Deixar na mão do mercado significa não fazer nada?

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Quando defendo liberalização dos mercados, imediatamente surge quem questione se “não fazer nada” realmente é a melhor solução. Isso implica dizer que é necessário tomar uma atitude – e essa atitude seria, por sua vez, intervir na economia. “É preciso ter um plano”, rogam os intervencionistas ávidos por regulamentações estatais. Porém, a questão aqui não é “não ter um plano” ou “não fazer nada” e sim indagar quem irá planejar e como isso será feito. Nisso reside a diferença entre planejamento centralizado e planejamento descentralizado.

O planejamento centralizado significa esperar que burocratas e especialistas resolvam os problemas econômicos de nossos tempos, tanto na esfera “macro” quanto “micro”, trazendo soluções práticas e colocando fim a certos impasses entre produtores e consumidores, empregados e empregadores, fornecedores e distribuidores e assim por diante. Parte-se do pressuposto que a abordagem tecnocrata é superior e medidas devem ser tomadas de cima para baixo, isto é, partindo de uma elite pensante, especializada e dirigista para as grandes massas.

Já o planejamento descentralizado pondera que problemas econômicos são, via de regra, altamente complexos e dinâmicos, sendo melhor solucionados pelos mesmos agentes inseridos nesse cenário, negando a existência de uma bala de prata para resolver impasses. O núcleo dessa abordagem é o conhecimento tácito e que medidas devem ser tomadas de baixo para cima, ou seja, sustentando-se no princípio de que a interação entre milhares ou milhões de agentes econômicos gera um conhecimento infinitamente maior que aquele detido por um grupo reduzido de especialistas.

O primeiro modelo de planejamento dá preferência ao governo como organizador da economia, enquanto o segundo aponta para o mercado como melhor estrutura organizacional. Cabe analisar qual de fato é preferível para solucionarmos questões pertinentes ao mercado. Para chegarmos a uma resposta satisfatória, devemos considerar a epistemologia, isto é, o estudo do conhecimento, como ele se forma e qual diferença entre tipos de conhecimento.

Economy X Economics

Eu costumo dizer que há diferença entre o conhecimento da economia e conhecimento na economia, sendo este de viés mais prático e aquele de viés mais teórico. A língua anglo-saxônica foi ainda mais feliz, separando o economics (teoria) do economy (prática). A diferença entre os tipos de conhecimento técnico/ teórico e tácito/ prático ficam mais evidentes, facilitando o raciocínio. Separando claramente um do outro, abrimos caminho para a pergunta-chave: qual a característica do problema que de fato enfrentamos?

Bem, quando lidamos estritamente com questões teóricas, certamente o homem acadêmico possui vantagens e a prudência indica que devemos ouvi-lo. Mas se enfrentamos questões práticas, fica evidente que o homem de negócios é consideravelmente mais sábio e é nele que reside a expertise inovadora. Afinal, nem sempre um bom economista terá grande fortuna, assim como não ser um scholar nunca foi impeditivo para o sucesso financeiro.

Claro que o ideal seria aliar ambos, mas na maioria dos casos isso não é possível. Sendo assim, quando confrontando por questões na economia (economy), o especialista, cujo conhecimento técnico é mais preponderante, deve ser humilde e ceder. Já o homem de negócios, se for verdadeiramente prudente, deve abster-se quando confrontado por questões teóricas. Pois não possui a técnica necessária, isto é, o conhecimento da economia (economics).

Conclusão

O mundo é sempre mais complexo que podemos imaginar, as questões atuais são mais intrincadas que supostamente poderíamos conceber e problemas práticos devem ser resolvidos por pessoas práticas, enquanto problemas teóricos são solucionados por pessoas teóricas. Feita essa distinção, percebemos que a melhor abordagem é o planejamento descentralizado quando se trata de soluções para o mercado.

Aqueles inseridos em mercados específicos podem resolver melhor seus próprios dilemas; estes possuem, por assim dizer, visão privilegiada. Eles têm a preferência, pois detém as informações necessárias e mais pertinentes a problemas pontuais se comparados a um acadêmico ou especialista distante e alheio a impasses cotidianos e particulares.

Quando defendo liberalização dos mercados, imediatamente surge quem questione se “não fazer nada” realmente é a melhor solução. Deixar na mão do mercado requer abrir espaço para que processos colaborativos sejam realizados e conduzidos pelos indivíduos que estão imersos em cenários específicos. Aliás, em certo sentido, “não fazer nada” seria justamente cruzar os braços em sinal de extrema passividade para que burocratas intervencionistas tragam a solução para e por nós.

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