A Retórica dos Libertários e o Infeliz Apelo à Direita Alternativa

Tempo de Leitura: 6 minutos

Um dos meus artigos mais clicados aqui no BHL foi este aqui sobre os boletins de Ron Paul e porque eles ainda eram importantes 20 anos depois de terem sido publicados. Nesse artigo, fiz as seguintes perguntas sobre a maneira como organizações racistas, como a Stormfront, acharam Paul digno de seu apoio:

Mesmo que Ron nunca tenha intencionalmente cortejados eles, não é um grande problema eles achem ele um bom candidato? Isso não nos diz algo muito ruim sobre como Ron Paul esta comunicando sua mensagem? Isso não sugere que anos de estratégia paleo (tradutor: fusionismo é basicamente isso) de cortejar pessoas assim, na verdade, ressoaram com o pior da direita?

Isso foi em 2011, antes do termo ”direita alternativa (alt-right)” estivesse em circulação e certamente bem antes da candidatura de Trump dramaticamente reduzir o estigma associado a expressões públicas de nativismo, racismo e antissemitismo.

A semente paleo-libertária que Ron Paul, Murray Rothbard e Lew Rockwell plantaram na década de 90 tem dado frutos muitos feios nos últimos dois anos, à medida que elementos da direita alternativa tem feito aparências em várias organizações e eventos libertários.

Em fevereiro, o herói da direita alternativa, Richard Spencer, provocou uma confusão na International Students for Liberty Conference em DC, depois de ter sido convidado para sair com um grupo de estudantes que se autodenominavam “Hoppe Caucus”. Hans-Hermann Hoppe, a muito associado com o instituto Ludwig von Mises assim como um bocado de racistas e antissemitas, é, talvez, a droga de entrada mais popular para a incursão da direita alternativa dentro do libertarismo (Tradutor: não é só o Steve, o Brennan, Powell, Cory, Friedman e MUITOS outros concordam com isso — de modo que se torna impraticável defender Hoppe).

E, nas ultimas semanas, Jeff Deist, presidente no instituto Mises, deu uma palestra para estudantes na Universidade Mises, intitulada “Por um Novo Libertário“. Nessa palestra, ele derruba um espantalho extenso do que ele acha que constitui o libertarianismo que ele quer que eles (os estudantes) rejeitem — o que muitos podem chamar de “libertarismo de esquerda”, incluindo, eu suspeito, muitos de nós aqui na BHL. Por exemplo:

Por que, enquanto libertários abraçam o mercado com entusiasmo, eles cometeram, por décadas, o erro desastroso de parecer hostis a família, à religião (Tradutor: Kevin Vallier escreveu um capitulo extenso aqui sobre como os libertários rígidos do século passado não discutiam muito sobre religião no contexto politico), à tradição, à cultura e à instituição cívica ou social — em outras palavras, hostis à própria sociedade civil.

Mais controversamente, Deist, depois de continuar argumentando que família, fé e semelhantes são a cola cultural que os humanos precisam e que os libertários deveriam focar, decidiu terminar com:

Em outras palavras, sangue e solo e Deus e nação ainda importam para as pessoas. Os libertários ignoram isso correndo o risco de irrelevância.

Para aqueles que sabem algo sobre história do século 20, a invocação de “sangue e solo” como algo que os libertários deveriam reconhecer como uma preocupação válida e deveria ser arrepiante. Essa frase, a qual tem uma história de pelo menos dois séculos, foi o central para o movimento nazista e foi o núcleo de sua justificação para eliminar aqueles que não tinham conexões com a terra natal alemã. Ela continua sendo uma palavra de ordem dos elementos mais desagradáveis à direita. Essa frase, qualquer que seja a intenção de Deist, deve ser bastante atraente para muitos da direita alternativa, incluindo neo-nazis e outros racistas e antissemitas.

Talvez Deist não saiba disso tudo. Nesse caso, seria esperado que uma pessoa decente se desculpasse imediatamente por usar essa frase dessa maneira nesse contexto. Para meu conhecimento, nenhum pedido de desculpas apareceu. Na suposição de que ele não é, de fato, um nazi, a explicação deixada de pé é a de que ele e seus defensores não tem nenhum problema em usar uma retórica que irá atrair simpáticos com a visão nazista sobre nativismo e judeus. É nessa falta de preocupação em se engajar com esse tipo de retórica, se não uma vontade positiva de fazê-lo, que é tão preocupante aqui, e está corroendo as raízes liberais do libertarianismo.

O que eu disse é o mesmo ponto que fiz sobre os boletins de Ron Paul: o problema com a fala de Deist, e do Instituto Mises mais genericamente, não é que eles são nazis, mas que eles não parecem ter problemas em apresentar argumentos que são atraentes para neo-nazis e o resto dos elementos repugnantes da direita. Esse é o problema. Por que supostos libertários querem engajar-se em uma estratégia e fazer uso de uma retórica que é claramente um sinal para esses caras? É a mesma questão que fiz a 6 anos atrás e as coisas só pioraram desde então (Tradutor: e ainda pioram, há libertário monarquista… LIBERTÁRIO MONARQUISTA HOPPEANO… E ESCREVO ESSA TRADUÇÃO ALGUNS DIAS DEPOIS DE ANARCOCAPITALISMO SER CONSIDERADO RADICALISMO NOS EUA…).

Também é engraçado que eu tenha me tornado o garoto-propaganda do libertarianismo libertino e universalista que eles atacam, por, pelo menos, duas razões. Primeiro, nomeie um libertário que escreveu mais sobre a família e sua importância para a sociedade do que eu. Meu livro é explicitamente uma “defesa não conservadora da família”. Para o tipo de libertário que é supostamente hostil a família, com certeza eu coloquei muito tempo escrevendo profissionalmente sobre como isso (a família) é bom.

E, segundo, novamente com desculpas pelas coisas pessoais, pelo tipo de libertário que supostamente não se importa com religião ou sociedade civil, com certeza gasto muito tempo fazendo trabalho voluntário para sinagogas e escolas. Eu fiz parte do conselho da minha sinagoga local em Nova York por uma década, a maior parte como tesoureiro. Minha ex-esposa e eu fomos chefes do grupo de pais do departamento local de música por vários anos. Sarah e eu estamos profundamente envolvidos com nossa sinagoga aqui em Indianapolis. Eu vou colocar minhas declarações de imposto na web, mas estou confiante que eu dou, pelo menos, tanto do meu dinheiro e tempo a família, religião, cultura e sociedade civil como qualquer uma das pessoas que concordaram com o argumento de Deist.

Como eu apontei com os boletins de Paul, todos esse apelo ao nativismo, racismo e antissemitismo e afins esta profundamente em conflito com cosmopolitismo liberal de alguém como Mises. E o uso da linguagem nazi é especialmente irritante, pois foi a própria multidão de “sangue e solo” que tirou o judeu Mises de Vienna.

Em vez desse tipo de bobagem, precisamos recapturar as raízes progressistas do libertarianismo no movimento liberal do século 19. Eu coloquei assim em 2011:

O que precisamos agora é a visão de Rothbard de uma sociedade livre esboçada em Por uma Nova Liberdade, mas precisamos defendê-la melhor. Mais cuidadosamente. Mais ricamente. Mais empiricamente. Mais humanamente. Mais progressivamente. Mais tolerante. Com melhor escolaridade. E temos que fazer em uma maneira que seja imune com a acusação de que libertários não ligam para fazer um mundo melhor, especialmente para aqueles menos favorecidos e aqueles historicamente vitimados pela cor da sua pele, seu gênero, sua sexualidade, ou qualquer outra coisa que seja irrelevante para seu status moral como atores humanos.

Os escritos paleolibertários continuarão a manchar o projeto a menos que e até que o resto do movimento libertário pare de tentar se desculpar por eles….

Nossa história é de tolerância liberal, universalismo e cosmopolitismo, colocando a liberdade e a harmonia de todas as pessoas acimas de supostos interesses de qualquer subgrupo paroquial, e especialmente aqueles (subgrupos) definidos pelas fronteiras artificiais dos estados-nação e seus subconjuntos. Os libertários ignoram isso correndo o risco de irrelevância.

Finalmente, um dos efeitos colaterais mais perturbadores da fala controversa de Deist é que revelou o quão pouco jovens libertários sabem sobre o nazis e o holocausto. Acho que posso entender a ignorância da referencia de “sangue e solo”, mas o que me incomodou mais foi quando fiz uma piada envolvendo “o trabalho te libertará” e vários comentaristas não tinham a ideia de onde essa frase veio ou porque intenção positiva de falar ela (como Deist fez com “sangue e solo”) deveria ser tão problemática. A ignorância do sobre o holocausto é um problema real. E, na medida que jovens são atraídos pela direita alternativa por ignorância e não por puro ódio, combater essa ignorância pode também servir ao proposito de evitar a incursão da direita alternativa ao libertarianismo.

Porque acredito na educação, na religião e na importância das instituições da sociedade civil, e porque acredito em colocar meu dinheiro onde está minha boca, Sarah e eu recentemente fizemos uma doação ao Centro de Educação do Holocausto de Birmingham (AL). Fizemos nossa doação em homenagem a Ludwig von Mises. Convido meus colegas blogueiros e todos os nossos comentaristas que compartilham minhas preocupações a considerar fazer o mesmo. Você não precisa listar o endereço do Professor Mises como o endereço do Mises Institute como fizemos, mas você também pode considerar fazer isso como um toque adicional.

Publicado em: 4 de agosto de 2017
Autor: Steve Horwitz

Tradutor: Orenom

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *