Putnam sobre a Ética Objetiva na Economia

Tempo de Leitura: 4 minutos

Por David Gordon

Traduzido por Gabriel Marculino

[Retirado de: https://mises.org/wire/putnam-objective-ethics-economics, 4 de agosto de 2022.]

O filósofo Hilary Putnam não foi um amigo do livre mercado – longe disso. Em uma época ele defendeu o Partido Trabalhista Progressista, uma facção comunista que admirava a tirania vermelha Chinesa de Mao, e embora ele tenha abandonado essa posição extrema, permaneceu um socialista. Ele pensou que uma refutação óbvia ao libertarianismo, então declarada por seu colega da faculdade de Harvard Robert Nozick, era que ele rejeitava a educação pública. Apesar dessas visões, Putnam foi um pensador premiado que fez contribuições importantes na ética, e no artigo desta semana, gostaria de discutir duas delas, sendo encontradas em seu livro The Collapse of the Fact-Value Dichotomy (Harvard, 2002).

Como Putnam corretamente nota, Lionel Robbins, escrevendo na década de 1930, estabeleceu a estrutura conceitual da moderna economia de bem-estar: “Foi durante as profundezas da Depressão que Lionel Robbins, certamente um dos economistas mais influentes no mundo, persuadiu a profissão econômica inteira de que comparações interpessoais de utilidade são ‘sem significado’”. A.C. Pigou famosamente argumentou que, devido à lei da utilidade marginal decrescente, outras coisas permanecendo iguais, a transferência de dinheiro do rico ao pobre deve incrementar bem-estar social. Não é plausível “que a utilidade marginal de, digamos, mil dólares para alguém a ponto de passar fome […] é maior do que a utilidade marginal de mil dólares para, digamos, Bill Gates?” Mas, se Robbins está certo, tais juízos carecem de uma base científica. 

O que, então, poderia ficar em seu lugar? Dado o ceticismo de Robbins sobre ética, você deveria esperar ele responder, “Nada”. A discussão racional não poderia definir questões de ética. Putnam sustenta que os positivistas lógicos influenciaram crucialmente Robbins. Juízos da ética refletem não mais do que preferências subjetivas. Como Robbins expressou a questão, com o estilo característico, “Se discordarmos sobre fins, é um caso do teu sangue ou do meu — ou viva e deixe viver, de acordo com a importância da diferença, ou a força relativa de seus oponentes”. 

Dada essa visão da ética, a economia do bem-estar não precisaria ser totalmente descartada? Uma vez que juízos de valor são em sua essência subjetivos, qualquer disciplina pretendendo determinar objetivamente como avançar o bem-estar social parece condenada.

Robbins e seus colegas encontraram uma escapada ingênua: se válida, deve assegurar o status científico da economia de bem-estar. Suponha que um curso de ação aumenta o bem-estar de alguém sem machucar qualquer outro. Não podemos dizer, então, que a ação é objetivamente desejável? Não temos reivindicado mensurar a utilidade interpessoal; e de que maneira o apelo ao princípio sugerido, o critério de Pareto, nos envolve em quaisquer juízos de valor subjetivos?

Somente dessa maneira responde Putnam. Um aumento na utilidade de alguém que não prejudique mais ninguém, afirma-se, é desejável; mas esta afirmação não é um juízo de valor? Se, então, na leitura subjetivista da ética que subjaz à análise de Robbins, o princípio é em si sem fundamento. Se, em resposta, você remove o princípio do subjetivismo ético, declarando que é objetivamente verdadeiro, uma investigação óbvia se levanta para ameaçar a suficiência da nova economia de bem-estar. Se o critério de Pareto é mais do que uma preferência arbitrária, então ao menos um juízo ético é possível. Mas então o que estabelece apelo a outros princípios alegados sendo objetivamente verdadeiros? Putnam explica o ponto vital em questão: “Se a razão para favorecer a otimalidade de Pareto como critério é que se aprova o juízo de valor subjacente de que o direito de cada agente de maximizar sua utilidade é tão importante quanto o de todos os outros, então parece que a otimalidade de Pareto não é um critério de valor neutro de “otimalidade” em tudo.

O critério de Pareto não nos resgata, então, do subjetivismo ético. Não é óbvio que juízos factuais — por exemplo, “Essa mesa é marrom” — diferem inteiramente de tais juízos de valor como “A luta greco-romana [wrestling] é boa”? Além disso, quem pode negar que juízos factuais são objetivos no sentido de que juízos de valor não são? Podemos olhar para uma mesa e ver de que cor ela é: não podemos testar se a luta greco-romana é “realmente” boa. O positivismo lógico pode estar desatualizado, mas a fenda [gap] fato-valor não estaria tão funda quanto antes?

Putnam habilmente desvia esses pontos. Existem na verdade declarações que consiste puramente de termos factuais; outras são inteiramente valorativas. Mas muitas declarações não se enquadram em nenhuma classe. Considere o juízo: “Um mercado livre é o único sistema social praticável”. (Esse exemplo é meu: o próprio Putnam deve rejeitá-lo). Sua verdade pode ser estabelecida pelo argumento racional, como leitores de Ludwig von Mises e Murray N. Rothbard saberão. Ainda certamente “praticável” é um termo de valor. Em suma, valores não são sempre uma questão de escolha. Valores são inextricavelmente ligados aos nossos conceitos factuais comuns.

Como Putnam sabe muito bem, defensores dessa fenda não irão se retirar imediatamente do campo de batalha. É verdade que defensores dessa fenda como R.M. Hare admitirá que alguns termos têm aspectos factuais e valorativos, mas a análise filosófica deve parar por aqui? Em vez disso, você não pode sempre separar um juízo “misto” em partes descritivas e valorativas? Em caso afirmativo, a diferença entre valor e fato retorna.

Putnam achou essa resposta pouco convincente. “A tentativa dos não-cognitivistas de dividir conceitos éticos espessos em um ‘componente do significado descritivo’ e um ‘componente do significado prescritivo’’ naufragam na impossibilidade de dizer qual o  ‘significado descritivo’ de, digamos, ‘cruel’ sem usar a palavra ‘cruel’ ou um sinônimo”.

Quaisquer que sejam suas falhas no julgamento político, Putnam fizera duas contribuições importantes à economia de bem-estar. Essas duas contribuições são atualmente duas variações a respeito de um tema comum. Putnam está dizendo a aqueles que pensam que todos os juízos de certo e errado são apenas preferências subjetivas, “Você está adotando uma visão com drásticas consequências. Você terá de se livrar completamente da economia do bem-estar. O critério de Pareto não vai ajudar, porque dizer que devemos aplicá-lo é apenas mais uma preferência subjetiva. E você terá de desistir de conceitos éticos ‘espessos’ como ‘cruel’ e ‘corajoso’ porque eles não se encaixam no seu esquema de coisas”. Muitos subjetivistas acerca do certo e do errado, se eles pensarem sobre isso, encontrarão, espera-se, um preço muito alto a ser pago.

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