coletivista[15]

Nesta proposição, o planejador deve empregar os especialistas, talvez antigos empreendedores e empresários; sentados ao redor da mesa, eles deveriam descobrir qual gama de processos de produção seria a melhor (ou, como no caso do socialismo democrático, isso poderia ser colocado em votação). Como vimos acima, isso seria apenas um jogo de papel, pois o verdadeiro processo competitivo exige que cada participante do mercado possua alguns recursos e por suas expectativas e antecipações, dentro dos limites da propriedade, concorra com outros por mais propriedade. Como um planejador e seus funcionários determinam a gama de processos de produção na ausência de licitação e exclusão baseada em limites de propriedade, seu esforço é completamente diferente em natureza do que no capitalismo. Não existe competição nesse cenário, pois a “competição” nele é tão real quanto aquela entre crianças que, sem recursos, licitam no leilão. Nossa analogia “boa e má” nos mostra que os júris do concurso de dança devem agir dentro de limites numéricos devidamente definidos. De forma semelhante, os empreendedores estão agindo dentro de limites reais — possibilidade de controle de recursos. Se eles se sentarem ao redor da mesa sem o limite estabelecido pelas restrições de propriedade, como eles podem competir e licitar pelos fatores? Como se pode discriminar dentro de proposições e sugestões simples? O fato do serviço público ser diferente das transações comerciais no mercado não decorre do problema do incentivo ou da vaidade dos funcionários do governo. O problema está exatamente na diferença entre agir no papel e licitar de fato os preços com o uso da propriedade. Caso contrário, o processo de licitação não é diferente de um jogo de Monopoly.[16]

4.  O planejador central deve introduzir competição entre gestores de empresas públicas[17]

Essa solução pressupõe erroneamente que o empreendedorismo é resultado da gestão, não do controle. Ignora o fato de que o empreendedorismo é resultado de ser proprietário, controlador supremo, ou seja, tomador final de decisões.[18] Naturalmente, no capitalismo, os proprietários podem delegar a outros a autoridade para agir em seu nome, mas isso não muda a natureza do empreendedorismo, ou seja, o controle final de um determinado recurso.[19] Mas, essa característica muda sob o socialismo, onde apenas um proprietário delega a responsabilidade pelas decisões aos subordinados na economia. Seguindo nossa analogia da dança, se houvesse uma pessoa decidindo qual juiz deveria usar qual número, então seria óbvio quem está, de fato, fazendo a avaliação. É exatamente o mesmo caso na “competição” entre os gerentes, pois todos eles têm um chefe final. O planejador central nomeia os gerentes; o planejador central decide sobre os salários. O planejador central decide sobre a estrutura das indústrias, sobre qual parte deve ser controlada pelo gerente e como determinados estoques podem ser afetados. Certamente, é ele quem decide, embora possa transferir algumas de suas funções para seus subordinados. Isso, no entanto, não muda o fato de que todo o sistema está sujeito a uma vontade agindo.[20] Não há mercado de capitais, nem mercado de terras e imóveis, nem mercado de ativos, nem mercado de controle societário. Da mesma forma, embora os gerentes no capitalismo controlem os recursos até certo ponto (o que cria a possibilidade de problemas de agência), em última análise, os proprietários ainda controlam os ativos.

5.  Os preços socialistas devem ser os preços contábeis que equilibram a quantidade demandada e a quantidade ofertada

Essa proposição deveria ser misturada com a anterior; no entanto, trataremos separadamente. Especificamente, Taylor, e depois Lange depois dele, sugeriram que os preços deveriam ser indicadores que respondem a quantidades físicas.[21] Se os martelos estão se acumulando em um armazém, o planejador central deve baixar o preço. Se uma entrega estiver atrasada, o planejador deve aumentar o preço. No entanto, o problema observado anteriormente ainda permanece: as decisões sobre todas as estruturas industriais, emprego e ações possíveis são definidas desde o início pelo planejador central. Nada, nesse sentido, é resultado do processo competitivo. Ele, é claro, deve instruir seus subordinados como agir usando seu “sistema de preços” inventado. As instruções aos gerentes sobre quais regras devem ser seguidas são dadas pelo próprio planejador. Essas duas decisões causarão excedentes e escassez em algum lugar, e assim o planejador central terá que ajustar continuamente seus índices para chegar à contabilidade, que equaliza a quantidade demandada com a quantidade ofertada. Mas o que isso significa exatamente? Cada fator em uma fábrica não está sujeito à decisão do planejador central? Cada fator já está colocado no plano central — o que significa então um “excedente” ou “escassez”? O planejador decide quando e como os preços devem mudar — ele então se limita e ajusta suas decisões às suas próprias decisões (no sistema capitalista, um mecanismo de precificação para um empresário é um mecanismo de ajuste de suas ações às ações de outros no área de divisão intelectual do trabalho).

Além disso, não existem verdadeiras “falências” como as vemos no sistema capitalista. As “perdas” no capitalismo estão ligadas a um rearranjo de propriedade, pois custos que são mais altos que os preços causam “liquidação” — uma transferência de ativos entre diferentes partes. Nada disso está presente no socialismo, uma vez que um proprietário toma todas as decisões sobre preços administrados oficialmente, distribuição de fatores e emprego alternativo. Vemos então que tudo é um derivado da tomada de decisão final do planejador central. Além disso, é útil salientar que um processo de produção não é instantâneo. Em outras palavras, só porque alguns fatores ou bens são armazenados por um determinado tempo, não empregados a cada momento, não significa que tal armazenamento seja não econômico. Sob o capitalismo, tal armazenamento está sob os limites da divisão intelectual do trabalho. Sob o socialismo, é um produto do uso autoritário da força agressiva. Ou, em outras palavras, as categorias de escassez e excedente não são simples categorias contábeis e físicas, mas fenômenos econômicos complexos julgados pelos empresários no âmbito da avaliação monetária.

Conclusão

O argumento sobre o caos econômico resultante da instauração do socialismo (entendido como um proprietário compulsório) foi reafirmado neste artigo. Mostrou-se que a deficiência econômica do socialismo não resulta da falta de um sistema numérico; em vez disso, ela flui de características essenciais do socialismo. Socialismo significa ditadura, necessariamente sobrevive como ditadura, e nenhum índice contábil produzido centralmente mudará esse fato. Como tal, a competição é literalmente impossível sob o socialismo, e isso não pode ser mudado pela introdução de índices contábeis administrados centralmente.


[1] Mateusz Machaj ([email protected]) é instrutor de economia na Universidade de Wroclaw na Polônia.

[2] Hans-Hermann Hoppe, A Theory of Socialism and Capitalism: Economics, Politics, and Ethics (Londres: Kluwer, 1989), p. 28

[3] Um lema da Property and Freedom Society de Hoppe é o aforismo de Bastiat: “A propriedade não existe porque há leis, mas as leis existem porque há propriedade”. Frédéric Bastiat, “Property and Law”, em Selected Essays on Political Economy, Seymour Cain, trad., George B. De Huszar, ed. (Irvington-on-Hudson, Nova York: Foundation for Economic Education, 1995 [1848]); o site da Property and Freedom Society está localizado em <www.PropertyAndFreedom.org>.

[4] Curiosamente, costuma-se argumentar que os economistas do livre mercado, em oposição aos mais intervencionistas, ignoram os “efeitos externos”. Na verdade, a afirmação oposta é verdadeira. Economistas do livre mercado analisam esses elementos em detalhes, mas talvez não usem o termo “efeitos externos” com muita frequência. Por outro lado, os teóricos intervencionistas usam o termo com bastante frequência, mas geralmente ignoram completamente os efeitos externos da agressão institucionalizada em suas análises. Esse defeito está completamente ausente das obras de Hoppe.

[5] O termo “divisão intelectual do trabalho” foi usado por Mises. Ludwig von Mises, Economic Calculation in the Socialist Commonwealth (Auburn, Alabama: Mises Institute, 1990), p. 18. Veja também a grande obra do misesiano Joseph Salerno, “Ludwig von Mises as Social Rationalist”, Review of Austrian Economics 4 (1990). No Socialism de Mises, o termo foi traduzido como “divisão mental do trabalho”. Ludwig von Mises, Socialism: An Economic and Sociological Analysis (New Haven, Connecticut: Yale University Press, 1951), p. 118. Ambos os termos podem ser enganosos – seria melhor usar o termo “divisão empresarial do trabalho”, como discuto em meu “Market Socialism and the Property Problem: Different Perspective of the Socialist Calculation Debate”, Quarterly Journal of Austrian Economics 10, n.° 4 (dezembro de 2007): 257–80.

[6] Existem empresas diferentes por causa da competição dentro do mundo incerto; isso difere da visão coasiana de que alguns custos monetários causam a existência de firmas. Veja Ronald H. Coase, “The Nature of the Firm”, Economica 4, n.° 16 (1937).

[7] Escreve Mises:

A marca essencial do socialismo é que uma só vontade age. É irrelevante de quem é a vontade. O diretor pode ser um rei ungido ou um ditador, governando em virtude de seu carisma, ele pode ser um Fuhrer ou um conselho de Fuhrers nomeado pelo voto do povo. O principal é que o emprego de todos os fatores de produção é dirigido por uma única agência.

Ludwig von Mises, Human Action: A Treatise on Economics (Chicago: Contemporary Books, 1966), p. 695.

[8] Este é o termo usado por Salerno, “Ludwig von Mises as Social Rationalist”.

[9] Veja também Jeffrey M. Herbener, “Calculation and the Question of Arithmetic”, Review of Austrian Economics 9, n.° 1 (1996): 151–62.

[10] Sobre este ponto, veja G.D.H. Cole, Economic Planning (Nova York: Kennikat Press, 1971), pp. 183-185; Walter Eucken e Terence H. Hutchinson, “On the  Theory of the Centrally Administrated Economy: An Analysis of the German  Experiment. Part I”, Economica, n.s. 15, n.° 58 (1948); idem, “On the Theory of  the Centrally Administrated Economy: An Analysis of the German Experiment. Part II”, Economica, n.s. 15, n.° 59 (1948); Morris Bornstein, “The Soviet Price System”, American Economic Review 52, n.° 1 (1962).

[11] Veja Mises, Human Action, p. 58:

A compreensão não é privilégio dos historiadores. É assunto de todos. Ao observar as condições de seu ambiente, todos são historiadores. Todo mundo usa a compreensão para lidar com a incerteza de eventos futuros aos quais deve ajustar suas próprias ações. O raciocínio distintivo do especulador é uma compreensão da relevância dos vários fatores que determinam eventos futuros. E – vamos enfatizar isso mesmo neste ponto inicial de nossas investigações – a ação necessariamente sempre visa condições futuras e, portanto, incertas e, portanto, é sempre especulação. O homem atuante olha, por assim dizer, com os olhos de um historiador para o futuro.

[12] Para a resposta de Mises à crítica inicial que foi particularmente fraca, veja Ludwig von Mises, “New Contributions to the Problem of Socialist Economic Calculation”, em Richard Ebeling, ed., Selected Writings of Ludwig von Mises: Between the Two World Wars: Monetary Disorder, Interventionism, Socialism, and the Great Depression (Indianapolis, Liberty Fund, 2002).

[13] Às vezes inadequadamente misturado com um modelo dinâmico de socialismo de mercado.

[14] Enrico Barone, “The Ministry of Production in the Collectivist State”, em F.A. Hayek, ed. Collectivist Economy Planning (Londres: Routledge and Kegan Paul, 1935 [1908]), p. 287; ênfase adicionado.

[15] Veja, por exemplo, G.D.H. Cole, Chaos and Order in Industry (Londres: Metheun & Co. Ltd., 1920).

[16] Podemos ecoar aqui a frase de Mises “simular[ando] mercado”. Mises, Human Action, p. 709.

[17] Isso foi sugerido especialmente por Oscar Lange e Fred M. Taylor, On the Economic Theory of Socialism (Nova York: McGraw-Hill, 1956).

[18] Curiosamente, outro brilhante economista austríaco, Israel Kirzner, parece cometer a mesma falácia. Seu erro é resultado de “confundir a categoria de empreendedorismo tal como é definida na construção imaginária da distribuição funcional com as condições de uma economia viva e operacional”. Veja o argumento de Mises sobre isso, em Human Action, p. 306.

[19] Para uma aplicação disso à teoria moderna das corporações no que se refere ao uso de informações privilegiadas, ver Henry G. Manne, Insider Trading and the Stock Market (Nova York: The Free Press, 1966).

[20] Novamente veja neste Cole, Economic Planning; Eucken e Hutchinson, “On the Theory of the Centrally Administrated Economy” (Partes I & II); e Bornstein, “The Soviet Price System”.

[21] Fred Taylor, “The Guidance of Production in a Socialist State”, American Economic Review 19, n.° 1 (1929).

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