A Teoria dos Sentimentos Morais de Adam Smith

Tempo de Leitura: 4 minutos

Teoria dos Sentimentos Morais (TSM)

A resposta ao problema da coesão social em Smith (como indivíduos, autocentrados por natureza, perseguindo seus interesses não levam a sociedade a um estado de natureza hobbesiano) está, em grande medida, respondido em TSM. 

Neste livro, Smith diz que o que faz com que o Homem prefira tomar uma decisão à outra é desejo de aprovação de seus semelhantes (princípio da simpatia), que ao agir o Homem estabelece um espectador ideal que conhece as consequências e motivos das ações empreendidas e se reporta a ele como um juiz. 

Este espectador imparcial é um consenso sobre virtudes e valores básicos (por isso mesmo imparcial e determinado histórica e geograficamente) que atua como um mecanismo de avaliação das ações de cada pessoa.

Nesse modelo somos observadores dos valores morais de nossas próprias ações. Smith, portanto, considera que o Homem é auto-interessado: toma suas decisões pensando em si mesmo (mesmo que ao agir se leve em consideração o impacto de suas ações sobre terceiros). O espectador ideal modera as decisões, limitando o espaço de ação.

Smith delega aos próprios Homens a capacidade de controlar seus instintos destrutivos. Os indivíduos podem perceber racionalmente, movidos pelo auto-interesse, como o estabelecimento de elos cooperativos pode garantir o mínimo de confiança mútua que a estabilidade social exige. 

Análise do Texto

No capítulo, Smith fala sobre duas formas de divisão:

  1. Divisão do trabalho: divisão interna à unidade produtiva. 
    1. Especialização dentro de uma manufatura, produção dividida entre vários indivíduos.
    2. Racionalmente concebido por um produtor.
  2. Divisão social do trabalho: separação dos ofícios em diversas unidades.
    1. Há um problema em como coordenar as diversas unidades produtivas.
    2. Não tem uma racionalidade, segue uma espontaneidade.

Encadeamento lógico do crescimento econômico para Smith:

Smith, em A Riqueza das Nações, descreve uma espiral de crescimento econômico que confere embasamento analítico para seu corpo teórico. O autor começa com a discussão que a divisão do trabalho aumenta a produtividade por trabalhador (devido a maior destreza, economia de tempo e invenções de máquinas), que leva à geração de excedente associado a cada trabalhador. Tal excedente, por sua vez, possibilita, em partes, o crescimento do estoque de capital e, consequentemente, aumenta o uso do emprego produtivo. O aumento de demanda por trabalho produtivo, acima da elevação do número de trabalhadores no período, conduz ao crescimento de salários, que, por sua vez, cria condições para o aumento futuro da população economicamente ativa. A consequência de tudo isso é a ampliação de mercados. A extensão de mercados possibilita que intensifique o processo de divisão do trabalho, fechando o círculo virtuoso de crescimento econômico. Portanto, como visto anteriormente, a causa mais importante do crescimento econômico, afirma Smith, é a divisão do trabalho.

Esta explicação anterior não significa que Smith dê um tratamento meramente mecânico à questão do crescimento econômico. Ele também incorpora o papel da lei, da propriedade privada e a necessidade de ausência de barreiras no mercado a fim de que os processos identificados ocorram na prática.

Os indivíduos são interdependentes (graças à divisão do trabalho), mas as decisões são autônomas. 

O auto-interesse tem um duplo papel em Smith: estimula a generalização das trocas e, constituída uma sociedade que impera a divisão do trabalho, ele garante a complementaridade dos homens.

“Não é da benevolência do açougueiro, do cervejeiro e do padeiro que esperamos o nosso jantar, mas da consideração que ele têm pelos próprios interesses. Apelamos não à humanidade, mas ao amor-próprio, e nunca falamos de nossas necessidades, mas das vantagens que eles podem obter.” (A Riqueza das Nações)

Na obra do autor, o interesse tem o papel de poder orientador para dirigir os homens a qualquer trabalho que a sociedade esteja disposta a pagar mais, ou seja, que a sociedade mais precise. Mas o auto-interesse é só metade do quadro, ele leva os homens à ação. Alguma coisa precisa limitar o impulso da fome de lucros individuais para livrar a sociedade de preços exorbitantes. Esse regulador é a competição, o conflito dos auto-interessados no mercado. Cada homem, além de fazer o máximo por si sem pensar nas consequências sociais, confronta-se com um rebanho de indivíduos motivados da mesma forma. Assim, como em Teoria dos Sentimentos Morais, os motivos próprios dos homens transmutam-se por interação para render o mais inesperado dos resultados: harmonia social.

O mercado, pela concorrência, pode trabalhar como uma mão invisível, fazendo as pessoas produzir o que os outros membros desejam, mesmo que os indivíduos não tenham nenhuma afeição ou intenção de fazer alguma coisa pelo o outro. É por isso que o interesse próprio pode produzir um resultado que é do interesse da sociedade, ou seja, uma sociedade comercial pode prosperar apesar de as pessoas não terem a menor afeição pelas outras.

Seu elemento crucial é o que o autor chamou de liberdade natural (mais parece uma liberdade econômica), a liberdade de transferirem seu capital e trabalho de uma atividade para outra de acordo com sua vontade, ou seja, espontaneamente. Foi essa preocupação com a liberdade que levou Smith a denunciar as restrições mercantilistas à indústria e comércio.

É na questão da espontaneidade da ação que o pensador escocês se contrapõe aos fisiocratas, pois, segundo ele, o interesse geral é resultado da soma dos interesses privados de forma espontânea e não mais providencial (divina). Com ele, o liberalismo não só se impõe, mas também muda de caráter: laiciza-se.

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