A Indústria é Um Esforço Seguido De Um Resultado

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Por Claude Frédéric Bastiat

Nota do Editor | O texto a seguir é uma tradução do artigo em inglês: https://mises.org/library/industry-effort-followed-result.

Acabamos de ver que, entre nossos desejos e a satisfação dos mesmos, obstáculos se interpõem, porém conseguimos superá-los ou diminuir sua força através do emprego de nossas faculdades. Podemos dizer, de maneira geral, que a indústria é um esforço seguido de um resultado.

Mas o que constitui a medida de nossa prosperidade ou riqueza? É o resultado do esforço? Ou é o próprio esforço? Existe sempre uma relação entre o esforço empregado e o resultado obtido. O progresso consiste na melhoria relativa do segundo ou do primeiro termo desta relação.

Ambas as teses foram sustentadas; e na economia política elas dividiram a opinião e o pensamento.

Conforme o primeiro sistema, a riqueza é o resultado do trabalho, aumentando à medida em que cresce a proporção relativa do resultado em relação ao esforço. A perfeição absoluta, da qual Deus é o modelo, consiste na distância infinita interposta entre os dois termos—neste sentido, o esforço é nulo, o resultado é infinito.

O segundo sistema ensina que é o próprio esforço que constitui a medida da riqueza. Fazer progresso é aumentar a proporção relativa em que o esforço leva ao resultado. O ideal deste sistema pode ser encontrado nos esforços estéreis e eternos de Sísifo.[1]

O primeiro sistema acolhe naturalmente tudo o que tende a diminuir as dores e a aumentar os produtos; máquinas poderosas que aumentam as forças do homem, trocas que lhes permitem obter maior vantagem dos recursos naturais distribuídos em várias proporções sobre a face da Terra, inteligência que descobre, experiência que prova, competição que estimula, etc.

Logicamente, o segundo invoca tudo o que tem efeito de aumentar as dores e diminuir as satisfações; privilégios, monopólios, restrições, proibições, supressão de máquinas, improdutividade, etc.

É bom notar que a prática universal da humanidade aponta sempre para o princípio do primeiro sistema. Nunca vimos, e nunca veremos, um homem que trabalhe em qualquer profissão, seja ele agricultor, fabricante, comerciante, artífice, soldado, autor ou filósofo, que não dedique todos os poderes de sua mente para trabalhar melhor, para trabalhar com mais rapidez, para trabalhar mais economicamente—dito de outra forma: para fazer mais com menos.

A doutrina oposta é defendida apenas por teóricos, legisladores, jornalistas, estadistas, ministros—homens, em suma, nascidos para fazer experiências com o corpo social.

Simultaneamente, podemos observar que, no que diz respeito a si mesmos, eles agem como todos os demais, com base no princípio de obter do trabalho a maior quantidade possível de resultados úteis. Talvez eu possa ter exagerado, e não haja verdadeiros sisifistas.

Se for argumentado que, na prática, eles não pressionam seus princípios para suas consequências mais extremas, eu concedo de bom grado. Este é sempre o caso quando se parte de um princípio falso. Tal princípio logo leva a resultados tão absurdos e maliciosos que somos obrigados a parar. Esta é a razão pela qual a indústria prática nunca admite o sisifismo; a punição seguiria o erro muito de perto para não expô-lo. Mas em matéria de especulação, como o realizado por teóricos e estadistas, pode-se perseguir um princípio falso por muito tempo antes de descobrir sua falsidade pelas complicadas consequências às quais os homens eram anteriormente estranhos; e quando finalmente sua falsidade é descoberta, os autores se refugiam no princípio oposto, se contradizem e buscam sua justificação em uma máxima moderna de absurdo incomparável: na economia política não há regra inflexível, não há princípio absoluto.

Vejamos, então, se esses dois princípios opostos que acabo de descrever não predominam por turnos, um na indústria prática, outro na legislação industrial.

Já havia notado o ditado do Sr. Bugeaud que “quando o pão é caro, os agricultores se tornam ricos”; mas no Sr. Bugeaud estão incorporados dois personagens distintos: o agricultor e o legislador.

Como agricultor, o Sr. Bugeaud direciona todos os seus esforços para dois objetivos—economizar mão de obra e obter pão barato. Quando ele prefere um bom arado a um mau; quando ele melhora suas pastagens; quando, para pulverizar o solo, ele substitui tanto quanto possível a ação do tempo pela da grade e da enxada; quando ele chama em seu auxílio todos os processos dos quais a ciência e a experiência provaram a eficácia—ele tem apenas um objetivo em vista: diminuir a proporção de esforço por resultado. Na verdade, não temos outro teste da capacidade de um cultivador, e da perfeição de seus processos, do que medir até que ponto eles reduziram de um e acrescentaram ao outro. E como todos os agricultores do mundo agem segundo este princípio, podemos afirmar que o esforço da humanidade em geral é o de obter, para seu próprio benefício, sem dúvida, pão e todos os outros produtos de forma mais barata, diminuir a mão de obra necessária para obter uma determinada quantidade do que eles querem.

Esta tendência incontestável da humanidade, uma vez estabelecida deveria, ao que parece, revelar ao legislador o verdadeiro princípio, e apontar-lhe de que forma ele deveria ajudar a indústria (enquanto ela se enquadre em sua jurisdição); pois seria absurdo afirmar que as leis humanas deveriam ser contrárias às leis da Providência.

E ainda assim ouvimos o Sr. Bugeaud, como legislador, exclamar: “Não entendo nada desta teoria da barateza; eu gostaria mais de ver o pão mais caro e a mão de obra mais abundante.” E, seguindo esta doutrina, o representante da Dordogne vota em medidas legislativas, cujo efeito é dificultar as trocas, pela simples razão de que nos proporcionam indiretamente o que a produção direta só poderia nos proporcionar com maiores custos.

Agora, é muito evidente que o princípio do Sr. Bugeaud como legislador é diretamente oposto ao princípio sobre o qual ele atua como agricultor. Para agir coerentemente, ele deveria votar contra todas as restrições legislativas, ou, então, importar para suas operações agrícolas o princípio que ele proclama a partir da tribuna. Deveríamos vê-lo semear seu milho em seus campos mais estéreis, pois desta forma ele conseguiria trabalhar muito para obter pouco. Deveríamos vê-lo jogar o arado de lado, pois a cultura manual satisfaria seu duplo desejo de pão mais caro e mão de obra mais abundante.

A intervenção tem por seu objetivo declarado, e seu efeito reconhecido, aumentar o esforço.

Tem também por seu objetivo declarado, e seu efeito reconhecido, causar escassez, significando simplesmente escassez de produtos; de modo que, levado ao limite, é puro sisifismo, como o definimos—trabalho infinito, produto nulo.

O Barão Charles Dupin, o letrado em ciência econômica, diz-se, acusa as ferrovias de ferir a navegação; e é certo que é da natureza de um meio de transporte melhor reduzir o uso de um meio de transporte pior. Mas as ferrovias não podem prejudicar a navegação senão atraindo o tráfego; e não podem atrair o tráfego senão transportando mercadorias e passageiros a preços mais baixos; e não podem transportá-los a preços mais baixos senão diminuindo a proporção que o esforço empregado leva ao resultado obtido, visto que isso é precisamente o que constitui a condição de barato. Quando, então, o Barão Dupin deplora esta diminuição da mão de obra empregada para atingir um determinado resultado, é a doutrina do sisifismo que ele prega. Logicamente, como ele prefere o navio ao trem, ele deve preferir a carroça ao navio, a albarda à carroça, e o alforje a todos os outros meios de transporte conhecidos, pois é este último que exige a maior mão de obra para o menor resultado obtido.

“O trabalho constitui a riqueza de um povo”, disse o Sr. de Saint-Cricq, aquele ministro do comércio que impôs tantas restrições. Não devemos supor que esta tenha sido uma expressão elíptica, que significa: “Os resultados do trabalho constituem a riqueza de um povo”. Não, este economista teve a clara intenção de afirmar que é a intensidade do trabalho a medida da riqueza, e a prova disso é que, de consequência em consequência, de uma restrição a outra, ele induziu a França (e nisso ele pensou fazer o bem) a gastar o dobro da quantidade de trabalho, a fim de, por exemplo, se abastecer de uma quantidade igual de ferro. Na Inglaterra, o ferro estava, então, em 8 francos, enquanto na França ele custava 16 francos. Tomando um dia de trabalho a um franco, é evidente que a França poderia, por meio de troca, obter um quintal de ferro subtraindo oito dias de trabalho da mão de obra nacional agregada. Em consequência das medidas restritivas do Sr. de Saint-Cricq, a França foi obrigada a despender 16 dias de mão de obra para se abastecer de um quintal de ferro por produção direta. Duplicar a mão de obra para o mesmo resultado, portanto, duplicar a riqueza. Daí resulta que a riqueza não é medida pelo resultado, mas pela intensidade do trabalho. Não é este o sisifismo em toda a sua pureza?

E para não haver engano quanto ao seu significado, o ministro teve o cuidado de explicar mais detalhadamente suas ideias; e como ele havia chamado pouco antes a riqueza como intensidade de trabalho, ele passa a chamar de pobreza os resultados mais abundantes desse trabalho, ou a oferta mais abundante de coisas próprias para satisfazer nossos desejos. “Em toda parte”, diz ele, “a maquinaria tomou o lugar do trabalho manual; em toda parte a produção tornou-se superabundante; em toda parte o equilíbrio entre a faculdade de produzir e os meios de consumir foi destruído”. Vemos, então, a que, na estimativa do Sr. de Saint-Cricq, a situação crítica do país se devia: era ter produzido demais, e seu trabalho ser demasiado inteligente e frutífero. Estávamos muito bem alimentados, muito bem vestidos, muito bem providos de tudo; uma produção muito rápida superava todos os nossos desejos. Era necessário, então, pôr um fim ao mal, e para isso nos obrigar, por restrições, a trabalhar mais para produzir menos.

Referi também as opiniões de outro ministro do comércio, o Sr. d’Argout. Elas merecem ser abordadas por um instante. Desejando dar um golpe formidável na cultura da beterraba, ele disse: “Sem dúvida, o cultivo da beterraba é útil, mas esta utilidade é limitada. Os desenvolvimentos atribuídos a ela são exagerados. Para se convencer disto, basta observar que esta cultura será necessariamente confinada dentro dos limites do consumo. Dobre, triplique, se você quiser, o consumo atual da França, você sempre verá que uma porção muito insignificante do solo satisfará as exigências desse consumo.” (Esta é certamente uma reclamação bastante singular!) “Deseja uma prova disto? Quantos hectares tínhamos para a produção da beterraba em 1828? — 3.130, equivalendo a 1/10.540 de nossas terras aráveis. Atualmente, quando o açúcar nativo fornece um terço do nosso consumo, quanta terra é dedicada a essa cultura? — 16.700 hectares, ou 1/1.978 da terra arável, ou 45 centiares em cada comuna. Suponha que o açúcar nativo fornecesse todo o nosso consumo, deveríamos ter apenas 48.000 hectares sob o cultivo da beterraba, ou 1/689 da terra arável.”[2]

Há duas coisas a serem comentadas nesta citação—os fatos e a doutrina. Os fatos tendem a provar que pouca terra, pouco capital e pouca mão de obra são necessários para produzir uma grande quantidade de açúcar, e que cada comuna da França seria abundantemente abastecida caso dedicasse ao cultivo da beterraba um hectare de seu solo. A doutrina consiste em considerar esta circunstância como adversa, e em ver no próprio poder e fertilidade da nova indústria, um limite para sua utilidade.

Não pretendo aqui ser um defensor da cultura da beterraba, nem juiz dos estranhos fatos avançados pelo Sr. d’Argout; mas vale a pena examinar a doutrina de um estadista a quem a França durante muito tempo confiou o cuidado de sua agricultura e de seu comércio.

Comentei no início que existe uma relação variável entre um esforço industrial e seu resultado; que a imperfeição absoluta consiste em um esforço infinito sem nenhum resultado; a perfeição absoluta em um resultado ilimitado sem nenhum esforço; e a perfectibilidade na diminuição progressiva do esforço em comparação ao resultado.

Mas o Sr. d’Argout nos diz que há morte onde pensamos perceber a vida, e que a importância de qualquer ramo da indústria está em proporção direta com sua impotência. O que devemos esperar, por exemplo, do cultivo da beterraba? Você não vê que 48.000 hectares de terra, com capital e trabalho manual em proporção, são suficientes para abastecer toda a França com açúcar? Então este é um ramo da indústria de utilidade limitada; limitada, é claro, com referência à quantidade de mão de obra que exige, a única forma pela qual, segundo o ex-ministro, qualquer ramo da indústria pode ser útil. Esta utilidade seria ainda mais limitada se, devido à fertilidade do solo e à riqueza da raiz da beterraba, pudéssemos colher de 24.000 hectares o que atualmente só obtemos de 48.000. Oh! Se fossem apenas 20 vezes, 100 vezes, mais terra, capital e mão de obra necessários para nos render o mesmo resultado, tanto melhor. Poderíamos construir algumas esperanças neste novo ramo industrial, e ele seria digno de proteção estatal, pois ofereceria um vasto campo à nossa indústria nacional. Mas produzir muito com pouco! Este é um mau exemplo, e está na hora da lei intervir.

Mas o que é verdade em relação ao açúcar não pode ser diferente em relação ao pão. Se, então, a utilidade de qualquer ramo da indústria deve ser estimada, não pela quantidade de satisfação que nos é proporcionada por certa quantidade de trabalho, mas, pelo contrário, pela quantidade de trabalho que ela demanda para nos proporcionar uma determinada quantidade de satisfação, o que evidentemente devemos desejar é que cada acre de terra produza menos milho, e cada grão de milho proporcione menos nutrição; em outras palavras: que nossa terra seja comparativamente estéril; pois, então, a quantidade de terra, capital e trabalho manual que seria necessário para a manutenção de nossa população seria muito mais considerável; poderíamos, como consequência, dizer que a demanda de trabalho humano seria em proporção direta a esta escassez. As aspirações dos senhores Bugeaud, Saint-Cricq, Dupin e d’Argout seriam, como resultado, satisfeitas; o pão seria caro, o trabalho abundante e a França rica—rica ao menos no sentido em que estes senhores entendem o termo.

O que devemos também desejar é que a inteligência humana seja enfraquecida ou extinta; enquanto ela sobreviver, se esforçará continuamente para aumentar a proporção que o fim carrega para os meios, e que o produto carrega para o trabalho. É precisamente nisso que consiste a inteligência.

Assim, parece que o sisifismo tem sido a doutrina de todos os homens a quem foram confiados nossos destinos industriais. Seria injusto culpá-los por isso, no entanto. Este princípio guia os ministros apenas por ser predominante nas Câmaras; e ele predomina nas Câmaras apenas por ser para lá enviado pelo corpo eleitoral, e o corpo eleitoral está imbuído dele apenas porque a opinião pública está também com ele saturada.

Acho correto repetir aqui que não acuso homens como os senhores Bugeaud, Dupin, Saint-Cricq e d’Argout de serem absolutamente, e em todas as circunstâncias, sisifistas. Certamente não o são em suas transações particulares; pois nelas sempre desejam obter por meio de troca o que lhes custaria mais caro obter por produção direta; mas afirmo que eles são sisifistas quando impedem o país de fazer o mesmo.


[1]      Por esta razão, e por uma questão de concisão, o leitor nos perdoará por designar este sistema na sequência pelo nome de sisifismo. (Sísifo na mitologia grega foi condenado, como castigo por sua maldade na vida, a rolar uma grande pedra para cima de uma colina alta, que, sempre que chegava ao topo, rolava novamente para baixo, e assim tornava sua tarefa interminável).

[2]      1 hectare = 2 acres, 1 rood, 35 perches.


Texto traduzido por Gabriel Camargo, adaptado por José Aldemar.

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