O atual sistema de organização da sociedade humana possui parâmetros terrivelmente incoerentes e insidiosos, especialmente se pararmos para pensar no quão irracional, imoral, criminoso, leviano e imprudente é o sistema político. Hoje, muitas pessoas depositam uma fé imensurável, quase irracional, na política, sem parar para analisar quão nefasta, pérfida e corrosiva ela é para a sociedade como um todo.
E o pior, elas nem sequer percebem que o sistema não tem como funcionar ou dar certo. Na verdade, o sistema até funciona e faz exatamente o que se propõe a fazer. Mas a grande maioria das pessoas não é capaz de perceber que a política não existe para atender os propósitos e as demandas da sociedade. A política e a democracia não passam de teatrinhos vulgares e displicentes, encenados para doutrinar a população e mantê-la subserviente aos indivíduos que estão no poder.
Imagine que alguém peça para você ter uma fé ilimitada em uma pessoa que você não conhece. Você já viu essa pessoa na televisão antes, mas você nunca conversou com ela, você não conhece suas crenças, seus princípios, suas propostas e suas prioridades e ainda assim uma enorme quantidade de seguidores dessa pessoa influente tenta convencê-lo a confiar nela.
Isso não é tudo — elas exigem que você confie todas as suas propriedades, todos os seus bens, o seu futuro e até mesmo a sua vida a essa pessoa, alguém que você nunca conheceu pessoalmente. Você faria isso? Teria realmente alguma inclinação a confiar em alguém que você nunca viu na vida, e na verdade nem sequer conhece? Isso faz algum sentido para você? Pois é exatamente isso que as pessoas fazem, ao votar em políticos que comandarão as suas vidas.
Quando as pessoas votam em um político, elas estão simplesmente presumindo que o sujeito no qual elas depositam todas as suas esperanças seja uma pessoa íntegra, pura, bondosa, caridosa e honesta, mas paradoxalmente, elas jamais exigem provas dessas supostas virtudes.
Elas apenas presumem, ingenuamente, que o seu candidato é uma pessoa íntegra e virtuosa, baseada nos discursos apaixonados que viram essa pessoa fazer no palanque de algum comício eleitoral. Mas a maioria delas nem sequer questiona quais são as reais intenções do candidato em questão, tampouco especulam se esse candidato é realmente benévolo e honesto.
Nunca param para pensar que ele pode estar apenas fingindo ou atuando. Nunca cogitam, por exemplo, a possibilidade dele estar mentindo de forma patológica e dissimulada, ou fazendo uma espetacular encenação teatral, simplesmente porque deseja ganhar votos para conquistar o poder.
Isso acontece porque os seres humanos, no geral, são mais inclinados em presumir o bem do que desconfiar da maldade das pessoas. Políticos sabem disso e se aproveitam disso.
Visto que a política é um meio onde prolifera um considerável número de psicopatas — interessados unicamente em arregimentar poder, dinheiro e se perpetuar na burocracia estatal — é de uma ingenuidade monumental presumir que o seu candidato favorito seja essa pessoa pura, aguerrida, íntegra e sacrossanta que a propaganda partidária faz ele parecer ser.
As pessoas baseiam todas as suas crenças nos discursos e nas supostas boas intenções do seu candidato, sem jamais questionar sua sinceridade e veracidade, o que é algo tão contraditório quanto irracional. E supondo que o candidato seja relativamente bem-intencionado — o que dificilmente é o caso, embora existam exceções —, muitas pessoas não conseguem perceber, tampouco compreender, o estado pelo que ele realmente é: uma coalizão de psicopatas e parasitas, um consórcio de máfias organizadas que existe para gerenciar e garantir a manutenção dos seus próprios interesses.
Todo o discurso de que o estado existe para proteger e defender a população não passa de um ardil cínico e desonesto. O estado tem uma agenda própria, e se você discorda dela, o problema é seu. Você não vai encontrar nenhum burocrata, político ou servidor público disposto a ouvi-lo, muito menos ávido em atender as suas demandas ou ajudá-lo a conquistar seus interesses.
Mesmo que o suposto político em questão queira realmente fazer coisas boas —como liberalizar o mercado e acabar com determinados monopólios, por exemplo — ou reduzir a burocracia para a abertura de novas empresas, existem inúmeros cartéis e grupos de interesse mais fortes do que ele, que estão encastelados na máquina pública e na burocracia estatal há décadas, que não permitirão que as reformas sigam adiante, porque isso contraria os seus interesses. Isso na prática faz com que a política seja sempre sobre expectativas e promessas, e jamais sobre resultados concretos. A história da política nacional mostra como esses fatos são irrefutáveis.
Eleições vem e vão. Não obstante, o histérico cenário de demagogia política permanece sendo sempre exatamente o mesmo. Os políticos da vez prometem o paraíso aos seus eleitores, mas entregam apenas uma ínfima parcela do que foi prometido — e é claro que eles próprios enriquecem muito enquanto estão no poder.
Na época de eleições, eles estão sempre cheios de desculpas para justificar o porque não executaram todas as promessas da campanha anterior. Aí começa o festival de mentiras, falácias e justificativas. Normalmente, os candidatos colocam a culpa na oposição, em cortes no orçamento ou em quaisquer outros “imprevistos” de natureza política, que seriam fáceis de prever para os eleitores, se fossem pessoas realistas e não se deixassem ludibriar por promessas fúteis e vazias, por expectativas fantasiosas e por manipuladores oportunistas.
Políticos estarão sempre mentindo e falando o que for conveniente para chegar ao poder. Para citar apenas alguns exemplos, demagogos como Lula da Silva e Ciro Gomes são verdadeiras metralhadoras de falácias retóricas; frequentemente, falam coisas que não fazem o menor sentido do ponto de vista lógico, moral, racional ou econômico, mas todas as baboseiras que proferem agradam os jornalistas e a militância.
Não obstante, não podemos negar que são manipuladores inteligentes, pois sabem o que dizer, como dizer e quando dizer. Por essa razão, são venerados e adorados por seus séquitos de bajuladores dementes e irracionais. Por serem psicopatas, indivíduos dessa estirpe possuem no DNA o dom da manipulação e dominam com maestria a arte da retórica e da dissimulação. São verdadeiros mestres do palanque no teatro do circo democrático.
Os políticos profissionais citados também são terrivelmente hipócritas, pois não raro pregam uma coisa e fazem outra completamente diferente; mas eles sabem perfeitamente que a militância — por venerá-los e adorá-los de forma incondicional e ilimitada — não se importará de fazer vista grossa para os seus luxos e extravagâncias.
Esse tipo de comportamento mostra que políticos fazem qualquer coisa para se eleger. Eles não estão preocupados com os eleitores, mas preocupados em alcançar o poder. Como são completamente destituídos de escrúpulos ou moralidade, no entanto, eles não se importarão nenhum pouco em mentir para chegar ao poder. Falarão sempre o que for mais conveniente; geralmente, tudo aquilo que os seus eleitores desejam ouvir. Infelizmente — como a grande maioria das pessoas não possui capacidade de raciocínio, nem mesmo um nível de inteligência dentro da média —, os demagogos populistas aproveitam-se desse fato para enganá-las e cativá-las com promessas vazias, conquistando assim um grande curral eleitoral.
Mentir faz parte da política. É impossível que exista política sem doses cavalares de dissimulação e hipocrisia. Políticos sinceros não apenas não existem, como seriam rapidamente expurgados do sistema. Muitas pessoas são completamente incapazes de compreender que a política é um meio terrivelmente insalubre. No estado, qualidades como integridade e honestidade são encaradas como fraquezas e não como virtudes. Enganar, ludibriar e mentir, portanto, será como sempre foi algo extremamente comum para todos os famigerados integrantes da classe dirigente.
Mentir é o que políticos fazem e sempre fizeram desde tempos imemoriais. Isso não muda jamais. Eleições vem e vão, mas o modus operandi dos demagogos populistas continua sendo exatamente o mesmo. Mentir para alcançar o poder e cativar a manada é fundamental para manter o teatro democrático.
Não obstante, a população lamentavelmente tem memória curta. Quando chega a próxima eleição, as pessoas já esqueceram as eleições passadas, as decepções com os candidatos anteriormente escolhidos foram todas esquecidas, e o populacho — com toda a sua fé ingênua e irrealista na democracia e no sistema — realmente acredita que é só escolher os candidatos certos na próxima eleição, que todos os problemas que afligem a nação serão resolvidos.
Por essa razão, nas eleições seguintes, os eleitores mais uma vez não hesitam em empunhar suas bandeirolas, distribuir broches e panfletos e discutir sobre as reformas propostas pelos candidatos X, Y e Z, dos partidos cujas siglas como sempre nada significam de fato e formam apenas uma típica sopa de letrinhas democrática. Infelizmente — obtusos para a real natureza do estado, da democracia e da política —, os eleitores frequentemente chegam até mesmo a brigar uns contra os outros em discussões calorosas e apaixonadas à respeito de qual candidato é o melhor. Todos se considerando os proprietários e senhores absolutos da razão, é claro.
Obtusos para o fato de que tanto os políticos quanto o estado são completamente indiferentes para as necessidades da população, os eleitores brigam entre si, alheios para o fato de que estão sendo divididos pelo jogo político, que beneficia primariamente o estado. É de interesse do estado dividir a população em grupos heterogêneos e incompatíveis, e jogar uns contra os outros. Isso acontece porque o estado sabe muito bem que — uma vez que a população estivesse unida —, ela poderia facilmente identificar qual é o verdadeiro inimigo, o estado, e assim tentaria se organizar para derrubá-lo.
Jogando as pessoas umas contra as outras, no entanto, o estado agrega capital político ao seu jogo de poder, e depois pode atuar como um pacífico mediador entre as partes em conflito — normalmente, esquerda e direita, capitalistas e comunistas, liberais e socialistas, conservadores e progressistas —, sendo assim visto pela sociedade como uma entidade benévola, majestosa e necessária, capaz de apaziguar os ânimos e mitigar os conflitos que dividem a população.
Infelizmente, a população não entende que é o estado que se une para dividir a sociedade e fazer os cidadãos discutirem e brigarem uns contra os outros, por conta de suas posições políticas. Enquanto isso, quem saqueia a população de forma contundente, sistemática e desmesurada através de impostos excruciantes e aviltantes são os integrantes da organização estatal.
Cidadãos de esquerda e de direita frequentemente se enfrentam em atos contundentes de beligerante hostilidade, obtusos para o fato de que — enquanto brigam entre si — os burocratas que eles tanto defendem permanecem completamente indiferentes aos interesses dos seus simpatizantes, da mesma maneira que, enquanto a população comum empobrece, sendo sistematicamente depauperada pelo estado, os integrantes da quadrilha estatal enriquecem de forma irrefreável e contínua.
Políticos estão entre as categorias de indivíduos mais ricos da sociedade; mas ironicamente, a população não para de defendê-los, brigar por eles, depositar uma fé quase religiosa sobre eles e alimentar a ideia incoerente de que eles resolverão todos os problemas da sociedade, quando na verdade o que interessa a eles é se manter no poder, e descobrir novas formas, maneiras e prerrogativas para se perpetuar, se necessário até mesmo alterando a constituição — que não passa de um pedaço de papel — para atingir esse objetivo.
Xi Jinping fez isso, Evo Morales tentou fazer isso e Vladimir Putin nesse exato momento está tentando fazer isso, para se perpetuar no poder na Rússia até 2036. Não importa o país, a nacionalidade, o continente, o modus operandi dos burocratas permanece sempre o mesmo. O que importa para essa gente é se perpetuar no poder. Apenas isso. Estar no controle é tudo o que importa para a classe de políticos e burocratas.
Infelizmente — apesar do estado fracassar continuamente, eleição após eleição e governo após governo —, doses maciças de realidade parecem não ser suficientes para despertar os estatistas do encantamento cíclico e do torpor dogmático do teatrinho democrático, que, através de sucessivas campanhas de doutrinação sistemática, resgata e perpetua a fé da população na democracia, apesar de ser um sistema irremediavelmente fadado ao fracasso. Na democracia, sobretudo, convém salientar que os piores sempre serão os vitoriosos, e chegarão mais facilmente ao poder.
Na democracia, o mais feroz, mordaz, implacável, imoral, sanguinolento e inescrupuloso — e que faz as alianças mais improváveis —, sempre conseguirá chegar ao poder. Aquele que mente mais, engana mais e está mais disposto a negociar favores com quem quer que seja, no imoral balcão de negócios que é o sistema político, será invariavelmente o vitorioso.
A estrutura do sistema é arregimentada de forma tão brutal, hostil e implacável, que acaba propiciando que apenas os piores cheguem ao poder. Por essa razão são justamente os mais inescrupulosos, os mais brutais e os mais maledicentes que se tornam os mais aptos a conquistar o poder na disputa pela liderança política.
Apenas eleitores ingênuos, bem como os incautos e os desavisados, realmente acreditam que o sistema é um oásis de pessoas puras, radiantes e benévolas, que sempre negociam de acordo com as regras do jogo; regras, essas, que são cristalinas e puras na percepção dos eleitores. Os eleitores ingenuamente esquecem que aquilo que eles não veem, os interesses escusos que existem nos níveis mais subterrâneos do sistema, é o que realmente comanda e define as regras do jogo.
No estado — por baixo de tudo aquilo que os eleitores enxergam —, está o que eles não enxergam, o estado profundo, o verdadeiro estado, onde ocorrem as negociatas, as bravatas, os jogos de interesse, as arruaças orçamentárias, as propinas, os subornos, os contratos, o capitalismo político e as malas de dinheiro que trocam de mãos sem ninguém ver, e que constituem a base da verdadeira política.
Se no estado visível o eleitor não manda em absolutamente nada, no estado profundo a democracia e a vontade do povo não passam de piadas vulgares. O estado democrático de direito, a democracia e as eleições não passam de tentáculos de uma gigantesca superestrutura de poder criada para manipular e controlar você.
Na teoria e na prática, a política não passa de uma deplorável, imoral e perversa irracionalidade, onde absolutamente nada faz sentido, a não ser para os verdadeiros detentores do poder — políticos, oligarcas e corporativistas — e para a massa alienada de eleitores e militantes que não passam de escravos doutrinados, domesticados pela degradante narrativa oficial do sistema, criada para difundir a cultura da cumplicidade e da subserviência, que existe e é maciçamente disseminada justamente para impedir as pessoas de despertarem para a realidade.
A única pretensão do sistema com relação a você é domesticá-lo, escravizá-lo e roubá-lo. Seus desejos, sua segurança, sua prosperidade, felicidade ou seus fetiches ideológicos não significam absolutamente nada para o estado e para aqueles que o comandam. Tudo o que existe ao redor disso — democracia, partidos políticos, populismo e promessas vazias — são elementos de um teatrinho vulgar, grotesco e horripilante, que serve apenas para anestesiar as massas, que assim podem ser manipuladas com grande facilidade. Absolutamente nada além disso.
Ainda que seja um escravo do sistema, se você está acordado para a realidade, isso já é um grande avanço. Os letárgicos, os apáticos e os doutrinados dormem em berço esplêndido, enquanto são silenciosamente conduzidos para o matadouro com um sorriso no rosto. Quando perceberem que os seus burocratas de estimação não ligam a mínima para eles, com certeza será tarde demais. A política é simplesmente uma grande irracionalidade, e a doutrinação sistemática existe justamente para impedir as pessoas de despertarem.
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