Em Defesa do “Apriorismo Extremo”

Tempo de Leitura: 12 minutos

Por Murray Rothbard[1]

[Retirado de Economic Controversies, seç. 1, cap. 6]

A estimulante controvérsia metodológica entre os professores Machlup e Hutchison prova que às vezes há mais de dois lados para cada questão.[2] De muitas maneiras, os dois estão debatendo objetivos opostos: o Professor Hutchison está principalmente se inclinando contra as visões metodológicas (e políticas) do Professor Ludwig von Mises; sua acusação mais séria é a de que toda a posição do Professor Machlup é, no fundo, uma tentativa de encobrir a heresia misesiana com as vestes da respeitabilidade epistemológica. A resposta do Professor Machlup, um tanto apropriadamente, mal menciona Mises; pois, de fato, suas visões metodológicas são pólos opostos. (A posição de Machlup está próxima da tradição central “positivista” da metodologia econômica.) Mas, enquanto isso, descobrimos que o Professor Mises e o “apriorismo extremo” ficam indefesos no debate. Talvez a contribuição de um apriorista extremo para essa discussão possa se mostrar útil.

Primeiro, deve ficar claro que nem o Professor Machlup nem o professor Hutchison são o que Mises chama de praxiologista, isto é, nenhum deles acredita (a) que os axiomas e premissas fundamentais da economia são absolutamente verdadeiros; (b) que os teoremas e conclusões deduzidos pelas leis da lógica desses postulados são, portanto, absolutamente verdadeiros; (c) que, consequentemente, não há necessidade de “testes” empíricos, tanto das premissas quanto das conclusões; e (d) que os teoremas deduzidos não poderiam ser testados mesmo que fosse desejável.[3] Ambos os disputantes estão ansiosos para testar as leis econômicas empiricamente. A diferença crucial é que o Professor Machlup adere à posição positivista ortodoxa de que as suposições não precisam ser verificadas, desde que seus consequentes deduzidos possam ser provados verdadeiros — essencialmente a posição do Professor Milton Friedman — enquanto o Professor Hutchison, cauteloso com suposições instáveis, toma a abordagem mais empírica — ou institucionalista — de que as suposições deveriam ser verificadas também.

Por mais estranho que possa parecer para um ultra-apriorista, a posição de Hutchison me parece a melhor das duas. Se alguém precisa escolher entre duas marcas de empirismo, parece loucura confiar em procedimentos para testar apenas conclusões através de fatos. Muito melhor certificar-se de que as suposições também estão corretas. Aqui devo saudar a acusação do Professor Hutchison de que os positivistas baseiam seu caso em analogias enganosas da epistemologia da física. Esse é precisamente o cerne da questão. Todos os procedimentos positivistas são baseados nas ciências físicas.[4] É a física que conhece ou pode conhecer seus “fatos” e pode testar suas conclusões contra esses fatos, enquanto sendo completamente ignorante sobre suas suposições últimas. Nas ciências da ação humana, por outro lado, é impossível testar conclusões. Não há laboratório onde os fatos possam ser isolados e controlados; os “fatos” da história humana são complexos, resultantes de muitas causas. Essas causas só podem ser isoladas pela teoria, teoria que é necessariamente a priori a esses fatos históricos (inclusive estatísticos). É claro, o Professor Hutchison não iria tão longe ao rejeitar o teste empírico de teoremas; mas, sendo louvavelmente cético quanto às possibilidades do teste (embora não quanto à sua desejabilidade), ele insiste que as suposições sejam verificadas também.

Na física, as suposições últimas não podem ser verificadas diretamente, porque não sabemos nada diretamente das leis explanatórias ou dos fatores causais. Daí o bom senso de não tentar fazê-las, de usar suposições falsas, como a ausência de fricção e assim por diante. Mas suposições falsas são o reverso do apropriado na economia. Pois a ação humana não é como a física; aqui, as suposições últimas são aquilo que é claramente conhecido, e é precisamente desses axiomas dados que o corpus da ciência econômica é deduzido. Suposições falsas ou duvidosas na economia causam estragos, embora muitas vezes se mostrem úteis na física.[5]

Portanto, o Professor Hutchison está correto ao desejar estabelecer as próprias suposições. Mas essas premissas não têm de ser (na verdade, não podem ser) verificadas pelo apelo a fatos estatísticos. Elas são estabelecidas, na praxiologia, em uma base muito mais certa e permanente enquanto definitivamente verdadeiras. Como, então, esses postulados são obtidos? Actualmente, apesar do rótulo de “a priori extremo”, a praxiologia contém um Axioma Fundamental — o axioma da ação — que pode ser chamado de a priori, e alguns postulados subsidiários que são actualmente empíricos. Por incrível que possa parecer para os versados ​​na tradição positivista, desse pequeno punhado de premissas toda a economia é deduzida — e deduzida como absolutamente verdadeira. Deixando de lado o Axioma Fundamental por um momento, os postulados empíricos são: (a) pequenos em número, e (b) tão amplamente baseados que dificilmente são “empíricos” no sentido empirista do termo. Para colocar de modo diferente, eles são tão geralmente verdadeiros a ponto de serem evidentes-ao-si, a ponto de serem vistos por todos como obviamente verdadeiros uma vez que são declarados e, portanto, não são na prática empiricamente falsificáveis ​​e, portanto, não são “significativos operacionalmente”. Quais são essas proposições? Podemos considerá-las em ordem decrescente de sua generalidade: (1) a mais fundamental — variedade de recursos, tanto naturais quanto humanos. Disso segue diretamente a divisão do trabalho, o mercado, etc.; (2) a menos importante, que o lazer é um bem de consumo. Esses são, actualmente, os únicos postulados necessários. Dois outros postulados simplesmente introduzem subdivisões limitantes na análise. Assim, a economia pode elaborar dedutivamente a partir do Axioma Fundamental e dos Postulados (1) e (2) (actualmente, apenas o Postulado 1 é necessário) uma análise da economia de Crusoé, do escambo e de uma economia monetária. Todas essas leis elaboradas são absolutamente verdadeiras. No entanto, são aplicáveis apenas em casos concretos, onde as condições limitantes particulares se aplicam. Não há nada, é claro, notável sobre isso; podemos enunciar como uma lei que uma maçã, sem apoio, cairá no chão. Mas a lei é aplicável apenas naqueles casos que uma maçã é actualmente derrubada. Assim, a economia de Crusoé, de escambo e de uma economia monetária são aplicáveis quando essas condições se verificam. É tarefa do historiador, ou “economista aplicado”, decidir quais condições se aplicam às situações específicas a serem analisadas. É óbvio que fazer essas identificações particulares é a simplicidade em si.

Quando analisamos a economia da troca indireta, portanto, fazemos a condição limitante simples e óbvia (Postulado 3) de que as trocas indiretas estão sendo feitas. Deve ficar claro que ao fazer essa simples identificação não estamos “testando a teoria”; estamos simplesmente escolhendo aquela teoria que se aplica à realidade que desejamos explicar.

O quarto — e de longe o menos fundamental — postulado para uma teoria do mercado é aquele que os professores Hutchison e Machlup consideram crucial — que as empresas sempre visam a maximização de seus lucros monetários. Como ficará mais claro quando eu tratar do Axioma Fundamental abaixo, essa suposição não é de forma alguma uma parte necessária da teoria econômica. Do nosso Axioma é derivada esta verdade absoluta: que toda empresa visa sempre maximizar seu lucro psíquico. Isso pode ou não envolver a maximização de seu lucro monetário. Muitas vezes pode não envolver, e nenhum praxiologista negaria esse fato. Quando um empreendedor aceita deliberadamente lucros menores em dinheiro a fim de dar um bom emprego a um sobrinho imprestável, o praxiologista não está confundido. O empreendedor simplesmente escolheu tomar um certo corte no lucro monetário para satisfazer sua satisfação de consumo de ver seu sobrinho bem provido. A suposição de que as empresas visam maximizar seus lucros monetários é simplesmente uma conveniência de análise; que permite a elaboração de uma estrutura fundamental de cataláxia (economia do mercado) que de outra forma não poderia ser desenvolvida. O praxiologista sempre tem em mente a cláusula de que onde esse postulado subsidiário não se aplica — como no caso do imprestável — suas teorias deduzidas não serão aplicáveis. Ele simplesmente acredita que um número suficiente de empreendedores segue objetivos monetários tempo o suficiente para tornar sua teoria altamente útil para explicar o mercado real.[6]

Voltemos agora para o Axioma Fundamental (o cerne da praxiologia): a existência da ação humana. Desse axioma absolutamente verdadeiro pode ser tecida quase toda a fábrica da teoria econômica. Algumas das implicações lógicas imediatas que decorrem dessa premissa são: a relação meios-fins, a estrutura temporal da produção, a preferência temporal, a lei da utilidade marginal decrescente, a lei dos retornos ótimos, etc. É esse axioma crucial que separa a praxiologia de outros pontos de vista metodológicos — e é esse axioma que fornece o elemento crítico “a priori” na economia.

Primeiro, deve-se enfatizar que qualquer que seja o papel que a “racionalidade” possa desempenhar na teoria do Professor Machlup, ela não desempenha qualquer papel para o Professor Mises. Hutchison acusa que Mises reivindica que “toda ação econômica era (ou precisa ser) racional”.[7] Isso é totalmente incorreto. Mises assume absolutamente nada sobre a racionalidade da ação humana (de fato, Mises não usa o conceito de forma alguma). Ele não assume nada sobre a sabedoria dos fins do homem ou sobre a corretude de seus meios. Ele “assume” apenas que os homens agem, isto é, que têm alguns fins e que usam alguns meios para tentar alcançá-los. Esse é o Axioma Fundamental de Mises, e é esse axioma que dá para toda a estrutura praxiológica da teoria econômica construída sobre ele sua certeza absoluta e apodíctica.

Agora surge a questão crucial: como obtivemos a verdade desse axioma? Nosso conhecimento é a priori ou empírico, “sintético” ou “analítico”? Em certo sentido, tais questões são uma perda de tempo, porque o fato mais importante é que o axioma é evidentemente verdadeiro ao si, é evidente-ao-si em uma extensão muito maior e mais ampla do que os outros postulados. Pois esse Axioma é verdadeiro para todos os seres humanos, em todos os lugares, a qualquer momento, e não poderia nem mesmo concebivelmente ser violado. Em suma, podemos conceber um mundo onde os recursos não são variados, mas não um onde os seres humanos existem, mas não agem. Vimos que os outros postulados, embora “empíricos”, são tão óbvios e aceitáveis que dificilmente podem ser chamados de “falseáveis” no sentido empirista usual. Quão mais isso é verdade sobre o Axioma, que nem é concebivelmente falseável!

Positivistas de todos os matizes se espantam com proposições evidentes-ao-si. E, no entanto, qual é a alardeada “evidência” dos empiristas senão o trazer de uma proposição até então obscura à visão evidente? Algumas proposições, porém, precisam apenas ser enunciadas para se tornarem imediatamente evidentes para o si-mesmo, e o axioma da ação é justamente tal proposição.

Se consideramos o Axioma da Ação como “a priori” ou “empírico”, depende de nossa posição filosófica última. O Professor Mises, na tradição neokantiana, considera esse axioma uma lei do pensamento e, portanto, uma verdade categórica a priori a toda experiência. Minha própria posição epistemológica repousa sobre Aristóteles e São Tomás, e não sobre Kant, e, por isso, eu interpretaria a proposição de maneira diferente. Eu consideraria o axioma uma lei da realidade em vez de uma lei do pensamento e, consequentemente, “empírico” em vez de “a priori”. Mas deve ser óbvio que esse tipo de “empirismo” está tão fora de sintonia com o empirismo moderno que eu posso muito bem continuar a chamá-lo de a priori para os propósitos atuais. Pois (1) ele é uma lei da realidade que não é concebivelmente falseável, e, ainda assim, é empiricamente significativo e verdadeiro; (2) baseia-se na experiência interna universal, e não simplesmente na experiência externa, isto é, sua evidência é reflexiva e não física;[8] e (3) é claramente a priori a eventos históricos complexos.[9]

O pigeon-holing[10] epistemológico de proposições evidentes-ao-si sempre foi um problema complicado. Assim, dois tomistas tão talentosos como o Padre Toohey e o Padre Copleston, embora apoiando-se na mesma posição filosófica, divergem sobre se as proposições evidentes-ao-si devem ser classificadas como “a posteriori” ou “a priori”, uma vez que definem as duas categorias de maneira diferente.[11]

Do Axioma Fundamental é derivada a verdade que todos sempre tentam maximizar sua utilidade. Ao contrário do Professor Hutchison, essa lei não é uma definição disfarçada —- que eles maximizam o que maximizam. É verdade que a utilidade não tem conteúdo concreto, porque a economia não se preocupa com o conteúdo dos fins de um homem, mas com o fato de ele ter fins. E esse fato, sendo deduzido diretamente do Axioma da Ação, é absolutamente verdadeiro.[12]

Chegamos finalmente à heresia final de Mises aos olhos do Professor Hutchison: sua alegada dedução lógica de “conclusões políticas generalizadas” dos axiomas da ciência econômica. Tal acusação é completamente falaciosa, particularmente se percebermos que o Professor Mises é um defensor intransigente do “Wertfreiheit” não apenas na economia, mas também em todas as ciências. Mesmo uma leitura cuidadosa das citações selecionadas de Mises por Hutchison não revelará tais deduções ilegítimas.[13] Em verdade, a economia de Mises é incomparável por seu evitamento de juízos de valor ad hoc não analisados, inseridos no corpus da análise econômica.

Dean Rappard colocou a questão: como Mises pode ser ao mesmo tempo um defensor do “Wertfreiheit na economia e do [liberalismo] laissez-faire”, um “dilema” que leva o Professor Hutchison a acusar Mises de fazer deduções políticas da teoria econômica?[14]

As seguintes passagens de Mises dão a pista para esse quebra-cabeça:

O liberalismo é uma doutrina política. […] Como uma doutrina política, o liberalismo (em contraste com a ciência econômica) não é neutro em relação aos valores e fins últimos buscados pela ação. Ele assume que todos os homens ou pelo menos a maioria das pessoas têm a intenção de atingir certos objetivos. Ele lhes dá informações sobre os meios adequados para a realização dos seus planos. Os defensores das doutrinas liberais estão plenamente cientes do fato de que seus ensinamentos são válidos apenas para pessoas que estão comprometidas com seus princípios valorativos. Enquanto a praxiologia, e portanto a economia também, usa os termos felicidade e remoção de insatisfação em um sentido puramente formal, o liberalismo atribui a eles um significado concreto. Pressupõe que as pessoas preferem a vida à morte, a saúde à doença […] abundância à pobreza. Ele ensina aos homens como agir de acordo com essas avaliações.[15]

A ciência econômica, em suma, estabelece leis existenciais, do tipo: se A, então B. Mises demonstra que essa ciência afirma que a diretiva laissez-faire leva à paz e a padrões de vida mais altos para todos, enquanto o estatismo leva ao conflito e a padrões de vida mais baixos. Então, Mises como cidadão escolhe o liberalismo laissez-faire porque está interessado em alcançar esses fins. O único sentido em que Mises considera o liberalismo como “científico” é na medida em que as pessoas se unem pelo objetivo de abundância e benefício mútuo. Talvez Mises seja excessivamente otimista ao julgar a extensão de tal unidade, mas ele nunca liga o valorativo e o científico: quando ele diz que um controle de preços é “ruim”, ele quer dizer ruim não do seu ponto de vista como economista, mas do ponto de vista daqueles na sociedade que desejam abundância. Aqueles que escolhem objetivos contrastantes — que favorecem o controle de preços, por exemplo, como uma rota para o poder burocrático sobre seus semelhantes, ou que, por inveja, julgam a igualdade social como mais valiosa do que a abundância geral ou a liberdade — certamente não aceitariam o liberalismo, e Mises certamente nunca diria que a ciência econômica os prova errados. Ele nunca vai além de dizer que a economia fornece aos homens o conhecimento das consequências de várias ações políticas; e que compete ao cidadão, conhecendo essas consequências, escolher seu rumo político.


[1]  Apareceu originalmente no Southern Economic Journal (Janeiro de 1957): 314-20.

[2] Terence W. Hutchison, “Professor Machlup on Verification in Economics”, Southern Economic Journal (Abri de 1956): 476-83; Fritz Machlup, “Rejoinder to a Reluctant Ultra-Empiricist”, ibid., pp. 483-93.

[3] A tradição praxiológica, embora nomeada apenas recentemente, tem um longo e honrado lugar na história do pensamento econômico. Na primeira grande controvérsia metodológica em nossa ciência, John Stuart Mill era o positivista e Nassau Senior o praxiologista, com J.E. Cairnes oscilando entre as duas posições. Mais tarde, o método praxiológico foi ainda mais desenvolvido pelos austríacos cedis, por Wicksteed e por Richard Strigl, alcançando sua máxima culminância nos trabalhos de Ludwig von Mises. As visões de Mises podem ser encontradas em Human Action (New Haven, Conn.: Yale University Press, 1949) e em seu cedio Grundprobleme der Nationalökonomie [traduzido para o inglês como Epistemological Problems of Economics (Princeton, N.J.: D. Van Nostrand, 1960)]. Sobre as similaridades entre Senior e Mises, veja Marian Bowley, Nassau Senior and Classical Economics (Nova York: Augustus M. Kelley, 1949), cap. 1, esp. pp. 64-65. O Essay on the Nature and Significance of Economic Science (London: Macmillan, 1932) de Lionel Robbins foi enfaticamente praxiológico, embora não tenha se aprofundado nos problemas metodológicos mais complexos.

[4] Sobre as diferenças entre as metodologias da praxiologia e da física, veja Murray N. Rothbard, “Toward a Reconstruction of Utility and Welfare Economics”, em On Freedom and Free Enterprise: Essays in Honor of Ludwig von Mises, Mary Sennholz, ed. (Princeton, N.J.: D. Van Nostrand, 1956), pp. 226 ff.; incluído neste volume como o capítulo 17.

[5] Isso vale também para os “princípios heurísticos” do Professor Machlup que são alegadamente “significativos empiricamente” sem serem verificados como verdadeiros.

Não desejo negar que suposições falsas são úteis na teoria econômica, mas apenas quando elas são usadas como construtos auxiliares, e não como premissas das quais teorias empíricas podem ser deduzidas. O mais importante de tais construtos é a economia de rotação uniforme, ou “equilíbrio”. Não é pretendido que esse estado seja considerado como real, ou actual ou potencial. Pelo contrário, a empiricamente impossível ERU é construída precisamente a fim de analisar teoreticamente um estado de nenhuma mudança. Apenas ao analisar um estado imutável ficcional podemos chegar a uma análise adequada do mundo econômico real de mudança. No entanto, isso não é uma pressuposição “falsa” no sentido usado pelos positivistas, pois é uma teoria absolutamente verdadeira de um estado imutável, se tal estado pudesse existir.

[6] Não pretendo aqui endossar as restrições recentes que têm sido feitas contra a suposição de maximização de lucros monetários — a maioria das quais ignora maximização de longo prazo em oposição a de curto prazo.

A curiosa ideia de que falhar em perseguir objetivos monetários é “irracional” ou refuta a economia, é similar à noção antiga de que consumidores estavam sendo irracionais, ou “não-econômicos”, quando preferiam pagar preços maiores em lojas mais perto deles ou com uma atmosfera mais amigável.

[7] Hutchison, “Professor Machlup on Verification in Economics”, p. 483.

[8] Veja a crítica do Professor Knight ao “Significance and Basic Postulates of Economic Theory” de Hutchison. Frank H. Knight, “What is Truth in Economics?” Journal of Political Economy (Fevereiro de 1940): 1-32.

[9] O Professor Hutchison pode me ter tido em mente quando disse que em anos recentes seguidores do Professor Mises tentam defendê-lo dizendo que ele realmente quis dizer “empírico” quando disse “a priori”. Assim, veja meu “Praxeology, Reply to Mr. Schuller”, American Economic Review (Dezembro de 1951): 943-44; incluído neste volume como capítulo 7. O que quero dizer é que o axioma fundamental de Mises pode ser chamado de “a priori” ou “empírico” de acordo com a posição filosófica de alguém, mas é em qualquer caso a priori para os propósitos práticos da metodologia econômica.

[10] N.do T.: “Pigeon-holing”, do inglês, seria traduzido literalmente como “emburacar pombos”, é um termo usado para situações que há uma tentativa de encaixar (emburacar) coisas — em geral, através de estereótipos ou categorias não tão bem definidas — em “pequenas caixas” (que lembram caixas de pombo), ou pequenas categorias.

[11] Assim, Copleston chama princípios evidentes-ao-si de “proposições sintéticas a priori” (embora não no sentido kantiano) — sintéticos enquanto transmitem informação sobre a realidade não contida em premissas anteriores; e a priori enquanto necessários e universais. Toohey virtualmente oblitera as distinções e denomina proposições evidentes-ao-si sintéticas — a posteriori, pois, enquanto necessárias e universais, são derivadas da experiência. Veja F.C. Copleston, S.J., Aquinas (Londres: Penguin Books, 1955), pp. 28 e 19-41; John J.H. Toohey, S.J., Notes on Epistemology (Washington, D.C.: Georgetown University, 1952), pp. 46-55. Tudo isso levanta a questão da utilidade de toda a dicotomia “sintético-análitico”, apesar da proeminência dada implicitamente em Hutchison, “Significance and Basic Postulates of Economic Theory”, Journal of Political Economy 49 (1934). Para um ceticismo refrescante sobre sua validade, e para uma crítica de seu uso típico de descartar teorias difíceis de refutar ou como definições disfarçadas ou hipóteses discutíveis, veja Hao Wang, “Notes on the Analytic-Synthetic Distinction”, Theoria 21 (Partes 2-3, 1955): 158 ff.

[12] Veja Hutchison, “Professor Machlup on Verification Economics”, p. 480. Alan Sweezy caiu no mesmo erro quando acusou que o ditado de Irving Fisher: “cada indivíduo age como deseja”, uma vez que não significou como uma proposição testável na psicologia, precisa reduzir ao vazio “cada indivíduo age como age”. Pelo contrário, o ditado é dedutível diretamente do Axioma da Ação, e é, portanto, tanto empiricamente significativo quanto apoditicamente verdadeiro. Veja Rothbard, “Toward a Reconstruction of Utility and Welfare Economics”, pp. 225-28.

[13] Assim: “Liberalismo começa a partir das ciências puras da economia política e da sociologia que dentro de seus sistemas não fazem valorações e dizem nada sobre o que deve ser ou o que é bom ou mau, mas apenas verifica o que é e como é”. Citado por Hutchison, “Professor Machlup on Verification Economics”, p. 483n.

[14] William E. Rappard, “On Reading von Mises”, em On Freedom and Free Enterprise, M. Sennholz, ed., pp. 17-33.

[15] Mises, Human Action, pp. 153-54; veja também pp. 879-81.

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