A Significância da Escola Austríaca de Economia na História das Ideias

Tempo de Leitura: 23 minutos

Por Ludwig M. Lachmann[1]

[Tradução de The Significance of the Austrian School of Economics in the History of Ideas por José Aldemar, retirado de Capital, Expectations, and the Market Process, parte II.]

1.

Falar do espírito e sua história em nossa época é uma empreitada arriscada. Ainda que se escape da suspeita de ter se apoiado nas bases de um metafísico como Hegel, pode-se ainda encarar uma acusação de “essencialismo”. Felizmente, os autores deste Festschrift não precisam nutrir temor por tais acusações. Nem o celebrante deste aniversário nem os leitores deste periódico estarão em dúvida quanto ao que significa o espírito da Escola Austríaca na teoria econômica.

Faz quase um século desde que Menger escreveu o Grundsätze e fundou a escola Austríaca.[2]Neste século ocorreram décadas de triunfo e décadas de descuido. Os climas favorável e desfavorável das épocas contribuiram bastante com os sucessos e fracassos da escola. No fim do primeiro século de sua existência, nós podemos esperar afirmações críticas de suas ideias e seu desenvolvimento. Não é minha intenção, no entanto, lidar com problemas da história das ideias no sentido mais estrito.

A seguir eu tentarei indicar o objetivo cognitivo, a tradição intelectual e a metodologia típica da escola Austríaca à luz de suas maiores conquistas, e contrastá-los com as das outras escolas econômicas. Eu sustento que há um “estilo intelectual” característico e demonstrável da escola Austríaca e que esse estilo está engrenado com a interpretação de fatos culturais, como terá de ser mostrado. Essa postura está claramente em oposição ao atual dominante monismo metodológico do positivismo, que proclama que existe apenas um modo de pensar realmente “científico”, a saber, o das ciências naturais modernas. Em contraste, tentarei mostrar que as ideias e os objetivos dos representantes da escola Austríaca, talvez inconscientemente, estiveram sempre dirigidos não apenas em direção à descoberta de relações quantitativas entre fenômenos econômicos, mas também em direção a uma compreensãodo significado das ações econômicas.

É curioso que dois pensadores, tão diferentes em linhagem, temperamento e em interesses intelectuais como Schumpeter e Sombart, concordaram em seus julgamentos sobre a obra da escola Austríaca na medida em que viram nos ensinamentos dos vienenses um preliminar imperfeito para a teoria do equilíbrio geral da escola de Lausanne. O posicionamento de Schumpeter se seguia naturalmente de seu ponto de vista de que as realizações de Walras representavam o ápice da história do pensamento econômico. Ele atribuiu à “técnica defeituosa” dos vienenses seu fracasso em ascender às verdadeiras alturas das realizações de Walras após ter descoberto a escada.[3] 

A intenção de Sombart, por outro lado, era aparentemente ser capaz de negar qualquer afiliação intelectual com os Austríacos. Para ele, eles pertenciam à “economia taxonômica” (ordnende Nationalökonomie) porém demasiado pobre em comparação com os Lausanos. “Se há qualquer economia taxonômica, que seja a de Pareto” parecido ter sido seu veredito.[4]Eu acredito que ambos estiveram errados devido à má compreensão do objetivo cognitivo e da tradição intelectual da escola Austríaca.

2.

Característico da tradição de pensamento da escola Austríaca é, em nossa visão, o Verstehen (compreensão), introduzido como um método para as ciências sociais teóricas. Essa afirmação de forma alguma diminui a significância do conceito de utilidade marginal, mas apenas indica que na criação desse conceito fundamental os Austríacos tiveram predecessores como Dupuit e Gossen, assim como os contemporâneos Walras e Jevons, que, no entanto, —como veremos — desenvolveram suas próprias metodologias.

Por outro lado, Verstehen como um método nas ciências sociais tem, como bem se sabe, uma longa e gloriosa história. Não apenas na interpretação de textos, como em teologia, jurisprudência e filologia, mas também na interpretação do significado das ações humanas, como em toda história, esse método tem sempre encontrado aplicação. Existe, no entanto, uma diferença significativa entre compreensão como método histórico, à medida que encontra sua expressão sistemática, por exemplo, no Historik de Droysen, e compreensão como um método teórico, isto é, como um método para a interpretação de cursos típicos de ação com auxílio de esquemas de pensamento, por exemplo, planos econômicos.[5]A realização característica da escola Austríaca foi, em nossa visão, o desenvolvimento gradual da compreensão enquanto método no segundo sentido. Para eles, o esquema de pensamento, o cálculo econômico ou plano econômico do indivíduo, sempre se situa em primeiro plano de interesse teórico.

Antes de substanciar minha tese ao contrastar a característica essencial do pensamento Austríaco com aquele das escolas clássica e de Lausanne, devo encarar duas objeções. Pode parecer que minha interpretação do pensamento Austríaco não pode ser reconciliada com as visões metodológicas de dois pensadores como Menger e Mises.

Uma objeção poderia ser que no Untersuchungen de Menger, por décadas considerado o catecismo metodológico da escola, compreensão como um método das ciências sociais teóricas, e especialmente da economia, nunca é mencionado.[6]Pelo contrário, Menger declarou vez após vez que a tarefa das ciências sociais, assim como as ciências naturais, é encontrar “leis exatas”. Sombart então parece estar correto quando ele caracterizou o Untersuchungen como o “mais significativo tratado metodológico que lida com a economia à maneira das ciências naturais”.[7]

Nós devemos, no entanto, levar em conta o clima intelectual dos anos em que a obra de Menger se originou. Em primeiro lugar, compreensão como um método de estudo cultural teórico era dificilmente conhecido em 1883, o ano em que ambos Einleitung in die Geisteswissenschaften [Introdução às Ciências Sociais] de Dilthey,e Untersuchungen, de Menger, foram publicados. Em segundo lugar, com a publicação da obra de Menger foi iniciado o Methodenstreit. Menger, em particular, atacou as tentativas de Schmoller e seus amigos de impor compreensão histórica nas ciências sociais teóricas, por exemplo, economia, como o único método legítimo. Portanto, dificilmente poderia se esperar muito simpatia de Menger pelas variantes da mesma metodologia ainda aguardando elucidação mesmo se ele as conhecesse. Mas ele não as conhecia.

Em terceiro lugar, e provavelmente o mais importante, a verdadeira obra teórica da escola Austríaca dificilmente começou em 1883. Nem Wieser nem Bohm-Bawerk estavam presentes. Paradoxalmente como parece ser, o método defendido por Menger em seu Untersuchungen tampouco era o seu e nem aquele seguido por seus discípulos mas, em verdade, aquele da escola clássica. Mises corretamente observou: “A transição do sistema clássico para o moderno não foi completada de uma só vez, mas gradualmente: levou um tempo considerável até que se tornou efetivo em todas as áreas do pensamento econômico, e um tempo ainda maior teve que passar antes de alguém se tornar consciente da totalidade da significância da mudança ocorrida.”[8]Dessa forma, eu poderia dizer que o que mais tarde se tornou o método característico da escola quase não teve impacto em 1883.

Em quarto lugar, o dia chegou quando até Menger se viu compelido a se opor aos métodos das ciências naturais na economia. Em duas cartas para Walras, de junho de 1883 e fevereiro de 1884, ele insistiu que estavamos lidando não apenas com relações quantiativas mas também com a “essência” do fenômeno econômico. Ele também questionou como com o auxílio da matemática alguém poderia atingir a essência, por exemplo, do valor, aluguel, ou lucro do empreendedor.[9]No entanto, uma vez que matemática é essencial para as ciências naturais modernas, o ataque de Menger foi direcionado tanto ao último quanto ao primeiro. E se é admissível igualar a “compreensão da essência” com a “interpretação do significado”, nós podemos concluir que a intenção de Menger em ambas as cartas era defender a possibilidade de uma teoria econômica esquematizada para interpretar significado. É de particular interesse que ambas as cartas foram escritas quase imediatamente após a finalização do Untersuchungen.

Outra objeção poderia ser que Mises atribuiu a compreensão como um método peculiar para as ciências históricas, e que nossa formulação é incompatível com a distinção entre Begreifen e Verstehen. A aparente contradição, porém, é puramente verbal. Mises admite explicitamente: “Em si mesmo, seria concebível definir como compreensão qualquer procedimento direcionado ao entendimento do significado das coisas, e esse é precisamente nosso ponto de vista. Ele continuou: “Como as coisas estão hoje, precisamos nos resignar ao uso contemporâneo da linguagem. Queremos, portanto, dentro do procedimento direcionado ao entendimento do significa das coisas, um procedimento do qual as ciências da conduta humana fazem uso em separar ‘Begreifen’ e ‘Verstehen’. ‘Begreifen’ busca compreender o significado das coisas por meio do pensamento discursivo; ‘Vesterhen’ bsuca o significado através de uma empatia total com a totalidade da situação em consideração.”[10]

Eu não acredito que o uso contemporâneo exige essa distinção. Todavia, é claro, eu espero, que o método aqui atribuído à escola Austríaca é o mesmo que aquele que Mises denominou “Begreifen”. Esse método, que tem como objetivo descobrir o significado das coisas, aparentemente conflita com a maioria dos métodos usados e adequados às ciências naturais.   

3.

Eu irei agora investigar em detalhes as características peculiares ao pensamento Austríaco. Primeiro vamos contrastá-las com aquelas da escola clássica. No entanto, irei ignorar Adam Smith, que está enraizado demais no século XVIII para nossos problemas no que lhe diz respeito. Pois para a mentalidade de sua época a lei natural e a “ordem natural econômica” eram cada uma um “pedaço da natureza”, e distinções conceituais tais como as que teremos que fazer eram completamente estranhas.   

Com Ricardo e seus discípulos isso era diferente. Eles conscientemente emularam a ciência natural. O objetivo cognitivo era o ordenamento dos processos da ciência econômica em termos de quantidades. Tal teoria poderia ser considerada bem sucedida na medida em que era capaz de determinar relações quantitativas. Três características são típicas do estilo intelectual clássico.

Primeiro, o problema central: a distribuição de renda entre os três fatores de produção: trabalho, terra e capital. Essa distribuição é determinada por duas “leis”, que são consideradas como leis empíricas da natureza (e elas seriam, se realmente se aplicassem de forma geral!), a saber, a lei malthusiana da população e a lei dos rendimentos decrescentes à terra.

Segundo, o conceito central: valor. Esse é um conceito que denota “substância”, que lida com os típicos traços de uma antiga ciência natural. Isso é a medida de todas as coisas econômicas, bem com a norma fundamental de todos os processos de troca. Mas por que a troca ocorre nunca é discutido. Nos negócios, a medida de todas as coisas é a unidade monetária. O economista, sabendo que o valor do dinheiro flutua, desconfia desse padrão. Ricardo acreditava que ele tinha encontrado uma medida livre desse defeito na quantidade de trabalho necessária para a produção de cada bem. Gradualmente, e quase sem que ele percebesse, a medida tornou-se para ele a substância de todo processo econômico, se não a sua causa. Para nós tudo que importa é que a teoria clássica de valor “objetivo” é baseada num conceito que denota “substância”.

Terceiro, o homem econômico aparece na teoria clássica apenas em sua capacidade como um fator de produção. Isso significa não apenas que o consumidor não é um sujeito econômico, mas que o homo oeconomicus é sempre um produtor. Além disso, isso significa que as únicas transações de interesses econômicos são aquelas que performadas pela capacidade de alguém como um fator de produção: como um trabalhador, como um proprietário de terra, ou como um capitalista. Dentro dessas três classes, todos os membros são considerados como iguais. Essa suposição de homogeneidade de fatores de produção tem estranhas consequências para o realismo da teoria clássica.[11]Todos os capitalistas, quer tenham investido sabiamente ou não, recebem a taxa média de lucro sobre seu capital investido. Malinvestiments, perdas de capital, e falências não existem. A assumida homogeneidade dos fatores de produção torna impossível avaliar o sucesso de qualquer atividade econômica. Fundamentalmente, nós não podemos realmente falar de atividade econômica aqui. Como na natureza, pessoas reagem às atuais condições externas de sua existência econômica: elas não agem.

É apenas contra esse pano de fundo do pensamento clássico que a realização específica da escola Austríaca se torna transparente. Isso talvez possa ser melhor caracterizado da seguinte maneira: Aqui, também, esforça-se para descobrir leis. Mas, não importa o que Menger originalmente acreditava, as leis da cataláxia são leis lógicas, vérités de raison. Da lei da utilidade marginal desenvolveu-se gradualmente um cálculo econômico, isto é, uma “lógica da escolha”. Como essa lógica se relaciona com a realidade, para que processos reais possam ser interpretados com sua ajuda, é uma questão importante e será discutida mais tarde.

A significância da escola Austríaca na história das ideias talvez encontre sua expressão mais fértil na afirmação que aqui o homem enquanto agente se situa no centro de eventos econômicos. Sem dúvidas, múltiplas relações econômicas quantitativas são também para a escola Austríaca, em primeiro lugar, o objeto cognitivo de investigação econômica. Mas a determinação dessas relações quantitativas não é o objetivo derradeiro. E não para por aí; pois essas relações fluem de atos da mente que tem de ser “entendidos”, isto é, suas origens, suas significâncias, e seus efeitos devem ser explicados dentro da estrutura de nossa “experiência comum” da ação humana.

Também importante para entender a escola Austríaca é que aqui, em contraste com a escola clássica, homens são vistos como altamente desiguais. Cada um tem diferentes necessidades e habilidades. As quantidades e preços dos bens vendidos no mercado dependem dessas necessidades individuais e habilidades. Esse fato é exatamente o que a teoria do valor subjetivo enfatiza. Cada agente econômico através de sua ação imprime sua individualidade nos eventos econômicos. O homem enquanto um consumidor não pode ser comprimido em qualquer classe homogênea. O mesmo pode ser dito do homem enquanto produtor. O conceito de custos de oportunidade impede a homogeneidade dos fatores de custo e expande a área de subjetividade, que agora também abarca a teoria de produção.

Finalmente, na obra da escola de Viena, o conceito clássico de valor sofre uma mudança fundamental. Valor não mais é uma “substância” inerente nos bens. O conceito central da teoria vienense é avaliação, um ato da mente. O valor de um bem agora consiste numa relação com uma mente avaliadora. Devido à heterogeneidade de necessidades, é altamente improvável que ao mesmo bem será dado a mesma avaliação por diferentes agentes econômicos.[12]Do conceito Ricardiano de quase-substância emergiu um conceito de relações mentais.

4.

Minha próxima tarefa é diferenciar as características específicas da escola de Viena daquelas da escola de Lausanne. Tem-se sustentado que não há diferenças fundamentais entre as duas escolas, que é apenas uma questão de variações sobre o mesmo tema, a saber, da teoria moderna de valor subjetivo. Eu considero essa visão desorientadora e tentarei mostrar quais diferenças fundamentais de fato existem aqui. Acima de tudo, essa visão ignora o fato de que os pensadores Austríacos foram muito além do simples ordenamento de relações quantitativas, uma atividade muito cultivada em Lausanne e em outros partes.

Nos últimos oito anos, proeminentes pensadores Austríacos em cada geração têm percebido a necessidade de traçar uma linha entre seus modos de análise e aquele da escola de Lausanne. Eu já mencionei as duas cartas de Menger para Walras. Quase três décadas depois o próprio Wieser foi impulsionado a defender o método “psicológico” adotado por ele e seus colegas contra o método “mecanicista” que Schumpeter tomara emprestado dos lausanos e seu professor Mach.[13]Vinte anos depois, H. Mayer atacou o “valor cognitivo das teorias de preço funcional” e as sujeitou a uma afiada e completa crítica.[14]E já em 1948, Leo Illy, em um capítulo em Das Gesetz des Grenznutzens [A Lei da Utilidade Marginal],[15]corretamente criticou os defeitos de certas teorias de preço que simplesmente ordenam o fenômeno do preço sem explicá-los. Então as diferenças existiam, e ainda existem. Nos resta determinar aquelas características do estilo Austríaco de pensamento as quais a análise formalística não pode fazer justiça.

Agora não se nega que os teóricos austríacos nem sempre defenderam habilmente seus posicionamentos. Os “erros ocasionais e formulações infelizes na aplicação de seus métodos de pesquisa”, que Hans Mayer justificavelmente criticou, tem frequentemente enfraquecido a efetividade de seus argumentos.[16]Por exemplo, Wieser sempre falou dos austríacos como uma escola “psicológica”, apesar dele ter admitido que “talvez nosso método fosse exposto a menos más compreensões se tivessem chamado não de psicológico mas físico, apesar desse nome também estar aberto a mal entendidos. Nosso objetivo é, simplesmente, a consciência do homem econômico com sua riqueza de experiência geral, i.e., aquela experiência que cada homem prático possui e que, portanto, todo teórico enquanto um homem prático acha em si mesmo, sem a necessidade de antes adquirir tal experiência por meios de métodos científicos especiais.”[17] Mas Max Weber já tinha esclarecido, três anos antes de Wieser, que o alegado fundamento “psicológico” da teoria vienense era baseado num mal entendido: “A teoria racional da formação de preço não apenas não tem tem nada a ver com uma psicologia de nenhuma espécie, que deseja ser uma “ciência” indo além da experiência cotidiana. […] A teoria da utilidade marginal e qualquer outra teoria do valor subjetivo não são psicologicamente, mas – se se deseja um termo metodológico – “pragmaticamente” fundamentadas, i.e., envolve o uso das categorias ‘fins’ e ‘meios’.”[18]

Em outros assuntos, também, a defesa metodológica da escola austríaca nem sempre foi bem sucedida. Falar da “causa do valor” é obviamente questionável. Abre-se para a objeção de que o sistema econômico constitui um nexo geral de relações dentro do qual as “causas” podem apenas ser ordenadas como uma classe e, como tal, tem de ser tratadas como “dados”. A distinção entre teorias de preço “genético-causal” e “funcional”, que, como veremos, positivamente ataca o cerne do problema, encontra a mesma objeção.[19]Os opositores sustentavam que, com uma interdependência geral de todas as quantidades e preços, cada quantidade individual e preço é, ao mesmo tempo, o efeito e a causa dos outros. Contra a distinção entre a “teoria de formação de preço” e a “teoria de mudança de preço”, a última válida apenas dentro da estrutura da estática comparativa, o argumento promovido de que em desequilíbrio as mesmas forças devem influenciar o preço, quer o equilíbrio tenha existido antes ou não. Na estática atemporal da teoria de Lausanne este argumento é certamente válido, mas caso contrário, não é.

A diferença entre a escola de Viena e a de Lausanne já é refletida nas suposições feitas por ambas. Dentre elas, o papel do tempo é de especial significância. Certamente não é exagero a questão de dizemos que a real discordância se dá, em primeiro lugar, na significância atribuída ao elemento tempo. A teoria de Lausanne é significativa dentro da estrutura da estática atemporal; o mundo da escola austríaca, por outro lado, exige tempo para seu significado completo. Não é apenas uma questão de níveis de abstração; é muito mais do que isso.

A teoria Austríaca precisa da dimensão do tempo, uma vez que todas as ações humanas só são possíveis no tempo. A teoria do equilíbrio de Lausanne não apenas não exige tempo; exige exclusão do tempo. Desde o começo, Edgeworth e Walras claramente viram que qualquer passagem de tempo antes que o estado de equilíbrio seja alcançado torna aquele estado indeterminado por si mesmo, uma vez que todos os eventos que alteram os dados que acontecem no caminho para um equilíbrio ajudam a determinar esse estado. A teoria de Lausanne exige, então, que toda transação realizada no caminho ao equilíbrio possa ser nulificada, seja por “recontrato” ou por outros meios. Essa é a essência da estática atemporal. Para os austríacos, no entanto, são exatamente essas transações, realizadas no curso do tempo, que são seus reais objetos de interesse, uma vez que a ação humana consciente está ligada a planos, e todos os planos exigem uma dimensão temporal.

Eu descrevi como, no curso do desenvolvimento da teoria Austríaca, uma teoria de cálculo econômico gradualmente se desdobrou como um corolário da lei da utilidade marginal. Planos econômicos dependem do cálculo econômico de cada agente. O entrelaçamento de planos econômicos leva em conta os fenômenos de mercado. Agora, certamente existe um nexo geral de todo fenômeno de mercado, e os austríacos de forma alguma negaram esse fato. No entanto, eles tiveram relativamente pouco interesse nas forças que operam nessa conexão, uma vez que elas poderiam operar apenas em um mundo atemporal, isto é, em um mundo sem mudança. O que pareceu muito mais urgente para eles era levar em conta a necessidade contínua, em um mundo de mudanças constantes, de adaptar os planos econômicos para essas mudanças. Pois em tal mundo uma condição geral de equilíbrio não pode ser alcançada. Nós, então, vemos por que os planos econômicos ocupam um lugar de destaque na teoria austríaca, enquanto o nexo geral dos fenômenos de mercado é negligenciado. Tira-se a sua orientação da realidade.

Poderia ser sustentado, no entanto, que a teoria de Lausanne também leva em conta os planos econômicos dos indivíduos, uma vez que eles entram no seu sistema como “dados”. Mas as funções utilidade – e a oferta – na obra de Walras, e as curvas de indiferença nas obras de Pareto, não refletem planos econômicos reais como os conhecemos de nossa própria experiência. Elas devem fornecer cada possível situação se o estado de equilíbrio deve ser determinado. De fato, elas são listas abrangentes de planos alternativos, abrangentes o bastante para aplicações ilimitadas. Obviamente, essa exigência é muito além da capacidade da mente humana. “Ninguém estará em posição de indicar, indubitavelmente e com precisão matemática, um infinito número de combinação de bens que seriam todos igualmente importante para ele. A expressão ‘experimento’, usada aqui por Pareto, é completamente inadequada: nós temos aqui simplesmente a fantasia de um experimento.”[20]

Para a teoria geral do equilíbrio, tais funções são certamente um fundamento lógico essencial. A diferença entre uma economia taxonômica (ordnende) e uma verstehende torna-se bastante aparente aqui. O que é uma necessidade lógica para a primeira deve ser considerada como um absurdo pela última. Aqui, as duas escolas se separam definitivamente.[21]

A metodologia tomada emprestado das ciências naturais pode evitar de se preocupar com o estranho – e perigoso! – tema da construção de planos econômicos. No entanto, isso só pode ser feito assumindo que todos os planos concebíveis já estão “dados” desde o começo!

Pareto viu muito mais claramente que seu predecessor Walras que planos econômicos genuínos não se encaixam realmente no modelo da escola de Lausanne, e que para usá-los como “dados” deve-se primeiro dissociá-los de sua natureza enquanto atos mentais. Esse é o verdadeiro significado da famosa sentença: “L’individu peut disparaitre, pourvu qu’il nous laisse cette photographie de ses gouûs.[22]Aqui claramente o homem enquanto um agente econômico não ocupa o centro da vida econômica. Essa afirmação, é claro, faz sentido apenas num mundo estacionário atemporal no qual essas fotografias manteriam validade permanentemente. Todos os dias atos humanos modelam o mundo real. De forma apropriada, todas as tentativas de acoplar uma dimensão temporal à teoria atemporal de equilíbrio e então torna-la “dinâmica” deve fracassar.

Provavelmente é desnecessário discutir em detalhes uma crítica direcionada contra a escola austríaca em relação ao denominado “círculo de determinação econômica”. Os economistas vienenses foram acusados de se envolver em raciocínio circular uma vez que, por um lado, preços de mercado eram derivados das valorações dos agentes econômicos, e, por outro lado, a determinação dessas próprias valorações exigia preços já dados. Illy mostrou que o raciocínio na verdade não era circular e que a crítica confundia preços esperados e preços realmente pagos.[23]Agentes econômicos precisam certamente se orientar por preços que eles esperam, mas eles de forma nenhuma tem que ser preços formados anteriormente no mercado. No sistema de equações da escola de Lausanne, é claro, é impossível distinguir entre preços esperados e pagos. Essa é, novamente, uma consequência necessária da estática atemporal.

5.

Nós vimos que a metodologia da escola Austríaca envoluiu gradualmente, por um longo tempo sem que os membros da escola estivessem conscientes disso. Por vezes ocorreu que os pronunciamentos metodológicos de alguns de seus mais proeminentes membros careciam de uma validação programática – frequentemente mesmo pela época em que eles foram expressados. Isso foi verdade, por exemplo, com o Untersuchungen de Menger. Além do mais, Menger, preocupado em estabelecer “leis exatas”, nunca claramente distinguiu entre leis lógicas e leis empíricas, entre vérités de raison e vérités de fait.

Como mencionado acima, durante seu desenvolveimento, a teoria da utilidade marginal se tornou uma teoria do cálculo econômico e dos planos econômico, e, dessa forma, uma genuína “lógica da escolha”. Mas já em 1911, Wieser referiu-se à “experiência comum” como o derradeiro fundamento do conhecimento econômico. É de Mises que devemos uma clara formulação da lógica da escolha. No entanto, em consideração a atual relevância dessa lógica para a ação humana, será visto que a experiência comum é ainda indispensável para nós.

Na obra de Hayek serão encontradas umas discussões penetrantes sobre o estilo “cientístico” de pensar e sua inadequação para os problemas das ciências sociais,[24]mas também a primeira indicação de problemas de teoria econômica que se encontra além da lógica pura da escolha.[25]O que importa aqui é, acima de tudo, o estado do conhecimento como uma fonte da ação humana e o processo de suas mudanças no tempo.

Irei agora abordar a principal questão dessa seção: como pode um sistema de lógica pura, como aquele da lógica da escolha, fornecer conhecimento factual? A resposta decorre da essência da minha tese: a distinção entre conhecimento lógico e factual é justificada no domínio da natureza, onde nenhum significado é diretamente acessível a nós, e no qual deve-se sempre ter o cuidado de distinguir entre nossos conceitos e a realidade. No campo da ação humana é diferente. Aqui tal distinção parece injustificada. Por outro lado nós somos incapazes de verificar ou falsear nossos esquemas de pensamentos como hipóteses ao prever eventos concretos. Testes científicos não estão disponíveis para nós uma vez que eles exigem uma descrição completa daquela “posição inicial” concreta na qual o teste ocorre. Cada ação humana, no entanto, depende do estado de conhecimento dos agentes. Um teste de verificação portanto, exigiria uma descrição exaustiva do estado de conhecimento de todos os agentes, também de acordo com o modo de distribuição – uma óbvia impossibilidade. De outra forma, porém, a posição inicial não é exatamente definida, e nenhum teste real é possível.

Em economia, isso significa que toda transação concreta depende, entre outras coisas, das expectativas dos participantes. Para testar uma teoria econômica in concreto, devemos, então, ser capazes, no momento da formulação da teoria, de prever as expectativas dos agentes econômicos no momento (futuro) do teste de verificação. É fácil ver por que os representantes de uma economia taxonômica estão ansiosos para manter o problema das expectativas à distância o máximo possível.

Para “compreender” em economia, por outro lado, alguns métodos estão disponíveis e, apesar de fechados às ciências naturais, prestam-se a interpretação das ações humanas. O historiador investiga o significado e significância das ações concretas de indivíduos e grupos. Todo esse método é aplicável nas ciências naturais. A história da ciência mostra que a pesquisa é confinada ao ordenamento das relações quantitativas. Nas ciências culturais teóricas, em contrapartida, a significância de cursos típicos de ação é interpretada com o auxílio de esquemas de pensamento, tais como a lógica da escolha. A abordagem é justificada pelo fato de que toda ação humana, ao menos até onde é de interesse científico, é orientada a planos. Planos são construtos lógicos imanentes do curso da ação. Um plano serve ao agente econômico como um guia; ele se orienta a ele. As ciências sociais podem, então, usar planos como meios de interpretação. Ações, sem dúvida, são eventos no espaço e no tempo e, como tais, são observáveis. Mas apenas observação não pode revelar significado; por isso, métodos e intepretação são necessários.

Por que exatamente a lógica de escolha é o esquema necessário para interpretar ações econômicas? A lógica da escolha é uma “lógica do sucesso”; suas categorias são meios e fins. Por que deveriamos optar precisamente por esse método de interpretar as transações econômicas? A experiência comum nos dá a resposta: na vida econômica a maioria das pessoas buscam por sucesso. O esforço pelo sucesso como um significado de ação econômica garante a validade da lógica da escolha.

Assim, Mises estava correto quando ele afirmou que apenas a lógica, e não a experiência, pode garantir a validade de teorias econômicas – ao contrário de Wieser, que em sua crítica a Schumpeter invocou a experiência comum.[26]E a lógica certamente é imanente em toda ação humana. Mas apenas isso não significa que a lógica do sucesso, que depende dos meios e fins, é tambpem a lógica que governa toda a ação. É concebível que outro tipo de lógica, uma que emprega outras categorias, poderia ser aplicável aqui. A fim de exigir a validade de apenas essa lógica do sucesso para a vida econômica, temos que invocar a experiência comum.

Por fim, nós temos que nos lembrar que, em um mundo dinâmico existem problemas econômicos que a lógica da escolha por si só não pode lidar. Enquanto isso explica a esquematização dos planos econômicos sob dadas condições, a revisão dos planos econômicos no curso do tempo, bem como todo o escopo dos problemas de expectativas, está fora do campo da lógica. No melhor dos casos, podemos dizer que em um mundo estacionário os planos econômicos serão adaptados cada vez mais às condições reais. É exatamente nesse fato que a teoria do equilíbrio geral da escola de Lausanne se baseia.

6.

Eu não desejo concluir essas observações sem dar uma breve olhada nas tarefas futuras da economia ”verstehende” ou “interpretativa”.

Nosso objetivo principal, naturalmente, deve ser preservar e defender em todas as direções a independência metodológica das ciências sociais teóricas em geral, e da economia em particular. Isso certamente não significa que métodos nunca possam ser pegos emprestado de outras disciplinas. A questão relevante, entretanto, é sempre se esses métodos, por mais bem sucedidos que possam ser fora do campo da economia, são capazes de servir a nossos propósitos, a saber, de interpretação da ação humana.

Se nós mantivermos essa questão em mente, continuaremos a obra de Menger sob as condições alteradas da nossa época. Nisso nós precisamos apenas seguir os precedentes já dados na obra da escola austríaca. De acordo com um de seus pensadores mais perceptivos, E. Schams, nós devemos sempre distinguir, ao aceitar os métodos matemáticos, entre “a forma matemática da afirmação” (ansetzendes Denken) e as “constantes materiais” as quais se referem; apenas a aceitação acrítica da última na ciência econômica é inadimissível.[27]

Sem dúvida a tarefa esboçada aqui não é simples, especialmente em nossa época. Nas décadas recentes, especialmente nos países anglo-saxões, um inacreditável estreitamento e empobrecimento da perspectiva filosófica tem se realizado. Hoje, inúmeros economistas em todos os lugares, alguns em cargos responsáveis, que nunca aprenderam da existência de nossos problemas, ingenuamente acreditam que apenas o método científico é o único legítimo em todos os campos do conhecimento.

Como deveriamos abordar nossa tarefa? Antes de tudo, devemos continuamente enfatizar a inadequação dos produtos da investigação intelectual que ignora o significado das ações. Nós devemos sempre estar preparados para indagar nossos oponentes as seguintes questões: De onde? Por quais meios? Para que fim? Quando, por exemplo, os elaboradores de modelos macroeconômicos nos presenteiam com suas criações, podemos certamente admirar sua elegância: não podemos, no entanto, não indagar de quais ações do agente econômico esses modelos nascem. Nós devemos sempre questionar quais expectativas guiam essas ações, e o que ocorreria se essas expectativas fossem alteradas. Quando, além disso, tais elaboradores de modelos tentam incluir progresso técnico em seus modelos, por exemplo, na forma de uma “função de progresso técnico”, deve-se mostrar para eles que eles estão tentando captar ação significativa por um método intelectual ao qual significado é estranho, e que uma discussão significante desses problemas interessantes é, dessa forma, impossível. Mas nós não devemos nos contentar com a crítica de um método de questionamento que desafia significado; nós devemos mostrar a fertilidade do método verstehende em suas várias aplicações. Existe, como podemos mostrar, alternativas à análise de equilíbrio. Certamente, na análise de um estado de desequilíbro, não podemos prescindir de levar em conta as forças de equilíbrio, mas não significa que devemos descrever em sua totalidade um estado de equilíbrio, que nunca é realmente alcançado, decorado com fórmulas e equações. Podemos nos poupar desse esforço. Tudo que importa é que cada estado de desequilíbrio apresenta possibilidades para uma atividade lucrativa – seja ela renda, ganhos de capital, ou mesmo apenas evitação de perdas. Cada desequilíbrio estimula mentes alertas, mas de forma nenhuma todas as mentes, para ações lucrativas, e essa ação reduzirá as chances de mais lucros. Isso é tudo que pode ser dito. O pedantismo incômodo dos modelos de mercado de sempre, com sua alegada “precisão”, é antes um obstáculo do que um auxílio ao entendimento. O que tem acontecido com a “competição perfeita” deveria bastar como um aviso.

Mesmo fora do campo especial da teoria econômica, a necessidade pela defesa dos métodos de indagação específicos para as disciplinas culturais apresenta tarefas que são tão urgentes quanto difíceis. Aqui o mais importante é pôr a independência metodológica das ciências sociais numa base epistemológica firme.

Desde a Renascença a teoria do conhecimento tem tido sua orientação quase exclusivamente dos métodos das ciências naturais. Para essas ciências, que lidam com eventos aparentemente “sem significado”, não há alternativa, na ausência de outro critério de comparação, além de tentar fazer suas teorias e eventos observáveis concordarem de tal maneira que predições sobre esses eventos possam ser feitas, e então “verificadas”. Com a atividade humana, entretanto, é impossível, já que cada ação depende do estado de conhecimento do agente no momento da ação, que não é previsível no momento da formulação da teoria. O que, então, deve o cientista social fazer para distinguir a teoria útil da inútil? Quais critérios de conhecimento válido estão a sua disposição?

Uma vez que nos faltam predições bem sucedidas como meios de evidência, nós devemos, é claro, dedicar cuidado especial para a validade de nossas suposições teóricas. A escola austríaca sempre tem feito isso, como, por exemplo, temos visto acima nas críticas da teoria de Lausanne. Também, nas ciências sociais teóricas um buraco entre esquemas de pensamento e realidade pode ter uma significância diferente do que nas ciências naturais. Pois sua tarefa é essencialmente o estudo comparativo de esquemas dos agentes, de um lado, e o típico curso da ação, por outro lado. Aqui o caráter significante e relevante de ambos pode servir como tertium comparationis. Em tais estudos comparativos desvios do esquema planejado são frequentemente mais interessantes do que um curso suave que ocorreria caso fosse seguido o plano. Um planejamento econômico, como observado dos fatos, não perde sua significância para nós quando ele fracassa. Ao contrário, nós devemos a tais planos nosso critério de sucesso, que por si só nos permite falar de fracasso. Um plano coerente de ação que ninguém aplica com frequência nos permite esboçar interessantes conclusões acerca do caráter da situação, incluindo as expectativas consideradas pelos agentes.

Nessas reflexões eu assumi o plano econômico de um indivíduo como o protótipo de um esquema de pensamento que reside na base da ação, principalmente contando com sua significância central para a teoria econômica de caráter austríaco. Agentes econômicos orientam-se com planos. Não existe paralelo para esse estudo do mundo físico. Mas para quais fatos os planejadores orientam-se quando fazem planos? Parcialmente para dados naturais e parcialmente para ações atuais ou esperadas de outras pessoas. Porém existe também um esquema de pensamento supraindividual, a saber, instituições, às quais os esquemas de pensamento de primeira ordem, os planos, devem ser orientados, os quais servem, portanto, até certo ponto, à coordenação de planos individuais. Eles constituem, podemos dizer, “quadros de orientação interpessoal”, esquemas de pensamento de segunda ordem. Para eles a praxiologia, para a qual até agora o plano e sua estrutura ocuparam compreensivelmente o primeiro plano de interesse, cada vez mais terá que se transformar no futuro.


[1] Este ensaio, “Die geistesgeschichtIiche Bedeutung der österreichischen Schule in der Volkswirtschaftslehre”, Zeitschrift für Nationalökonomie 26 (Fevereiro de 1966): 152-67, foi traduzido por Robert F. Ambacher do Millersville State College e Walter E. Grinder.

[2] Grundsatze der Volkswirtschaftslehre [Fundamentos de Economia Política] (Viena, 1871); 2ª ed. por Karl Menger, Jr. (1923); traduzido como Princípio de Economia (Glencoe, III., 1950).

[3] J. A. Schumpeter, HIstory of Economic Analysis (Nova York, 1954), p. 918. “Eles [os Austríacos], também, descobriram a escada. A técnica defeituosa apenas os impedirá de subir ao topo. Mas eles subiram o mais alto que sua técnica os permitiu. Em outras palavras: nós devemos ver na teoria de utilidade de Jevons-Menger uma teoria embrionária de equilíbrio geral ou, em todo caso, uma forma particular do princípio unificador que está no fundo de todo sistema de equilíbrio geral. Apesar deles não terem articulado completamente, principalmente porque eles não entendem o significado de um conjunto de equações simultâneas, e apesar deles terem visto na utilidade marginal a essência de sua inovação ao invés de ver nisso um dispositivo metodológico heuristicamente útil, eles estão não obstante, assim como Walras, entre os pais fundadores da teoria moderna.”

[4] W. Sombart, Die drei Nationalokonomien (Munique, 1930), pp. 136-37. ”O resultado de nossas investigações está claramente estabelecido.  […] Nós pudemos observar que a maioria realizou sua obra com conceitos pouco claros e incompletos da essência do método científico. Apenas os relacionistas e funcionalistas, i.e., os adeptos da escola “matemática”, tem pensado os problemas e chegaram num método consistente. Cada amigo de pensamento lúcido deve, portanto, sentir alguma simpatia por esses economistas. Eles sozinhos, também, ganharam o respeitado título de pesquisadores “exatos”, que tantos outros adeptos do método científico na economia tem muito injustamente arrogado para si mesmos.” (A última sentença é, claro, uma farpa à Menger.)

[5] J. G. Droysen, “Historik”, em Vorlesungen über Enzyklopädie und Methodologie der Geschichte (Munique: Hrsg. von Rudolf Hubner, 1937).

[6] Carl Menger, Untersuchngen über die Methode der Sozialwis-senschaften und der politischen Ökonomie insbesondere. [Questionamentos sobre o Método das Ciências Sociais e Particularmente Economia Política] (Leipzig, 1883); traduzido como Problems of Economics and Sociology (Urbana, III., 1963).

[7] W. Sombart, op. cit., p. 159.

[8] Ludwig von Mises, Grundprobleme der Nationalökonomie (Jena, 1933), p. 67n; traduzido como Epistemological Problems of Economics (Princeton, 1960).

[9] W. Jaffet “Unpublished Papers and Letters of Leon Walras”, Journal of Political Economy, 1935, p. 200.

[10] L. Mises, op. cit., p. 125.

[11] Apenas para terra não é válido. A teoria do aluguel de Ricardo reside na heterogeneidade da terra.

[12] H. Mayer, “Zur Frage der Rechenbarkeit des subjektiven Wertes”, em Festschrift für Alfred Amonn (Bern, 1953), p. 76, n.6. “A exata concepção do processo por si mesmo e o sentimento pela linguagem deveria deixar claro que falar de valores subjetivos como se fossem propriedades de bens, é uma forma de expressão elíptica e no fundo enganosa: nós estamos lidando com o processo de avaliação, e isso ocorre não de acordo com a ‘maior’ ou ‘menor’, mas de acordo com a mais alta e mais baixa posição dentro de uma hierarquia.”

[13] F. v. Wieser, “Das Wesen un dder Hauptinhalt der theoretischen Nationalökonomie”, em Gesammelte Abhandlungen (Tubingen, 1929), pp. 10-34.

[14] H. Mayer, “Der Erkenntniswert der Funktionellen Preistheorien,” em Die Wirtschaftstheorie der Gegenwart, 2 vol. (Viena, 1932) 2: 147-239.

[15] L. Illy, Das Gesetz des Grenznutzens (Viena, 1948).

[16] H. Mayer, loc. cit., p. 150.

[17] F. v. Wieser, loc. cit., p. 16.

[18] M. Weber, “Die Grenznutzlehre und das psychophysische Grundgesetz”, em Gesammelte Aufsätze zur Wissenschaftslehre, 2ª ed., 1951, p. 396.

[19] H. Mayer, loc. cit., p. 148.

[20] A. Mahr, “Indifferenzkurven und Grenznutzenniveau”, Zeitschrift für Nationalokonomie 14 (1954): 325 SS.

[21] Pareto viu muito bem quão absurdo é perguntar para uma pobre camponesa quantos diamantes ela compraria sob determinado preço se ela fosse milionária, mas a lógica de seu sistema forçava tais suposições sobre ele.  Cf. V. Pareto, Manuel d’Économie Politique 2ª ed. (Paris, 1927), p. 260.

[22] V. Pareto, ibid., p. 170.

[23] Leo Illy, Das Gesetz des Grenznutzens (Viena, 1948), ch. 6, pp. 183-238.

[24] F. A. Hayek, “Scientism and the Study of Society”, Economica 9 (1942): 267; 10 (1943): 34 ff.; 11 (1944): 27 ff.

[25] F. A. Hayek, “Economics and Knowledge”, em Individualism and Economic Order (Londres, 1949), pp. 33-56.

[26] L. Mises, loc. cit., pp. 21-22.

[27] Cf. E. Schams, “Die zweite Nationalökonomie”, Archiv für Sozialwissenschaft 64 (1930): 453 ff.; e “Wirtschaftslogik”, Schmollers Jahrbuch 58 (1934): 513 ff.

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